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Review de CD: Days Go By - The Offspring

Se existe uma banda de punk rock que consegue ser respeitada por todas as tribos, não só pela atitude mas também pelos ótimos músicos que são, essa banda é o Offspring. A banda já tem mais de 20 anos de estrada e parece que nunca envelhece. Porém, tanto respeito gera muitas expectativas exageradas.

E esse justamente é o ponto negativo de ser uma banda extremamente respeitada: os fãs são conservadores. Exemplo disso é o Metallica, que é massacrado pelos seus lançamentos experimentais de 96 a 2004 (coinciência ou não, Bob Rock produziu esse disco). A cada lançamento, os fãs esperam escutar um novo Ignition, um novo Smash, um novo Americana. Porém, cá estamos em 2012, com os caras mais velhos e mais maduros musicalmente. O que nos leva a Days Go By, que desde o seu anúncio, vem causando uma polêmica.

O primeiro single lançado foi a faixa-título, que é uma música bem pop e estradeira, típica coisa que o Bon Jovi faz muito. E como já não bastasse os fãs soltarem fogos rede afora (a ponto de sair a maior tolice já escrita na internet, de que eles queriam imitar o Foo Fighters), o segundo single, 'Cruising California', flerta e satiriza com a música pop enlatada atual. Foi aí que o pau da barraca foi chutado e muita gente estava quase decretando o fim da banda. Até que o álbum saiu, e sinceramente, todos estavam errados.

Ao dar o play em Days Go By, ele já apresenta de cara a porradeira 'The Future is Now', um grande 'cale-a-boca' a todos os pseudo-críticos. Pegada rápida, grande refrão, fórmula que os caras sabem fazer muito bem.

'Secrets from the Underground' vem na sequência. Uma das melhores faixas do play com certeza. Bem inspirada em 'The Kids Aren't Alright', com mais um refrão pra cantar junto nos shows até ficar sem voz.

A terceira é a faixa-título, lançada como primeiro single. Vou ser sincero: me surpreendi quando essa faixa saiu, de uma maneira positiva. É uma música que mostra o quanto a banda evoluiu, criou versatilidade e pode encaixar seu som em qualquer estilo de música. Excelente música e letra (sim, prestem atenção).

'Turning Into You' flerta com algumas programações eletrônicas no início, mas leva o ouvinte em terras familiares logo em seguida, quando cai no punk rock já conhecido do grupo. 'Hurting As One' já é mais porrada, típica para 'mosh pit' nos shows.

Agora começa o que eu chamo de "trinca polêmica". Começando com o segundo single desse álbum 'Cruising California (Bumpin' In My Trunk)', o grande motivo da chacota. Parece alguma música da Katy Perry, só que disputando espaço com as guitarras e bateria, com direito a autotune na voz de Dexter e uma melodia que gruda mais que cola de sapateiro. Vou ser franco: eu gostei da música. Claro que não é nenhum clássico, mas quem conhece o Offspring sabe da tradição de flertar com estilos musicais alheios da moda. Não foi nenhum crime dos caras.

Já 'All I Have Left is You' não tem nada de engraçadinha, pelo contrário. Uma música bem mais calma, com direito a piano e batidas eletrônicas. É como se o Coldplay resolvesse botar um pouco mais de peso no seu som. Mesmo assim, é uma excelente música.

A zoação agora é explícita em 'OC Guns'. Se você sentia saudade das levadas mexicanas de Americana, elas voltam aqui, com direito até a palavrões em espanhol. É praticamente um 'reggae mariachi'.

O disco volta nos eixos com o remake de 'Dirty Magic', música gravada originalmente no álbum 'Ignition' (1992), que completa 20 anos esse ano. Não mudou muita coisa da versão original, mas ficou uma excelente versão.

'I Wanna Secret Family (With You)' é uma das faixas mais animadinhas do álbum. E pra fechar o tracklist, nada melhor que duas porradas, 'Dividing by Zero' e 'Slim Pickens'.

Days Go By cumpriu o seu papel no ano de 2012: trazer o que os fãs do Offspring gostam, mostrando uma banda crescida e madura, que ainda consegue fazer ótimas músicas e se encaixar em diversos estilos. Seja punk, pop, metal... a banda ainda tem muita lenha pra queimar.

Whiplash

Review de EP - Beyond Magnetic - Metallica

Capa do álbumDepois da polêmica parceria com Lou Reed, muitos fãs pensaram que o futuro do Metallica estava escrito, pois realmente a parceria pegou todos de surpresa ainda mais que envolvia o nome Metallica no meio e o que mais desapontou os fãs nem foi tanto a parceria, mas sim a sonoridade apresentada que não traz nenhum tipo de emoção a não ser o sentimento de "raiva" entre os fãs da banda.

Devido a esta grande polêmica, onde muitos consideraram o tenebroso "Lulu" (2011) como um lançamento do Metallica, James Hetifield (vocal e guitarra), em várias declarações, já deixou bem claro que "Lulu" não é o novo álbum do Metallica e nem é como o Metallica soará no seu novo trabalho, ao meio desta discussão sem fim o Metallica liberou o EP "Beyond Magnetic" (2011) onde são quatro musicas que não entraram no "Death Magnetic" de 2008, canções que foram apresentadas nos shows de 30 anos de existência da banda onde foram quatro apresentações e em cada uma tocando uma música inédita.

"Hate Train" abre o EP no melhor estilo Metallica dos anos 90 com uma levada que lembra as composições mais rápidas de "Reload" (álbum de 1997), mas não deixe se enganar, pois temos riffs inspiradíssimos e uma melodia vocal de encantar, com um refrão que gruda na cabeça e um fato surpreendente: Kirk Hammett solando sem usar o "HUA HAUA", um ponto positivo pois nos últimos anos estava abusando demais deste recurso, fazendo seus solos ficarem praticamente iguais.

"Just A Bullet Away" vem na mesma levada, porém com uma simplicidade maior nos riffs, mas não menos cativante mostrando que uma simples composição pode se tornar grandiosa. Mais uma vez destaque a James com suas melodias vocais inspiradíssimas e desta vez Lars Ulrich (bateria) e Robert Trujillo (baixo) em total sintonia, apesar de Lars não ter mais aquela pegada dos anos 80, mas é um baterista que posso dizer que é único, com assinatura em tudo que toca, pois ao tocar uma simples nota você já diz "é o Lars" e isso é um diferencial para o Metallica ao longo desses 30 anos. Comprove você mesmo nesta faixa se não temos aqui todas as assinaturas do mestre Ulrich.

"Hell And Back" poderia muito bem ter entrado em "Load" de 1996 ou "ReLoad", pois lembra muito as composições desta época com riffs limpos e uma certa acelerada para o final com uma melodia mais comercial, mas sem tirar o brilho da composição que com certeza deve soar muito bem ao vivo.

E por fim a música que lembra mais o Metallica dos anos 80: "Rebel Of Babylon". Com riffs palhetados, solos e duetos criativos, Trujillo segurando a cozinha com precisão, Lars sentando o braço literalmente aliado as vociferações mais do que inspiradas do mestre James Hetifield, realmente uma música que deve funcionar muito bem ao vivo e trazendo à tona aquele Metallica inspirado e criativo.

O Metallica realmente não precisa provar nada para ninguém, falar do seu legado e as bandas a quais influenciaram ao longo desses 30 anos é chover no molhado, ai está a prova que a banda tem muita lenha para queimar e podemos sim esperar um verdadeiro álbum Metallica.

Tracklist:
1 - Hate Train
2 - Just A Bullet Away
3 - Hell And Back
4 - Rebel Of Babylon

Formação:
James Hetfield (vocal e guitarra)
Kirk Hammett (guitarra)
Robert Trujillo (baixo)
Lars Ulrich (bateria)

Whiplash

Review de CD: Neighborhoods - Blink-182

Fundada pelos amigos de infância Mark Hoppus e Tom DeLonge em 1992, o Blink-182 tournou-se um dos ícones do chamado "pop punk" nos anos 90 e primeira metade dos anos 2000, criando uma legião gigante e muito fiel de fãs ao redor do mundo com suas letras irreverentes, batidas rápidas (muito influenciadas pelo Hard Core californiano) e clipes bem humorados com sátiras e zoações a outros artistas e a eles mesmos. Até 1998 a banda contava com Scott Raynor no comando das baquetas mas, a partir do ano seguinte o ultra criativo Travis Barker passou a ser baterista do grupo. Nessa mesma época a banda alcança fama mundial com "Enema Of The state".

Passada a turbulência do "hiato indefinido" da banda, que durou 5 anos (de 2005 a 2010), com um, até então, triste desfecho na amizade que sempre permeou a história do grupo (por conta de brigas entre Mark e Tom) e da quase morte de Travis Barker em um acidente de avião (que vitimou fatalmente seu grande amigo, "DJ AM!" em 2009 e foi o fator que aproximou o trio novamente) o Blink-182 volta com tudo e lança o esperadíssimo "Neighborhoods", 6º disco da carreira do grupo e um dos CD's mais aguardados de 2011.

O primeiro single do CD, a ótima "Up all night", tem um refrão muito bem construído e riffs pesados de guitarra que, junto a levada "hipnótica" de bateria na intro fazem dessa uma das melhores faixas do trabalho. "Ghost on the floor", música de abertura do álbum, é outro grande destaque por ser uma música muito carismática. Essas duas canções e faixas como "After midnight" remetem ao trabalho anterior do grupo, o álbum "self-titled" de 2003 e a algumas coisas que Tom testou em sua outra banda, "Angels and Airwaves".

