O que o senhor fazia até os 24 anos, antes de sua primeira experiência como piloto de fábrica?
Trabalhava para a Igreja Católica, na administração de uma fazenda. Isto envolvia muitos quilômetros dentro de um carro. Só em um ano, percorri 120 mil km. Dirigia um Mercedes-Benz enorme, movido a diesel. Era muito lento, mas me ensinou a olhar além da reta, aproveitá-la ao máximo para frear o mínimo possível antes da curva, então eu conseguia desenvolver velocidade. Foi uma boa escola para mim.
O senhor pilotou carros da Audi durante o notório período do Grupo B de rali. Também encara isto como o ápice da categoria?
Pela emoção e pela força, sim. Normalmente, as pessoas dizem que se você tem muita potência, é fácil vencer, mas isto não se aplica no rali. É muito mais fácil ter menos potência se todo mundo tem a mesma. Só que, para mim, era perfeito. Aqueles carros de 500 CV, com tração nas quatro rodas, era só apontar o carro na direção que queria e acelerar. Era preciso mais habilidade quando se tinha tração apenas nas rodas traseiras. O meu carro favorito de tração traseira era o Lancia 037, com 325 CV e 959 kg, era preciso como um carro de Fórmula 1.
Para mim, foi ruim mesmo quando o Grupo B foi cancelado. A grande vantagem da categoria é que eu não precisava prestar muita atenção ao co-piloto. Eu tinha 90% do trajeto mentalizado no cérebro. Não precisava muito das pace notes. Só que os espectadores eram algo que eu não consigo entender até hoje. Eu vejo os filmes da época e eu me choco com o que eu tenho feito, é sobre passar com o carro tão perto das pessoas. Depois de cada rali, eu dizia "qualquer dia destes, ainda mato umas cinco pessoas". Podíamos saltar com os carros, eles eram resistentes, mas se algo acontecesse, uma falha mecânica ou erro humano, e alguém causasse um acidente, ele se tornaria um desastre.
O senhor sempre foi seletivo com relação aos patrocinadores. É verdade que chegaste a recusar uma proposta de uma fabricante de cigarros?
Sim, da Rothmans. Eles falaram comigo sobre a possibilidade de produzir um filme promocional da marca antes do Rali de Monte Carlo. Eu disse que, se vencesse a prova, poderia fazer, mas nosso relacionamento não passou de um aperto de mãos. Sempre disse a todo mundo que não se deve fumar.
Antes de tudo, foi uma pouquinho apavorante semana. Tive apenas 30 minutos para conhecer o trajeto, mas adorei. Assim como nas estradas, você é penalizado se cometer um erro. Não gosto de autódromos, pois pessoas malucas podem andar rápido e errar, podem voltar à pista e voltar a andar rápido. Não é como em ralis e nem em Pikes Peak. Para mim, a experiência em autódromo não produz a mesma satisfação que vencer um rali. Tenho 10 minutos para andar rápido e não cometer erros. É mais interessante para mim.
Depois do Rali, você partiu para os circuitos, participou da Trans-Am com um Audi 200 Quattro de 510 CV. Aquilo deveria ter tornado a experiência em autódromo fascinante para o senhor, não?
Nunca tive a mesma satisfação de correr em autódromo como tive em um estágio de rali. Bem, talvez em uma oportunidade, em 1988, nas Cataratas do Niágara. Era um circuito de rua, muito ondulado, duas horas e meia passando rente aos muros de concreto. Lembrava um pouco os ralis. Eu me recordo que, após os treinos livre, alguém disse "você viu aquele alemão? Ele anda muito perto dos muros. Não vai durar três voltas". O resultado? Coloquei volta volta em todos, menos no Scott Pruett, e venci a prova. Foi realmente o único momento em que fiquei contente por correr em circuito fechado.
Não me recordo quantas, foram milhares. Não é como a maioria dos circuitos. Se você comete um erro, é guard-rail ou árvore. Se todos os autódromos fossem como o Nürburgring Nordschleife, poderia ser um piloto de autódromos. Se você quiser fazer um carro perfeito, deve testá-lo lá, por isso que também funciona com a Porsche. Eu nunca fico entendiado no Nürburgring Nordschleife. Toda volta é um desafio.
O senhor planeja uma aposentadoria?
Eu estou pensando sobre isso. Estou com 70 anos e ainda sou maluco, mas sinto que a hora de parar está chegando. Já fiz a primeira etapa, que é parar de correr no Nürburgring Nordschleife. Depois de 45 anos de carreira, ainda me sinto inteiro, pode ser que já seja a hora de ficar um pouquinho quieto.
O que o senhor teria feito diferente?
Eu estava há muito tempo com a Opel, foi um erro. Quando conquistei meu primeiro título, o Campeonato Europeu, eu pensei "não posso sair agora". Só que o carro era inútil e eu gastei dois anos nele. O resto estava perfeito. As pessoas perguntavam "você teve a chance de ser campeão cinco ou seis vezes, mas por que o senhor não fez mais ralis?". Eu respondi que eu não queria ser campeão mais de uma vez, eu só queria vencer o Rali de Monte Carlo. Foi uma meta estabelecida na minha vida. O resto não era nada para mim.
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