Peter Brock: "o que eu teria feito diferente"

Peter Brock
Peter Brock desenhou o Shelby Daytona Cobra Coupé, o 1963 Corvette Stingray, viu Alejandro de Tomaso abusar de seus trabalhadores e virou rival de Carroll Shelby. Em entrevista à revista Car And Driver, Peter fala desses e outros assuntos.

O senhor esteve no Art Center?

Entrei pela porta dos fundos, sentei-me em algumas classes, e fiquei encantado. Eles disseram: "Isto é profissionais ensinando profissionais, você tem que mostrar-nos o seu portfólio". Eu não sabia do que se tratava. Então eu sentei no meu carro por 90 minutos, desenhei alguns pequenos carros, voltei e disse: "é isso que você precisa?"

Como sua família o ajudou?

Minha mãe queria que eu fosse um arquiteto.

O senhor ajudou a estilizar o Corvette C2?

Na GM, chamamos o precursor desse carro de "Stingray Racer". Fiz um esquete em novembro de 1957 e Bill Mitchell disse: "esta é a direção que queremos tomar". O meu esquete foi quase idêntico ao carro que surgiu em 1963. Tony Lapine e Larry ­Shinoda deram os últimos retoques.

Quando o senhor trabalhou para Carroll Shelby, a equipe foi cética em relação ao seu ­Daytona Cobra Coupé?

Por um tempo, eles se recusaram a trabalhar com ele, pensaram que era feio, chamaram-no de "loucura de Brock" ou "pedaço de merda". Mas, então, foi 3,5 segundos mais rápido do que o Cobra roadster em Riverside. Carroll disse: "eu quero que todos ajudem a construir este carro para Daytona". É assim que o carro tem o seu nome, era apenas "Daytona Car". Os próximos cinco cupês foram construídos em Modena, de 1964 a 1965. Os italianos me disseram: "isso é uma coisa terrível para o futuro".

Shelby duvidou da aerodinâmica do Coupé?

Ele tinha Benny Howard, famoso engenheiro aeronáutico. Benny disse: "não vai funcionar, toda essa besteira em torno do teto". Eu disse a Carroll: "Benny sabe sobre aviões, não sobre carros". Carroll olhou-me nos meus olhos e disse: "é melhor você estar certo".

Nunca comprou um para o senhor?

Gostaria. Aquele primeiro carro, da California, que bateu recordes oficiais da FIA com Craig Breedlove, em Bonneville. O sal pegou tanto no carro que os farois caíram. De volta à loja, Carroll disse a nós: "alguém quer comprá-lo por 800 dólares?". Ninguém quis.

Como Carroll Shelby foi como chefe?

Bem, ele poderia ser suave com mulheres. Jacque Passino, da Ford Racing, disse uma vez para mim: "aquele velho, fazendeiro de galinhas, é tão burro que eu tenho que ter três advogados em torno de mim ou eu vou perder o meu dinheiro e minhas calças". Carroll era um bom piloto, mas não sabia muito sobre carros, tanto que ele se cercou de caras que faziam os carros para ele. Ele foi seletivo no que ele tentou, então ele se tornou o cara que sabia o que estava fazendo. Ele poderia falar em um sotaque do Texas tal qual ninguém entenderia uma palavra, aí ele voaria para Detroit e falaria inglês perfeitamente.

Os senhores tiveram uma disputa ferrenha?

Eu tinha um contrato com a Toyota para correr em alguns 2000 GT em 1967, mas Carroll se intrometeu no negócio. Nunca admitiu isso e nunca se desculpou por fazer isso comigo. Nós nos tornamos inimigos, realmente, não nos falamos por 20 anos.

Porque não se tornou outro Chip Ganassi ou Carl Haas?

Foi duramente intencional da minha parte. Minha equipe queria ir à Indy ou F5000. Quando nosso carro da F5000 teve perda total em Atlanta, foi o fim da minha ambição por corridas.

De todas as coisas que inventou e criou, qual sua favorita?

Fiz alguns bons planadores, que ganharam campeonatos mundiais de cross-country. Além, claro, de ganhar um título mundial com o Cobra.

Como foi o industrial Alejandro de Tomaso?

Na sua fábrica, onde ele fabricou o F70, uma criação minha, ele disse "veja isto!" e começava a gritar o máximo que podia para os trabalhadores até que eles iam se encolhendo. Em seguida, ele me dizia: "interessante, não? Essa é a maneira como você faz as coisas". Enzo Ferrari, Colin Chapman, Jack Brabham, todos faziam a mesma coisa. Caras daquela época eram exímios filhos da puta. O único cara que eu trabalhei que não era assim foi Dan Gurney. Educado, tinha um sorriso para todos.

Ainda desenha carros para se divertir?

Sim, mas com lápis e papel. Sem computadores. Fazer à mão é a única maneira de ober formas que ficam boas em qualquer ângulo.

Há alguma coisa que o senhor teria feito diferente?

Quando eu estava na Shelby, desenhei um 427 Daytona Coupé mais largo, com novos pneus e suspensão, para ser construído na Itália. No entanto, devido à política da Ford, acabou sendo feito na Inglaterra. Eu não estava no controle. O carro ficou muito feio, uma história de terror! Quando eu o vejo, dá vontade de correr e me esconder em qualquer canto.

O texto original pode ser conferido clicando aqui.

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