Faixas como "Hearts all gone" e "Natives" lembram coisas que a banda ja havia feito, mas você sente uma diferença, talvez pelas incursões de teclado ou pelo timbre de guitarra menos "gritante" do que antes. "Wishing Well" remete a "Going away to college" (música presente no 4º álbum da banda, o já citado "Enema of the state") e tem mais uma das levadas de bateria insanas de Travis Barker.

Cuidado ao ouvir "Love is dangerous", essa não ficou como última faixa do play por acaso: é a mais experimental de todas, com sua levada levemente influenciada pelo pop europeu e uma certa dose de "anos 80" com certeza não agradará os fãs mais radicais e convervadores da banda, mas não deixa de ser uma boa canção. Tirando essa possível "surpresa", o álbum transcorre de maneira agradável e linear (o curto tempo de duração total do play também contribui para isso).

O Blink-182 foi (e é) uma das bandas mais legais e adoradas de muitos que viveram sua adolescência no final dos anos 90 e começo dos 2000. A todos esses que, como eu, ficaram muito tristes com o aparente fim da banda em 2005, aqui vai o recado: se você esperava ouvir em "Neighborhoods" uma repetição do que a banda ja fez no passado, principalmente em seus primeiros registros, talvez a decepção seja iminente. As características da banda estão la: refrões pegajosos, as levadas criativas e insanas de Travis (com certeza, um dos melhores bateristas de rock em todos os tempos) e duetos
entre Tom DeLonge e Mark Hoppus, que dividem os vocais no álbum todo. Porém, a banda imprega novas influências e experiências, mostrando que amadureceram sua forma de compor, não ficando no mesmo lugar e reinventando o seu próprio estilo. Felizmente eles obtiveram êxito nessa empreitada.

Tom DeLonge - Vocal e guitarra
Mark Hoppus - Vocal e baixo
Travis Barker - Bateria

1. "Ghost on the Dance Floor" 4:17
2. "Natives" 3:55
3. "Up All Night" 3:20
4. "After Midnight" 3:25
5. "Heart's All Gone" 3:15
6. "Wishing Well" 3:20
7. "Kaleidoscope" 3:52
8. "This Is Home" 2:46
9. "MH 4.18.2011" 3:27
10. "Love Is Dangerous" 4:27

Whiplash

Review de CD: High Flying Birds - Noel Gallagher

Capa do ÁlbumPrincipal compositor e força criativa do Oasis, Noel Gallagher estreia a sua carreira-solo após o final da banda em 2009, motivada pelas eternas brigas com seu irmão Liam. Enquanto Liam Gallagher reuniu os demais integrantes do grupo e montou o Beady Eye, que colocou o seu primeiro álbum nas lojas em fevereiro desse ano, Noel isolou-se do mundo.

A primeira coisa que fica clara ao ouvir "High Flying Birds" é que trata-se de um disco com uma sonoridade muito mais refinada do que a presente na estreia do Beady Eye. Isso não é nenhuma surpresa, afinal as composições de Noel sempre se destacaram pelas melodias de bom gosto e pelos arranjos inteligentes, enquanto Liam era o lado mais rocker e urgente do Oasis.

Produzido pelo próprio Noel e por Dave Sardy, responsável pelo último álbum do Oasis – "Dig Out Your Soul", de 2008, "High Flying Birds" não é um álbum inovador, pelo contrário. O disco segue exatamente tudo o que Noel fazia no Oasis, retiradas da receita, obviamente, a participação dos demais músicos e as brigas familiares que pareciam alimentar a banda. O que temos aqui é um álbum que, ao contrário do Beady Eye, cairá como uma luva na vida dos órfãos de uma das maiores e mais importantes bandas do rock inglês da década de 90.

O disco prova o que muitos já sabiam: Noel Gallagher era a alma e o coração do Oasis. As dez faixas, embaladas pela voz única de Noel, formam o melhor trabalho do vocalista e guitarrista desde "(What's the Story) Morning Glory?", o disco lançado em 1995 que levou o Oasis ao topo do pop.

Há obras-primas em "High Flying Birds". O primeiro single, "The Death of You and Me", é uma das maiores. "Dream On" segue o mesmo caminho, em uma balada com sabor sessentista e pequenos toques de psicodelismo que nasce com cara de clássico. "(I Wanna Live in a Dream in My)" tem um que de "Champagne Supernova", principalmente no solo.

Mas, ao mesmo tempo em que refina aquilo que sabe fazer de melhor, Noel às vezes aventura-se em novos caminhos. A excelente "AKA … What a Life!", com uma batida dançante e um bem sacado piano, é diferente de tudo o que o músico já fez em sua carreira. Os vocais, que se alternam entre o falsete e o registro normal, são os melhores do trabalho.

A influência do Kinks, que pode ser sentida timidamente em "The Death of You and Me", surge esplendorosa em "Soldier Boys and Jesus Freaks". Aliás, essas duas faixas merecem destaque porque trazem, também, uma latente influência dos Beatles, mas de uma forma diferente do habitual. Ao invés da cópia escancarada praticada pelo Beady Eye – e pelo próprio Oasis em alguns momentos -, a presença do Fab Four é constatada através de detalhes nos arranjos, como as insólitas cornetas que martelam a melodia, revivendo o que Paul McCartney e sua turma fizeram em discos como "Sgt Peppers" (1967).

"High Flying Birds" tem cara de coletânea, pois todas as suas faixas são hits latentes, singles a serem descobertos. Isso faz com que a audição do álbum seja extremamente agradável, carregando o ouvinte através de uma coleção de composições da mais alta qualidade.

Faixas:
Everybody's on the Run
Dream On
If I Had a Gun …
The Death of You and Me
(I Wanna Live in a Dream In My)
AKA … What a Life!
Soldier Boys and Jesus Freaks
AKA … Broken Arrow
(Stranged On) The Wrong Beach
Stop the Clocks

Whiplash

Review de CD: Lulu - Metallica & Lou Reed

Não espere uma audição fácil ao dar play em "Lulu", álbum da parceria entre a maior banda de heavy metal do planeta – Metallica – e um dos ícones do rock "com cérebro" - Lou Reed. Concebido para ser uma espécie de trilha-sonora para o teatro de vanguarda, preenchendo o espaço que antes era ocupado por trilhas orquestradas e clássicas, o disco soa como uma espécie de ópera, alternando momentos mais "visuais" com outros mais palatáveis ao ouvinte "normal" de música.

Conceitual, o trabalho conta a história de Lulu, personagem criada pelo ator e dramaturgo alemão Benjamin Franklin Wedekind, uma jovem dona de um desejo sexual infinito e sem restrições que a conduz através de uma jornada repleta de prazer e sangue. Reed havia escrito as letras das canções há alguns anos atrás para uma montagem norte-americana da peça, que acabou não saindo. Agora, essas mesmas letras ganharam o acompanhamento instrumental do Metallica, alcançando um resultado final, no mínimo, controverso.

Pra começo de conversa, é preciso deixar claro que Lulu não é o novo álbum nem do Metallica nem de Lou Reed. O disco é a estreia da parceria entre ambos, portanto não espere encontrar aqui o que o Metallica fez em "Death Magnetic" (2008), por exemplo. Grande parte da força do trabalho está nas letras de Reed, que serão ignoradas pela imensa parcela dos ouvintes que não domina a língua inglesa. Assim, o que importa, para grande parte do público, é a música propriamente dita.

O Metallica soa de maneira inédita em "Lulu". No lugar dos riffs thrash, temos a predominância de jams, ruídos e passagens construídas a partir de feedbacks. Não há o formato clássico do heavy metal, e nem do rock, na parte instrumental do disco. Salvo algumas exceções - como "Mistress Dread", onde a banda soa mais próxima do que os seus fãs estão acostumados -, a maioria das músicas caminha por sons que causarão estranhamento ao ouvinte tradicional de heavy metal. Isso, aliado à maneira peculiar de cantar de Reed – recitando as letras, como se estivesse falando -, realça ainda mais essa sensação. Pra fechar, a duração das músicas – todas longas -, faz com que se feche um casulo em torno dos músicos, impenetrável na maioria das vezes.

Ainda assim, algumas faixas funcionam. É o caso de "The View", primeiro single, onde o Metallica soa bastante similar aos álbuns "Load" e "Reload". Já em "Iced Honey" o que temos é um hard rock interessante, que remete ao ótimo "New York", lançado por Lou Reed em 1989.

O que torna a audição do álbum difícil é o excesso de experimentalismo de algumas faixas. Entendendo o objetivo dos músicos – criar uma trilha para uma peça de teatro, traduzindo nas faixas os diferentes momentos e emoções do roteiro -, fica mais fácil absorver as composições. No entento, algumas delas simplesmente não funcionam sozinhas, sem o acompanhamento de atores em um palco imaginário, por mais fértil que possa ser a imaginação de quem está escutando o disco. É o caso de "Pumping Blood" e "Frustration".

Entretanto, em alguns momentos a transição é feita de maneira suave, sem a exigência de uma barreira intransponível entre a música e o ouvinte. Quando isso acontece, somos brindados por boas faixas como "Cheat On Me" - uma tour de force de mais de 11 minutos -, "Dragon" e "Junior Dad", que não só encerra o trabalho como funciona como um fechamento de tudo o que ele propõe.

