Jackie Stewart: "o que eu teria feito diferente"

Em entrevista à revista Car And Driver, o tricampeão de Fórmula 1 fala sobre sua dificuldade de aprendizagem, sua campanha para a segurança dos pilotos, e a confusão que se tornou a Jaguar Racing.

Parabéns por entrar no Hall of Fame da Indy.

Obrigado. Isso é muito bom. Eu não ganhei a corrida em 1966, obviamente, mas eu estava liderando apenas duas voltas, com oito voltas para o final, quando a bomba de óleo pifou. Eu ainda terminei em sexto lugar e ganhei o Rookie of the Year, eu ainda tenho o troféu. É um dos poucos que guardei.

Naquela época, os pilotos podiam correr de qualquer coisa, não podiam?

Fórmula 1, Fórmula 2, Can-Am, Touring Cars, GT cars... é como se ganhava dinheiro naquela época. Você podia pegar dez mil dólares e correr de Ford Capri. Eu acho que os pilotos de Fórmula 1 moderna perderam isso. Eles recebem uma quantidade enorme de dinheiro, mas não fazem nada parecido com o que fazíamos naquela época.

O senhor cresceu com dislexia não diagnosticada. Achas que isso é o que te deu determinação para obter sucesso?

Minha educação é a maior perda da minha vida, eu sou completamente ignorante por padrões tradicionais. Naquele tempo, se você tivesse uma deficiência de aprendizagem, você era humilhado e perdia sua auto-estima. No entanto, quando eu sou bom em alguma coisa, eu era determinado a vencer, se estava trabalhando de frentista ou ganhando concursos de tiro na Escócia e Grã-Bretanha. De uma forma engraçada, os disléxicos têm uma vantagem sobre o povo inteligente, porque toda gente inteligente desce a mesma avenida, e ela sempre está muito congestionada.

O senhor conquistou três títulos na Fórmula 1. Isto mostrou que o senhor era alguém especial, certo?

Nunca pensei nisso. Nunca pensei que era o melhor piloto. Não podia acreditar que estava fazendo os mesmos tempos de volta que Bruce McLaren ou Jim Clark.

O senhor também ficou famoso pela sua campanha pela maior segurança, forçando o cancelamento de GPs. É certo dizer que algumas pessoas morreram como parte do esporte?

Quase certo. Nunca houve qualquer acesso de raiva quando alguém morria, só tristeza. Não havia soluções, só conformismos. E ninguém fazia nada, só dizia "como vamos parar isto?". A diretoria não fazia nada, os proprietários das pistas não faziam nada, os donos de equipes não faziam nada, pois isto custava dinheiro. Perdíamos colegas de pista na razão de quatro a oito pilotos por ano. Se você corria cinco campeonatos completos, você tinha 67% de chances de morrer, isto era ridículo.

O senhor se aposentou em 1973 como atual campeão. Já foste tentado a sair da aposentadoria como Michael Schumacher fez?

Nem por um milissegundo. Eu acho que Michael se aposentou muito cedo, ele estava tendo agravamentos reais pela primeira vez, e sem saber o que faria depois. Quando me aposentei, já estava integrado na Ford Motor Company, na Elf e na Goodyear. Eu tinha uma enorme quantidade de coisas estimulantes e emocionantes a fazer.

Seguindo em frente, como o senhor conseguiu convencer a Ford a comprar a equipe de Fórmula 1 que já tinha te pago para gerenciá-la?

Eu não achava que poderíamos encontrar o dinheiro necessário para o próximo passo, para competir com McLaren e Ferrari. Estávamos com cerca de 20 milhões de dólares para o primeiro ano, que subiu para talvez 28 milhões, mas precisávamos de 70 ou 80 milhões para fazer frente naquela época. E eu acho que a Ford pensou que a marca Stewart foi ficando maior do que a marca Ford na equipe, o que não era verdade, então, eles compraram a equipe inteira, por um monte de dinheiro.

A Ford transformou a Stewart GP em Jaguar Racing, que teve uma existência desastrosa, então, vendeu-a à Red Bull, que foi consideravelmente melhor sucedida...

Foi muito triste. It was very sad. A Jaguar Racing] não pôde dar um passo à frente sem falar com Detroit. Eles tentaram gerenciar a equipe como se fosse a Ford Motor Company, com um comitê. No final das contas, a melhor coisa que aconteceu foi a venda à Red Bull, que fez e continua a fazer um trabalho fantástico.

Para finalizar, o que o senhor teria feito diferente?

Eu teria trabalhado mais na segurança. Teria levado isto a uma outra dimensão. Mas estaria chegando no limite, não teria feito muito mais do que eu consegui fazer. Quando me aposentei, tinha sido tão agressivo ao fazer isso que cheguei a pensar que não teria gostado do resultado.

Algum arrependimento?

Não, não realmente. Estou muito feliz. Sou tão privilegiado que tudo correu da maneira que pensei. Ainda sou parte do sistema, ainda estou aproveitando, ainda estou vivendo automobilismo. E na minha idade, com as pessoas que conheço, meu caderno de endereços precisa ser um dos melhores do mundo.

O texto original pode ser conferido clicando aqui.

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