"Lulu" não é um disco fácil. Ele não foi feito para ser ouvido de maneira casual. É preciso se concentrar, deixar-se levar pelas mãos de Hetfield e Reed através de suas composições. Desafiador, erra em alguns momentos e acerta em outros. É uma espécie de sinfonia repleta de pretensão, que, definitivamente, não será assimilada por quem vive em um universo musical formado somente por rock e heavy metal. Os ouvintes mais curiosos e já habituados com a música clássica, por exemplo, absorverão muito melhor as ideias propostas, já que elas estão muito mais próximas dos conceitos e variações desenvolvidos pelo gênero do que do formato padrão do metal e do rock.

Vai gerar discussão? Vai. Vai receber críticas negativas? Sim, a maioria. "Lulu" mostra que o Metallica, inquieto por natureza mesmo com os milhões de dólares de suas contas bancárias, continua buscando desafios criativos em sua carreira. Essa atitude, que muitas vezes não é entendida pelos fãs, é extremamente saudável, pois mantém a banda viva artisticamente e não apenas como uma enorme empresa da indústria musical, como muitos gigantes por aí. No final, o Metallica sai ganhando ao experimentar novas sonoridades, assim como Reed, que teve um acompanhamento literalmente de peso para as suas letras.

Ouça, e tire as suas próprias conclusões. Para mim, o saldo é mais positivo do que negativo.

Faixas:

CD 1
Brandenburg Gate
The View
Pumping Blood
Mistress Dread
Iced Honey
Cheat On Me

CD 2
Frustration
Little Dog
Dragon
Junior Dad

Whiplash

Review de CD: III - Chickenfoot

Capa do ÁlbumPra começo de conversa, a música do grupo está mais swingada, tem mais groove, está mais malandra. O alto astral se mantém lá em cima, naquela sonoridade ensolarada característica de todo trabalho que envolve Sammy Hagar. Ao invés de seguir um caminho semelhante ao do primeiro disco, a banda inseriu, corajosamente, elementos de outros gêneros em sua música, como pop, soul e blues, em uma variação que surpreenderá o ouvinte. Dessa maneira, "Chickenfoot III" é um trabalho inesperadamente diversificado, o que poderá decepcionar um pouco quem está esperando um cópia do debut.

A qualidade e a experiência de Hagar, Satriani, Anthony e Smith é um diferencial tremendo, e juntar os quatro em uma mesma banda é covardia. Assim, tudo exala um bom gosto e uma classe difíceis de serem encontradas por aí. Sammy continua sendo uma dos melhores vozes do hard rock, cantando de maneira brilhante. Michael, além de um baixista inquestionável, é dono de um dos melhores backing vocals do som pesado. A banda sabe disso, e usa esse fator a seu favor. E Chad Smith impressiona por tocar, mais uma vez, de uma maneira totalmente diferente daquela que estamos acostumados a ouvir no Red Hot Chili Peppers, reinventando-se de uma forma possível apenas para quem é grande em seu instrumento.

O mais legal no Chickenfoot, porém, é poder escutar um músico do gabarito de Joe Satriani, inegavelmente um dos maiores guitarristas da história, acompanhado por uma banda de verdade e não apenas gravando discos solos instrumentais. A técnica de Satriani é inigualável, e vê-lo usando tudo o que sabe nas composições do Chickenfoot, respeitando as dinâmicas de cada músico e assumindo o protagonismo na hora certa, é sensacional. Ainda sobre a guitarra, vale um comentário: o timbre de Satriani no disco é de outro mundo, com doses certeiras de distorção, porém mantendo um som mais limpo em seu instrumento, que sai das caixas de som de forma cristalina.

Quem curtiu o primeiro disco irá adorar as ótimas "Alright, Alright", "Up Next" e "Big Foot". A banda surpreende ao entrar sem medo no território do soul em "Come Closer", e o resultado é muito positivo. "Dubai Blues", com sua estrutura feita sob medida para a inserção de jams nas apresentações ao vivo, mostra o quarteto em um blues rock clássico, enquanto "Something Going Wrong" é outra surpresa e tanto, uma belíssima faixa contemplativa construída com violões e banjos. Merece menção também "Three and a Half Letters", cuja letra retrata o delicado momento econômico vivido pelos Estados Unidos através de trechos de cartas enviadas pelos fãs para a banda. Sem dúvida, uma maneira inusitada de tratar de um problema que preocupa não apenas os norte-americanos, mas todo o mundo.

"Chickenfoot III" é um excelente disco. Diferente da estreia, com certeza, e por isso mesmo, em diversos momentos, tão surpreendente. O legal é que ele sairá por aqui via Hellion Records, que também lançará o primeiro álbum do quarteto, até então inédito no Brasil, em uma caprichada edição dupla cheia de bônus.

Quem gosta de música, tem que ouvir!

Faixas:
Last Temptation
Alright Alright
Different Devil
Up Next
Lighten Up
Come Closer
Three and a Half Letters
Big Foot
Dubai Blues
Something Going Wrong
(Hidden Untitled Bonus Track)

Whiplash

Review de CD - Music from The Motion Picture - Runaways

A história é sobre essa mesma: The Runaways, a primeira banda de rock pesado da história formada só por mulheres. O filme e a trilha saíram no Brasil, mas com exibição em circuito alternativo de cinema e o CD com cópias limitadas.

Mais para punk e com um toque de heavy metal, The Runaways esteve na ativa entre 1975 e 1979, mas estourou mesmo em 1976 e 1977 com seus dois primeiros álbuns, vividos em pleno furacão punk, com as garotas ainda menores de idade.

A morena Joan Jett queria fazer algo como Suzi Quatro e encontrou o produtor Kim Fowley, que comprou a ideia mas radicalizou, montando um grupo de rock só de mulheres. Mais tarde, foi a vez delas gerarem suas discípulas: inúmeras bandas 100% compostas por mulheres que arrumaram espaço graças a elas e graças a Suzi Quatro e ao sucesso do contemporâneo Blondie, com Debbie Harry no vocal.

O filme é ótimo para quem gosta de história do rock e vale tanto para quem já conhece a banda como para quem quer conferir uma apresentação de quem elas foram. Entretanto, ele conta a história da banda apenas em sua fase embrionária e depois inicial, com Cherie Currie nos vocais (do nome dela veio o primeiro hit "Cherry Bomb" e a arte da capa, a "cereja explosiva"). E a trilha também convence, trazendo gravações dos Pistols, Bowie, Suzi Quatro, Stooges e MC5.

Uma curiosidade é que, no disco, as atrizes Kristen Stewart, que interpreta Joan Jett, e a badalada Dakota Fanning, interpretando Cherie, cantam duas músicas juntas e Dakota assume outras duas do repertório sozinha. E o resultado agradou! Ficou bem dentro do estilo da banda e com qualidade de gravação superior aos takes do original. Mas você vai descobrir porque isso aconteceu ao ler atentamente os créditos no encarte: é a Joan Jett em pessoa que faz as guitarras, com alguns backing vocals da própria Cherie também (então está explicado!).

Já as gravações originais com as Runaways que estão no cd são: "You Drive Me Wild", "Hollywood" e uma versão ao vivo para "I Wanna Be Where The Boys Are". Nos créditos finais do filme também toca "Bad Reputation" (essa é de Joan Jett and The Blackhearts), infelizmente, a música não entrou na trilha desse cd.

Quem já conhece o grupo sabe que, apesar de tudo funcionar, as meninas não eram excelentes instrumentistas. Ao vivo isso transparece mais (ver LP "Live in Japan", lançado em 1977, por exemplo). Mas devemos dar um desconto, pois na época das gravações originais o padrão que vigorava era o som quase monocórdico e a atitude punk, então tocar melhor que Sex Pistols já é ponto para elas. Além do mais, Lita Ford e Joan Jett eram adolescentes nas Runaways e depois cresceram muito em técnica ao longo de suas carreiras individuais, então outro ponto para elas.

A vocalista Cherie foi a primeira a sair da banda, que ainda continuou mais um pouco com formação alterada, mas sem convencer. Depois, Joan Jett, a mais badgirl do grupo, saiu para a sua excelente carreira solo e emplacou mais clássicos com Joan Jett and The Blackhearts ("I Love Rock and Roll", "Bad Reputation", etc). Lita Ford também decolou, numa carreira solo num tom mais heavy metal, embora nunca tenha obtido as vendagens do grupo de sua colega Joan.

Para quem não é tão purista, vale procurar pelos CDs de lançamento recente remasterizados. Acontece que os LPs de época, como expliquei, apostavam numa mixagem mais crua, então nas versões novas o som está mais "limpo", sem tanta compressão embolada e distorção de graves exagerada. Mas se você é purista deve ter os exemplares de LP com a mixagem original, pois era assim que elas soavam enquanto viveram seus tempos de Runaways nos anos 1970. Outra opção é se você se enquadra na categoria fã mesmo: então procure ter os dois!

Para quem quer resolver de vez a discografia básica do grupo, lá fora já tem uma versão em CD 2x1 reunindo os dois primeiros álbuns da banda, sem dúvida a melhor da safra das Runaways, com a formação original. O LP "Live in Japan" de 1977, que já tinha virado raridade, também já foi relançado recentemente em cd.

O filme também mostra um pouco do que eram as turnês das Runaways, incluindo o Japão, onde elas estouraram em popularidade.

Lista de Músicas:
1. Roxy Roller - Nick Gilder
2. The Wild One – Suzi Quatro
3. It's A Man's Man's Man's World - MC5
4. Rebel Rebel - David Bowie
5. Cherry Bomb - Dakota Fanning
6. Hollywood - The Runaways
7. California Paradise - Dakota Fanning
8. You Drive Me Wild - The Runaways
9. Queens Of Noise - Dakota Fanning & Kristen Stewart
10. Dead End Justice - Kristen Stewart & Dakota Fanning
11. I Wanna Be Your Dog - The Stooges
12. I Wanna Be Where The Boys Are – Runaways (Live)
13. Pretty Vacant - Sex Pistols
14. Don't Abuse Me - Joan Jett

Whiplash

Review de CD - Omega - Asia

Para esse lançamento de 2010, foi mantida a formação clássica – com a coexistência do outro Asia, que virou a banda GPS, do ex vocalista John Payne – e nesse quesito não há nenhuma surpresa, com um entrosamento ainda maior resultando em um trabalho talvez ligeiramente melhor do que seu antecessor "Phoenix", que já contava com tal line-up.

Em relação às faixas, "Finger of the Trigger" é uma boa abertura, animada e que tende mais ao hard rock. "Holy War" parece manter a mesma vivacidade, mas acaba sendo mais reflexiva. "Emily" e "Ever Yours" têm uma linda cadência, com ótima condução do vocalista, assim como em "I’m Still The Same". Já "Listen, Children" tem o conjunto de vozes e o jogo entre as cordas como diferenciais, enquanto "Light The Way" traz certa modernidade e acentua um pouco o lado prog da banda, presente também em "There Was a Time" e seu belo andamento. No sentido oposto ao contemporâneo, "I Believe" retoma um ASIA mais clássico.

Ouvindo na internet, também é excelente, embora diferente, a pegada mais blues de "Drop a Stone", lançada apenas na versão japonesa, o que considero um erro por ser tratar de uma faixa muito interessante.

No geral, um bom disco dos veteranos do ASIA. Ao ouvir "Omega" é clara a sensação de que as músicas nasceram organicamente e de modo prazeroso. Tudo é muito bem encaixado e fluido. Mais uma vez, embora soe datado, o ASIA continua fazendo muito bem seu rock tradicional, labiríntico e muito bem trabalhado, apesar de se mostrar menos perceptivelmente progressivo. "Omega" – e o ASIA em geral – é um CD para ser ouvido até mesmo por quem não gosta do rock mais pesado, pela suavidade e elegância dos instrumentos, mas é, principalmente, recomendado aos amantes desse AOR carismático dos britânicos.

Integrantes:
John Wetton – vocais, baixo
Steve Howe – guitarra
Geoff Downes – teclados
Carl Palmer – bateria

Faixas:
1. Finger on the Trigger
2. Through My Veins
3. Holy War
4. Ever Yours
5. Listen Children
6. End of the World
7. Light the Way
8. Emily
9. I'm Still the Same
10. There Was a Time
11. I Believe
12. Don't Wanna Lose You Now
Versão japonesa: Drop a Stone no lugar de Emily

Gravadora: Frontiers Records

Site oficial: originalasia.com

Whiplash

Review de CD - Scream - Ozzy Osbourne

Um funeral em forma de CD? Uma despedida? Um adeus antecipado? Muitas perguntas saltam na cabeça do ouvinte atento de Scream, o novo álbum do criador do heavy metal Ozzy Osbourne. No entanto, pelo menos uma resposta é bem dada nas onze faixas do CD novo, lançado mês passado: o astro do rock n´ roll está em forma, fazendo o som agressivo que contagia e que é esperado por seus fãs.

A peça abre com Let it Die, onde é possível acompanhar o talento confessional de Ozzy aliado à excelente cozinha de baixo e teclado composta por Rob "Blasko" Nicholson e pelo filho do ícone do Yes, Adam Wakeman. "I'm a rock star,I'm a dealer / I'm a servant, I'm a leader / I'm a savior, I'm a sinner, I'm a killer / I'll be anything you want me to be". Osbourne se define com muitos nomes que mostram a sua vida instável. A guitarra do novato Gus G. dá suas primeiras explosões, com acordes mais concisos em relação ao antecessor Zakk Wylde. A voz de Ozzy é modulada no começo para não ser reconhecida, mas, ao longo da canção, ele vai se revelando, entre todas as definições instáveis. E sua mensagem final é "let it go, let it die", isto é, deixe tudo ir embora, morrer.

Com esse tom confessional e se liberando de definições, a guitarra de Gus novamente causa uma explosão em Let Me Hear Your Scream. Feita para tocar em qualquer situação, essa música dá o tom do novo álbum: um simples grito de um rockstar que está na fase final de sua carreira, mas em plena forma. Ozzy quer também ouvir os sons de quem o ouve, e convida as pessoas a lançarem seus gritos. Nesse pedido que, aparentemente, é violento, está também o catarse da sua música, que deve ser apreciada na adrenalina.

Soul Sucker mostra mais claramente o propósito do CD, pois Ozzy confronta seus fantasmas de um passado de abuso de drogas e problemas pessoais. O tom lento traz um pouco de melancolia, mas nosso astro consegue vencer essa assombração. Life Won´t Wait é uma das mensagens mais positivas que Ozzy Osbourne poderia trazer depois de tantos obstáculos à sua sanidade: "When it's gone, it's gone / A fight 'til the bitter end / Life won't wait for you, no / Life won't wait for you, my friend". Essa letra marcante é mesclada entre passagens acústicas e uma guitarra agressiva de Gus G. É a música sobre como resistir, não se render ao que pode te atrasar na vida e, acima de tudo, aceitar a velhice passando a tocha para frente.

Com o emocional à flor da pele, Ozzy lança a pesada Diggin´ Me Down, trazendo questionamentos religiosos. Duvidando da crença cega e das falsas luzes, o vocalista questiona Deus e o próprio Jesus Cristo, orquestrado por todo o instrumental pesado. Crucify estende a crítica do divino aos problemas materiais e toda a sua mentira. A crucificação é o rompimento dos lanços verdadeiros entre as pessoas.

Fearless é uma música que traduz o espírito guerreiro de Ozzy, muitas vezes repleto de crueldade, mas tendo uma outra face de desafio contra os males que o aflingem. A música que se segue é de emocionar ainda mais quem acompanhou a carreira do fundador do Black Sabbath. Em Time, Ozzy Osbourne assume sua derrota diante do tempo, em um clima tão leve quanto Changes, mas extremamente melancólico. A guitarra de Gus G. se une a uma letra que mostra toda a instabilidade de viver. Não se deve fazer as coisas por um futuro e nem viver intensamente o presente. Em tudo, Ozzy enxerga insuficiência, mas que é natural do tempo em si.

I Want it More traduz a vontade do vocalista em viver mais, ao mesmo tempo em que se constata que a vida é insuficiente em si. Latimer´s Mercy parece um pedido de misericórdia para se retornar ao início de tudo. I Love You All é uma faixa de apenas um minuto que traduz a conclusão que Ozzy tirou toda a vida: não é possível viver sozinho. Ele agradece então a todos e diz que os ama. É uma declaração aberta tanto aos fãs quanto aos que o testemunharam de perto.

Ouvir todas essas canções e ver a capa do CD dá realmente a impressão que o compositor Ozzy está, de alguma forma, se despedindo das pessoas. Vestido de sobretudo, com asas e segurando uma bandeira preta, Ozzy Osbourne está pronto para encarar a morte. E ver um trabalho com tamanha ligação com sua vida particular é enriquecedor para seus fãs e para o rock´n´roll como um todo. Um trabalho digno para ser lembrado, embora ninguém realmente queira que a morte o leve.

Whiplash

Review de CD - Slash & Friends - Slash

Sim, já faz algum tempo desde que um guitarrista tímido, escondido em seus cabelos encaracolados e uma cartola, fez uma verdadeira revolução musical junto aos seus amigos baderneiros de banda, o Guns N' Roses.

Depois de deixar a banda, lançar diversos CDs e ainda contribuir com artistas do porte de Michael Jackson; Saul Hudson, mais conhecido como Slash, finalmente deu a cara a tapa em seu primeiro trabalho solo.

Não é de se espantar que esse trabalho seja chamado apenas pelo nome do próprio guitarrista. Afinal, estamos falando de um CD que não vai além de tudo que fez de Slash um ícone do rock: riffs potentes, solos viscerais e distorção "na medida".

O resultado é um CD bom, que conta com vocalistas de peso, como Iggy Pop e Ozzy. No entanto, a surpresa fica mesmo por parte da vocalista do Black Eyed Peas, Fergie. Ao contrário do que muitos possam achar, a moça não deixa a desejar quando o assunto é Rock N' Roll. E que achem ruim os headbangers de plantão!

Destaque também para a faixa "By the Sword", em que Andrew Stockdale, do Wolfmother, canta de uma forma zeppeliana sem igual. Isso sem falar do solo marcante de guitarra, sem dúvida o melhor do CD.

Vale falar ainda da balada "Gotten", que é tão pegajosa que faz você cantarolar fácil a melodia por aí, dessa vez reforçada pela voz de Adam Levine, do Maroon 5.

De resto, temos a faixa olha-como-eu-toco-pra-caralho, que não por acaso se chama "Watch This". Nela, temos a participação de Dave Grohl (Foo Fighters) na bateria, além de Duff, baixista e velho amigo de estrada do guitarrista.

Trocando em miúdos, Slash lançou um CD que não desaponta, mas também não surpreende. Até porque, em matéria de agir fora do combinado, bem, isso fica para Axl Rose. Mas aí já é outra história.

Whiplash

Review de CD - Sting in the Tail - Scorpions

A notícia, que inclusive é confirmada no site oficial do grupo, dá conta de que os alemães vão fazer uma imensa turnê mundial e, no final, pendurar as chuteiras que conquistaram inúmeras vitórias nas arenas de todo o mundo. Descanso até merecido, mas tremendamente injusto para com os fãs, que vão ficar órfãos de uma das melhores coisas que a Alemanha produziu depois da cerveja.

E se tomarmos por base esse novo trabalho, os motivos para lamentar se tornam ainda mais fortes, pois todas as onze faixas que compõem o CD, sem exceção, são muito boas, mostrando aquilo que nos acostumamos a ver no som da banda: uma música forte, emocionante, cheia de feeling e, para completar, com baladas e solos de guitarra maravilhosos.

Logo de cara temos a convidativa "Raised on Rock", com as bases típicas do grupo emolduradas por contagiantes riffs de guitarra e que traz de volta o velhoTalk Box pilotado por Mathias Jabs. A seguinte é a faixa-título, que mantém a cadência firme, com boas bases de guitarra e a voz marcante de Klaus Meine ditando o tom do grupo. A faixa soa com uma pitadinha de hard rock, mas também remete aos velhos tempos e em menos tempo do que imagina você já está cantando junto...O mesmo pode se dizer de "Slave Me", que tem um riff hendrixiano e um refrão feito sob medida para cantar bem alto.

E se existe uma banda que sabe fazer baladas como ninguém ela se chama Scorpions.

Mais uma vez eles mostram que conhecem o assunto e provam com temas inspirados, como "The Good Die Young", que só para variar, tem solos belíssimos e um vocalista sempre pronto para oferecer o melhor. Mais uma canção nota dez.

A cartilha oitentista também dá as caras por aqui. Prova disso é "No Limit", que soa como nos bons tempos, quando o grupo estava no topo do mundo. Música pesada, bem feita e que você começa a cantarolar sem perceber na segunda ouvida. Para mostrar que não perderam nada do seu veneno habitual, a banda emenda com a rápida e pesada "Rock Zone", que não deixa espaço para dúvidas: é para bangear até quebrar o pescoço!

As baladas "Lorelei" e "Sly" seguem a cartilha Scorpiana, com temas cadenciados e guitarras muito bem colocadas, enquanto "Turn You On" vem mais moderna, com cara daquilo que o grupo fez de melhor nos anos 90 (vide "Face The Heat").

"Spirit of Rock" e "Best Is yet To Come" parecem feitas para mostrar para todo mundo que eles não envelheceram e ainda tem muita lenha para queimar. Enquanto a primeira é um banho de energia, a segunda é uma faixa cadenciada, meio balada/ meio rock daquelas que só eles sabem fazer.

Depois de ouvir este álbum resta a certeza de que se eles vão encerrar as atividades, como dão conta os boatos, é por opção da banda (e tristeza dos fãs); jamais pela falta de criatividade de alguns grupos conterrâneos que assassinam seus próprios clássicos para se manter vivos. Sem apelar para “abóboras musicais”, o Scorpions sai da vida para entrar para a história (opa, já ouvi isso antes...) como uma das maiores bandas do planeta. E deixa um epitáfio que pode ser resumido num refrão de música: The Spirit of Rock Will Never Die!!

Eduardo Boni
www.trinkametalwebradio.com
Whiplash

Faixas:
Raised on Rock
Sting in the Tail
Slave Me
The Good Die Young
No Limit
Rock Zone
Lorelei
Turn You On
Sly
Spirit of Rock
Best Is yet To Come

Review de DVD - Orgulho, Paixão e Glória - Metallica

O DVD "Orgulho, Paixão e Glória – Três Noites na Cidade do México", como o próprio título diz, registra a passagem da banda pela Cidade do México, onde se apresentou em 3 shows lotados no Estádio Foro Sol, em 04, 06 e 07 de junho de 2009, mostrando uma compilação dos melhores momentos desses concertos. Aqui em terras tupiniquins, o material foi lançado inicialmente apenas em sua versão mais simples, um DVD único com 19 faixas, trazendo entrevistas e cenas de bastidores entre as músicas. No entanto, existem outras versões lá fora: DVD e Blu-Ray, DVD e mais 2 CDs, DVD duplo e mais 2 CDs, sendo que os CDs trazem as mesmas músicas do DVD simples original e a versão em DVD duplo com o segundo disco trazendo mais 16 músicas (você não leu errado) pinçadas das variações de setlist que a banda faz a cada apresentação. O disco lançado no Brasil apresenta configurações de som em PCM Stereo e DTS 5.1, com legendas em inglês, português e espanhol. O encarte é um livrete com algumas fotos da banda, o track list e informações técnicas sobre a equipe[bb] de produção.

O material inicia com imagens de fãs oriundos de todas as partes do México, além de outros países, eufóricos com a iminência de assistir a uma apresentação ao vivo dos "Four Horsemen", após um período de 10 anos de ausência da banda no país. Quem esteve nos shows da banda no Brasil encontra nesse registro uma apresentação bem próxima do que foi conferido em Porto Alegre e São Paulo recentemente, com palco, efeitos pirotécnicos e até mesmo interação com o público semelhantes ao que aconteceu por aqui. As diferenças maiores ficam no setlist, que traz algumas modificações a cada show.

Após a clássica introdução "The Ecstasy Of Gold", James e cia atacam seu público com uma tríade composta simplesmente por "Creeping Death", "For Whom The Bell Tolls" e "Ride The Lightning". Desnecessário dizer que, a essa altura, além de provocar vários entorses na audiência, a banda já estava com o jogo praticamente ganho. Não bastasse isso, na sequência emendam com "Disposable Heroes" e "One", esta última precedida de um show de pirotecnia, com explosões e fogos de artifício. O caçula "Death Magnetic" é representado nesse DVD por "Broken, Beat & Scarred", "All Nightmare Long" e "The Day That Never Comes". Há espaço ainda para canções da ‘fase dos Loads’, representada por "The Memory Remains", além de sucessos como "Sad But True" e "The Unforgiven". As músicas escolhidas para representar o fim da primeira parte dos shows formam uma sequência excelente, com "Master Of Puppets", "Fight Fire With Fire", "Nothing Else Matters" e "Enter Sandman". No bis, "The Wait", cover do Killing Joke, abre espaço para os clássicos "Hit The Lights" e "Seek and Destroy".

A banda optou por intercalar alguns blocos da apresentação com imagens de backstage, entrevistas e inúmeros depoimentos de fãs, onde todos exaltam a relação de devoção que têm para com o grupo. Com isso, são geradas desde imagens constrangedoras até outras emocionantes. Podemos acompanhar a trajetória de fãs desde suas casas até o local da apresentação, ver declarações explícitas de amor ao Metallica, assistir a partes de entrevistas coletivas do conjunto e cenas exclusivas no melhor estilo "behind the scenes". É curioso, por exemplo, observar a ascendência que Lars Ulrich tem sobre os demais integrantes da banda, ao influenciar na escolha das mudanças que ocorreriam no setlist poucos minutos antes de uma das apresentações. Engraçado também ver a assistente de produção correndo para imprimir o setlist definitivo, já que a banda resolvia mudá-lo a cada 10 minutos. E mais, pode-se conferir a emoção de alguns fãs sortudos ao encontrar os ídolos para assinaturas de autógrafos e pose para fotos.

A edição do material é frenética, com cortes para outra imagem em sequência impressionante, em alguns momentos até lembrando algumas das edições que Steve Harris faz para os DVDs do Iron Maiden. No entanto, aqui, o ritmo atordoante das músicas combina bem com a agilidade extrema da edição. Até porque a captação sonora do espetáculo e das músicas em si é uma coisa assustadora. Guitarras, baixo e, sobretudo, bateria com o volume absolutamente no talo, fazendo com que você se sinta como um dos felizardos presentes bem em frente ao palco do Foro Sol durante os shows. Há um excesso de imagens da plateia durante a apresentação que pode até incomodar de início. Entretanto, são essas filmagens que melhor ilustram a relação de total comprometimento dos fãs com James e cia. Pode-se até criticar a ausência de extras propriamente ditos no material, já que os tais extras seriam essas imagens que a banda intercala entre as canções. Contudo, o que vale nesse registro (e que certamente foi a intenção da banda) é justamente mostrar o frenesi da passagem do METALLICA pelo México e, acima de tudo, dar ao mundo uma amostra do que o grupo é capaz de fazer quando se coloca sobre um palco.

Dentre as músicas, chama a atenção que as novas canções de "Death Magnetic" se encaixam muito bem entre os clássicos oitentistas da banda. No entanto, os destaques maiores ainda continuam sendo alguns dos clássicos eternos dos thrashers da Bay Area, como a abertura com "Creeping Death" e a essencial "Master Of Puppets", talvez essa o ponto mais alto de todo show que o grupo faça.

Lars Ulrich não faz mais as mesmas linhas que gravou em estúdio, mas encontrou soluções simples e eficientes para continuar ditando o ritmo da banda e, dessa forma, não deixa a peteca cair na execução das músicas. O ‘novato’ Robert Trujillo já mostra segurança e um bom entrosamento com os demais músicos. Kirk Hammett continua solando com competência. Sobre James Hetfield, fica evidente que perdeu muito da agressividade na voz, porém encontrou um caminho eficaz nas mudanças que fez para poder continuar cantando algumas músicas, o que fica mais claro principalmente naquelas onde precisa forçar mais o vocal ou lançar mão de mais agudos, como "Ride The Lightning", "Disposable Heroes" e "Hit The Lights". No entanto, sua performance está longe de comprometer a banda, principalmente se comparada com outras fases, inclusive recentes. Até pelo contrário, James é mais do que nunca o guia que leva a banda e o público para onde deseja, pois sua habilidade como frontman é o principal fator que permite ao Metallica ter a plateia na mão o tempo inteiro. E como guitarrista, James continua um animal selvagem, cada vez mais técnico, sem perder a brutalidade.

"Orgulho, Paixão e Glória – Três Noites na Cidade do México" mostra um Metallica claramente com lenha para queimar ainda. Um título mais do que adequado, já que é exatamente isso que se vê durante toda a execução do material, uma banda com orgulho de tudo o que conquistou, vivendo um momento de glória, atestado pela paixão de milhares de fãs. Se você assistiu a algum dos shows da ‘World Magnetic Tour’, com certeza sentirá uma ponta de saudades daquelas 2 horas na companhia de Hetfield, Hammett, Trujillo e Ulrich. Se não assistiu, está aí uma pedida perfeita para compensar um pouco a perda e ver que os ‘Four Horsemen’ estão mais vivos do que nunca.

Metallica: "Orgulho, Paixão e Glória – Três Noites na Cidade do México"
Universal Music

Tracklist:
The Ecstasy Of Gold
Creeping Death
For Whom The Bell Tolls
Ride The Lightning
Disposable Heroes
One
Broken, Beat & Scarred
The Memory Remains
Sad But True
The Unforgiven
All Nightmare Long
The Day That Never Comes
Master Of Puppets
Fight Fire With Fire
Nothing Else Matters
Enter Sandman
The Wait
Hit The Lights
Seek & Destroy

OBS: abaixo está o tracklist das outras versões conhecidas deste DVD

DVD/ Blu-ray
The Ecstasy Of Gold
Creeping Death
For Whom The Bell Tolls
Ride The Lightning
Disposable Heroes
One
Broken, Beat & Scarred
The Memory Remains
Sad But True
The Unforgiven
All Nightmare Long
The Day That Never Comes
Master Of Puppets
Fight Fire With Fire
Nothing Else Matters
Enter Sandman
The Wait
Hit The Lights
Seek & Destroy

CD 1
The Ecstasy Of Gold
Creeping Death
For Whom The Bell Tolls
Ride The Lightning
Disposable Heroes
One
Broken, Beat & Scarred
The Memory Remains
Sad But True
The Unforgiven

CD 2
All Nightmare Long
The Day That Never Comes
Master Of Puppets
Fight Fire With Fire
Nothing Else Matters
Enter Sandman
The Wait
Hit The Lights
Seek & Destroy

Versão com 2 DVDs e 2 CDs. (Tracklist do DVD 2)
That Was Just Your Life
The End Of The Line
Holier Than Thou
Cyanide
Blackened
Helpless
Trapped Under Ice
Turn The Page
The Prince
No Remorse
Fuel
Wherever I May Roam
Harvester Of Sorrow
Fade To Black
…And Justice For All
Dyers Eve

Whiplash

Review de CD - Good Blood Headbanguers - Massacration

Os puristas do heavy metal devem estar enlouquecidos, afinal, os humoristas do grupo Hermes & Renato estão lançando o segundo álbum do Massacration, sucessor de “Gates of Metal Fried Chicken of Death” (2005). “Mas já acabou a graça desta piada, não?”, podem opinar alguns, prestes a roer os cotovelos de tanto ódio. Quem já assistiu aos episódios inéditos do programa dos caras na MTV, no entanto, sabe que eles continuam afiadíssimos em suas paródias musicais (vide o hilariante reggae do Artesanation, por exemplo).

E sabemos que, com fãs de rock pesado em sua formação, a sátira metálica do Massacration é o ponto alto do trabalho dos caras. Afinal, eles conhecem os clichês tão bem quanto eu e você. Por que não deixar os sujeitos continuarem a brincadeira, então? Agora imagine isso produzido pelo Roy Z. Temos então um álbum de rock-comédia do qual é possível rir e com o qual é possível bater cabeça para valer...se você for um banger com senso de humor, é claro.

A trupe de Detonator adotou um visual muito mais glam/hard, trocando o couro, os espinhos e as correntes por calças de oncinha e zebrinha bem apertadinhas – mais Poison e menos Judas Priest, apenas para deixar claro. Os temas das canções continuam sendo, na falta de uma palavra melhor, “inusitados”. Afinal, estamos falando de músicas sobre dogões de rua com suas dezenas de ingredientes (”Hammercage Hotdog Hell”) ou sobre a chegada da dor de barriga (“Bad Defecation”). Mas a sonoridade ficou ainda mais pesada do que no disco anterior, possivelmente cortesia da produção de Roy Z (Judas Priest, Bruce Dickinson) e da direção artística de Renato Tribuzy.

Basta reparar nas guitarras do primeiro single, “The Mummy”. Tá certo que a letra se guia pelo inglês macarrônico do mestre do brega Falcão, que faz uma participação especial cantando quase uma versão metal de “Black People Car”. E Detonator faz uma introdução com “Tumbalacatumba”, da Vovó Mafalda. Mas veja: a pegada da guitarra, em especial no riff de abertura, tem até um quê de Iron Maiden (senhores, esta é a deixa para vocês pegarem suas foices e tochas).

O novo material de “Good Blood Headbanguers” também deu ao Massacration uma coleção de faixas na medida certa para cantar em shows, com coraizinhos épicos irresistíveis como os de “Sufocators of Metal” e “The Fire, the Steel, the Heavy & the Money”. Na melhor tradição do Manowar, eles fazem ainda diversas saudações ao mundo do heavy metal. A faixa-título é, à sua maneira peculiar, uma homenagem aos fãs, digamos que a “Army of Immortals” do Massacration. Em “The Big Heavy Metal”, eles estabelecem o que seria do dia do metal, com direito até a cantar “parabéns a você”. E “The Hymn of Metal Land” é o hino da nação metálica, para todos cantarmos marchando enquanto seguimos as instruções de Detonator: “mão no peito, mão no saco, mão na xoxota”.

O melhor momento de “Good Blood Headbanguers”, no entanto, é a balada “The Bull”, a primeira da carreira do grupo. Na melhor tradição Reginaldo Rossi, o vocalista declama a dor de cotovelo de uma traição, nos proporcionando o que talvez seja a primeira música assumidamente “dor de corno” da história do heavy metal. E com direito até a diversas menções ao chamado Big Richard que lhe roubou a mulher de sua vida. Simplesmente genial.

Veja bem, se você prefere manter a sua cara de malvadão, dizendo que é um headbanger true que na aceita este tipo de diversão, faça o seguinte: não ouça. Não assista aos clipes. Não leia qualquer notícia a respeito. Aliás, o que você está fazendo lendo este texto mesmo?

Quanto ao resto do mundo do metal, que sabe rir de si mesmo e entende o que é uma diversão sem pretensões, “Good Blood Headbanguers” é o presente ideal para este final de ano. Reúna os camaradas e compartilhe umas boas risadas. Não é disso que a vida é feita, afinal?

PS: Antes que alguém pergunte e/ou se apresse para corrigir, a grafia do título do CD é mesmo “headbanguers”, com um U no final da palavra original, que seria corretamente “headbangers”. O motivo? Prometo que vamos tentar descobrir e avisamos vocês. :-)

E você? O que achou do novo álbum do Massacration? Comente no fórum abaixo.

Line-up - Personagens:
Detonator – Vocal
Blondie Hammet – Guitarra
Headmaster – Guitarra
Metal Avenger – Baixo
Jimmy Hammer – Bateria

Line-up - Músicos:
Bruno Sutter – Vocal
Fausto Fanti – Guitarra
Marco Antonio Alves – Baixo
Felipe Fagundes e Adriano Silva – Backing vocals
Fernando Lima – Bateria (convidado)

Tracklist:
Hammercage Hotdog Hell
The Mummy
Sufocators of Metal
The Bull
The Fire, the Steel, the Heavy & the Money
The Big Heavy Metal
Bad Defecation (The Bost Thunder)
Good Blood Headbanguers
Massacration
The Hymn of Metal Land

Whiplash

Schmier de pérola

O que chega a nossos ouvidos neste outubro é o novo disco do Pearl Jam. Seu som é tão bom quanto uma schmier de uva. Na verdade, uma "geleia de pérola". Falando um pouco no idioma alemão, uma "schmier de pérola".

O grupo lança o aguardado Backspacer, primeiro disco após o homônimo Pearl Jam, um resgate da sonoridade crua e roqueira que deixava saudades. O novo álbum vem mais pop, com refrões agradáveis e melodias enérgicas, sem esquecer da pegada e, claro, dos momentos de calmaria com boas baladas.

A banda abre as portas do disco sem frescuras. A furiosa Gonna See My Friend chega “chutando” os ouvidos. Uma porrada vintage, com timbres açucarados que navegam em alta velocidade, entre rasgadas linhas vocais. Seguindo e pisando fundo, a faixa Got Some transpira melodias singulares, e deixa em destaque o vocal de Eddie flutuando em praias melódicas.

O disco tem a sua essência grunge, e segue com alguns ecos do estilo que a banda ajudou a firmar lá no início da década de 90. Fiel a essa sonoridade, o primeiro single do álbum, The Fixer, tem uma levada mais cadenciada, com guitarras em sintonia com um refrão grudento. É a espinha dorsal do disco e poderia constar em qualquer coletânea do Pearl Jam.

Na sequência, Johnny Guitar mantém o embalo, que perde potência em Just Breathe. Amongst The Waves é uma bela balada, ótima para grudar a partir do momento em que invadir as FMs. Unthought Known parece que vai empolgar e não empolga. Uma composição que lembra a estrutura das canções do Coldplay e, lá no fundo, do U2.

Supersonic é um rockão. Chega abrindo espaço carregada de energia, com riffs alucinantes e solos rasgados que flertam com uma batera insana. O eletrocardiograma já baixa com Speed Of Sound, que de speed não tem nada. A faixa é chatinha e até deve agradar pelas vocalizações bem alinhadas, mas dá uma vontade de voltar o disco ao início pra recuperar a energia. Mas não é necessário. Uma bateria bem marcada dá início a Force of Nature e agrada bem. Vocal em doses melancólicas, guitarras sedutoras. Uma viagem dentro do universo Pearl Jam.

The End, em tom de despedida, como adianta o nome, desperta uma certa tristeza em forma de canção. Talvez pelo fato de o CD estar acabando. Uma canção de ninar pra marmanjos, que encerra Backspacer com a certeza de um bom trabalho, fiel ao que o Pearl Jam se tornou após passar pelos tons de cinza do grunge. A banda mais pop entre os roqueiros de flanela daquela geração continua firme na produção de sua agradável “geleia de pérola”.

Jansle Appel Junior
Gazeta do Sul

Review de CD - Sonic Boom - Kiss

"Rock And Roll Over se encontra com Love Gun". "Sonic Boom é o Kiss renascido". "Nosso melhor álbum em trinta anos". "Não há baladas, nem teclados, sintetizadores ou garotas fazendo backing vocals". Estas foram apenas algumas das declarações do falastrão baixista Gene Simmons sobre o novo álbum do Kiss, "Sonic Boom". Tudo para criar ainda mais expectativa entre seus fanáticos seguidores, sedentos por algo novo da banda que não lançava nada inédito desde a balada breguinha "Nothing Can Keep Me From You", na trilha sonora do filme "Detroit Rock City". Será que tudo o que foi dito seria verdade?

A primeira impressão não foi bem essa, afinal a capa divulgada pela internet e o título do álbum não inspiravam muita confiança. Porém, ao ouvir a primeira música disponibilizada no site oficial, "Modern Day Delilah", as coisas foram mudando de rumo. Exagero nas frases de Simmons? Claro que sim, e todos sabem que ele é especialista na arte da auto-promoção, mas muito do que foi dito pode ser levado em consideração. A sensação que "Sonic Boom" nos passa é justamente a de que o Kiss pinçou o que fez de melhor nos anos 1980/90 e adicionou à sua velha fórmula de compor hits dos anos 1970. Um álbum de rock simples e direto, com leves pitadas de pop, mas sem frescuras e, por incrível que pareça, sem baladas mesmo. Não chega a ser tudo o que o quarteto vem anunciando, obviamente, mas é sim um disco muito bom de ser ouvido.

A ótima abertura com "Modern Day Delilah" de Paul Stanley não nos remete exatamente ao Kiss clássico, mas sim a "Creatures Of The Night" e "Revenge" – não por acaso, sempre citados por fãs como dois dos melhores discos que a banda gravou após sua década de ouro. Um riff matador, e um refrão no melhor estilo Kiss. De longe, a melhor música do disco. "Russian Roulette" é uma canção inspirada de Gene Simmons, onde o linguarudo coloca seu baixo para roncar entre as guitarras e lança mão de suas letras insinuantes de sempre. Chama atenção como os milagres de estúdio conseguem deixar seus vocais tão bons (quem esteve no show do Anhembi em abril se lembra que ao vivo não é bem assim...). "Never Enough" poderia ser uma boa escolha para um próximo single (se é que ainda se lançam singles), ecoando ares de um vigoroso rock de arena dos anos 1980, mas longe daquele hard pop açucarado praticado por eles na fase "Asylum" e "Crazy Nights" – lembra algo próximo de "Slide It In", do Whitesnake.

A boa "Yes I Know (Nobody’s Perfect)" dá sequência ao CD, com uma introdução que parece ser uma irmã mais nova de "Thou Shall Not" (de "Revenge"), embora seu andamento seja bem diferente daquela, com mais um arranjo simples de baixo de Gene entre os riffs de guitarras de Paul e Tommy Thayer. "Stand" traz Gene e Paul dividindo os microfones numa canção de refrão grudento, que contém ainda uma seção de vocais sobrepostos após o solo que lembram, mesmo que vagamente, aquele mesmo efeito usado em "I Just Wanna" (também do álbum "Revenge"). Talvez seja a canção menos inspirada do disco.

A sexta faixa, "Hot And Cold", com Gene sendo tipicamente Gene nas letras ("Baby, feel my tower of power"), não é lá grandes coisas também, mas não compromete também. Traz uma levada de bateria à la Peter Criss e um bom solo de Tommy. "All For The Glory" traz a estréia "oficial" em estúdio de Eric Singer nos vocais principais, um pouco mais graves aqui do que de costume. Boa, mas não vai fazer falta ao vivo – no palco ainda será mais legal ouvir Eric cantando "Nothin’ To Lose" e "Black Diamond". "Danger Us", outra grande faixa, esquenta os ânimos novamente, com mais um bom riff de guitarra e outro refrão "grudento" ("Danger you, danger me, danger us" – onde Paul faz trocadilho com a palavra "dangerous" – perigoso).

Chegando à parte final do álbum, "I’m An Animal" soa como uma espécie de sobra reaproveitada de "Creatures Of The Night" ou "Lick It Up" – não que isso chegue a ser algum defeito. Tem uma levada mais lenta e arrastada, típica das canções de Gene naquele período. Em "When Lightning Strikes" é a vez de Tommy Thayer assumir o microfone principal, e ele dá conta do recado muito bem. Se nas guitarras ele reproduz Ace Frehley muito bem, sua voz, entretanto, soa bem diferente. Um bom arranjo de bateria e um solo que nos faz lembrar "Love ‘Em Or Leave ‘Em", de "Rock and Roll Over". Por fim, o Kiss encerra o disco com chave de ouro, com mais um rockão de arena em "Say Yeah".

Concluindo: um bom lançamento que enfim sacia a vontade dos fãs que esperavam por algo novo que valesse a pena ser ouvido, já que o mediano "Psycho Circus" desapontou muitos quando lançado anos atrás. Nos Estados Unidos, conforme já noticiado pelo Whiplash, "Sonic Boom" será lançado também em uma versão tripla, contendo um disco com regravações de clássicos da banda (que já havia saído anteriormente no Japão) e um DVD com os melhores momentos do show de Buenos Aires neste ano. Os membros do "Kiss Army" podem comprar sem susto. Cuidado apenas para não caírem na conversa de Mr. Simmons e cia., e acreditarem que o álbum é um clássico desde já. Isso só o tempo dirá...

Whiplash

Review de CD - Humbug - Arctic Monkeys

No mundo dos ativos integrantes do Arctic Monkeys, dois anos e meio sem lançar material novo pode ser considerado como um hiato, um período de longas férias. Nesse precioso meio tempo, a banda aproveitou para rever seus conceitos, e sua sonoridade. Chega a ser previsível imaginar que o quarteto, liderado por Alex Turner, iria tentar algo completamente diferente em seu novo trabalho. Obviamente, é exatamente isso que acontece no recém-lançado "Humbug"!

Após dois ótimos trabalhos que mesclavam a atual tendência indie rock com toques criativos, letras "non-sense" e sonoridade alucinada e irreverente, a banda resolveu pisar fundo no freio dessa vez, e entregou um trabalho que deve ser escutado com mais atenção. Por sinal, a boa faixa de abertura "My Propeller" não engana o ouvinte, e mostra bem a essência geral do novo trabalho: sutil (tanto nas letras quanto nos arranjos), moderado e suave.

O primeiro single é "Crying Lightning", uma balada levemente retrô que começa sem grandes surpresas, mas termina de uma forma deliciosamente melancólica. A criativa "Secret Door" também começa sem grandes surpresas, mas termina como uma das mais belas músicas compostas pelo quarteto. Se falarmos em potenciais singles, temos uma ótima candidata: a linda balada "Cornerstone".

Misturando melancolia com um "quê" de sombrio, as faixas "Fire and the Thud", "Dance Little Liar", e "The Jeweller's Hand" se mostram como pontos fracos do álbum, nos fazendo perguntar: no que esses "macacos" estavam pensando quando trouxeram certas influências do The Last Shadow Puppets? Não que este projeto paralelo de Alex Turner seja ruim, mas pode-se notar que ele pertence a um universo totalmente à parte dos "Monkeys"...

De qualquer forma, ainda temos mais ótimas músicas em "Humbug": os divertidos rocks "Dangerous Animals" e "Potion Approaching", além da "pancadona" "Pretty Visitors" - que acaba soando deslocada da proposta do álbum, mas o salva de soar um tanto entediante. Em tais momentos, o sentimento de saudades dos primeiros álbuns é inevitável...

"Humbug" é um bom álbum, que mostra a criatividade - e possível genialidade - da banda ainda presente. Porém, ao lembrar que seus integrantes mal saíram da adolescência, e poderiam estar se divertindo com mais rocks "pra cima" por muitos e muitos anos, chega a ser estranho lembrar que um trabalho tão sério - e até "careta", para os antigos padrões da banda - pode levá-los a um rumo nada interessante em seus próximos trabalhos.

Então, fica a pergunta: e agora, Sr. Alex Turner?

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Review de DVD - Flight 666: O Filme - Iron Maiden

Índia, Austrália, Japão, Estados Unidos, México, Costa Rica, Colômbia, Brasil, Argentina, Chile, Porto Rico, Canadá. O que todos estes países têm em comum? Para um estudante de economia ou ciências políticas a resposta poderia demorar um pouco a vir, mas para um bom fã de heavy metal, ela está na ponta da língua: foram parte da rota do vôo 666, o Boeing 757 personalizado que levou a lenda Iron Maiden a estes países para realizarem alguns dos shows mais fantásticos de sua carreira. E todos eles fazem parte deste grande documentário, dirigido por Sam Dunn e Scott McFayden.

Obviamente não é um documentário completo como "Metal", dos mesmos realizadores. Mesmo porque o objetivo aqui não era contar a história da banda, ou algo do tipo, e sim simplesmente o que fazem com maestria: acompanhar a incrível maratona de shows cumprida pela banda ao redor do globo em pouco mais de seis semanas, na primeira parte da sua "Somewhere Back In Time Tour".

A incrível jornada de "a volta ao mundo em menos de 80 dias" do sexteto britânico começa sua escala em Bombaim, na Índia. Era a primeira vez que a banda tocaria ali, e a empolgação dos fãs contagia a banda. Foi também a primeira passagem por outros países como Colômbia e Costa Rica, países que ficam de fora de 99% das grandes tournês mundiais das grandes bandas (e tem gente que ainda reclama de quando, vez ou outra, uma banda não passa por aqui). Isso tudo comprova o que Bruce Dickinson nos diz no filme, onde revela que quiseram passar por locais normalmente esquecidos, de forma a favorecer tais fãs (e a rota de vôo também, é claro).

Os diretores captam muito bem os bastidores antes, durante e depois dos shows, bem como dos intervalos entre as viagens, e o que cada um faz em seu tempo livre. Fica-se sabendo, por exemplo, da indisposição de alguns membros da banda, por intoxicação alimentar, quando da chegada à Austrália. Vemos Adrian Smith jogando tênis, Nicko McBrain e Dave Murray jogando golfe. Steve Harris no estúdio de mixagem com o produtor Kevin Shirley, Janick Gers dando uns "sumiços"... Sem falar nos detalhes sobre o palco, como Bruce zoando o gongo de Nicko e os pés deste descalços "surrando" os pedais da bateria, as pizzas e cervejas na van, após os shows, as aeromoças sendo vítimas de "insultos" e piadinhas a cada nova instrução de segurança...

O filme captura também a idolatria dos mais diversos fãs. Desde o rapaz que vai às lágrimas, na Colômbia, ao final do show, com a baqueta de Nicko às mãos, passando pelo pastor em São Paulo que tem uma infinidade de tatuagens com temas da banda, e chegando até os mais ilustres, como Tom Morello, Chris Jericho, Lars Ulrich, Kerry King. Tem ainda a visita ilustre de Ronnie James Dio e Vinny Appice, junto a estes, no backstage de Los Angeles, e a galera do Sepultura batendo uma bola no Brasil.

Como se não bastasse isso tudo, temos ainda o segundo disco, com o show completo, sendo cada música filmada em uma cidade diferente, e o CD correspondente, a trilha sonora. Curiosidade: o local do show de Curitiba, a Pedreira Paulo Leminski, aparece em cada lugar com um nome diferente: desde Pedreira Stadium até "Padeira" Paulo Leminski. Tudo bem, em meio a um lançamento tão perfeito, a gente perdoa...

Nota 10, e imperdível para todo e qualquer fã, não só da banda, mas de rock pesado em geral. Se você ainda não tem na coleção, tá esperando o quê?

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Review de CD - The Devil You Know - Heaven & Hell

Embora neguem mesmo sob tortura, posso apostar que até os fãs mais radicais do velho BLACK SABBATH, de OZZY OSBOURNE, se impressionaram com o ótimo álbum "The Devil You Know", a nova (e revigorante) aventura do HEAVEN & HELL. Afinal, é impossível negar a qualidade do SABBATH em sua "versão 2.0", com Ronnie James Dio nos vocais e Vinny Appice na bateria, ao lado de Tony Iommi e Terry "Geezer" Butler.

É fato que a audição deste CD fica ainda mais rica após a experiência de assistir a uma performance ao vivo da banda, o que foi possível com a turnê do HEAVEN & HELL pelo Brasil, em maio deste ano. Pois o quarteto, já veterano, mostrou na mais difícil das provas, o palco, que a vitalidade transpirada nas faixas de "The Devil You Know" não é mera trucagem de estúdio. Sim, os caras continuam com aquele punho de 1980, data do lançamento de "Heaven & Hell", mas estão quase três décadas mais experientes e sábios. Como um bom vinho.

Não há muito a se acrescentar sobre a categoria dos músicos, exceto a já destacada energia de senhores que passaram há tempos dos 50-e-vários anos de uma vida pouco regrada. Dio continua a cantar como um garoto, Iommi conduz a sua guitarra com a agressividade e a inteligência habituais, Geezer segue promovendo intervenções cirúrgica com seu baixo e Appice, se é o menos brilhante do quarteto, pelo menos garante terreno para o brilho dos seus colegas.

O primeiro ponto positivo de "The Devil You Know" é o fato de a banda não se apegar à tentativa de "refazer" obras como "Mob Rules", "Dehumanizer" ou mesmo "Heaven & Hell". O disco novo é novo de verdade, embora traga as impressões digitais indeléveis do grande SABBATH de Dio, Iommi, Butler e Appice – como a maior elaboração melódica e um peso diferente daquele conferido aos trabalhos da banda com a participação de Ozzy e Bill Ward.

A abertura do CD fica por conta de "Atom and Evil", que já antecipa ao ouvinte a volta em grande estilo de uma das melhores bandas do ramo: pesada, profunda e envolvente. "Fear", "Bible Black" e "Follow the Tears", as três músicas de trabalho do novo álbum na turnê que passou pelo Brasil, comprovam sem qualquer dificuldade por que foram escolhidas pela banda para execução ao vivo – e a repercussão do público a elas nos shows mostra que a seleção foi acertada.

Mas "The Devil You Know" guarda outros tesouros, como "Double the Pain", a ótima "Eating the Cannibals", "Rock and Roll Angel" e "Breaking Into Heaven", uma faixa épica, que já nos deixa com água na boca para um próximo álbum. Em suma, estamos diante de uma obra com toda a propriedade e riqueza de um autêntico BLACK SABBATH.

A volta do HEAVEN & HELL, solidificada com um excelente lançamento de inéditas, é uma notícia a ser comemorada. Afinal de contas, Iommi e Geezer são importantes demais para viverem à espera da disposição – e da boa vontade – de Ozzy e Sharon Osbourne (talvez mais dela do que dele hoje em dia) para uma reunião do Black Sabbath original. Então, longa vida ao HEAVEN & HELL!

The Devil You Know – Heaven & Hell

1 - "Atom & Evil"
2 - "Fear"
3 - "Bible Black"
4 - "Double The Pain"
5 - "Rock And Roll Angel"
6 - "The Turn Of The Screw"
7 - "Eating The Cannibals"
8 - "Follow The Tears"
9 - "Neverwhere"
10 - "Breaking Into Heaven"

Gravadora: Roadrunner Records

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Review de CD - Cinema - Cachorro Grande

No que diz respeito a rock underground nacional, a banda Cachorro Grande está próxima de virar uma "instituição". Nada mais justo - e até lógico - para um grupo que vêm lançando regularmente obras sinceras e competentes, mantendo-se sempre como uma humilde banda de rock 'n' roll que não traz absolutamente nada de novo, ou mesmo de agradável a ouvidos bem mais sensíveis (a voz "única" de Beto Bruno que o diga!). Mas, ao escutar seu novo álbum "Cinema" (2009), percebemos também que a banda faz questão de sair da sua zona de conforto.

Sim, a palavra da vez é "mudança" (assim com aspas mesmo), e o Cachorro Grande resolveu brincar de seguir suas bandas favoritas novamente, mas dessa vez se concentrando naqueles trabalhos mais experimentais ou até puxados para o folk rock. Ecos do Beatles mais psicodélico estão presentes em faixas como a fraca balada de abertura "O Tempo Parou", a boa "Amanhã", a linda "Por Onde Vou" (essa cheira a single de sucesso) e a "quase britpop" "Ela Disse".

A faixa "Luz" merece atenção especial, pela fusão de sons acústicos, elétricos, aspectos viajantes e batidas levemente agitadas, tudo muito bem misturado, e sem perder a simplicidade! E "Pessoas Vazias" chama atenção por lembrar bastante aquele Oasis dos seus dois últimos álbuns. Interessante notar também que, apesar das letras nunca terem sido o forte do grupo, elas se mostram um pouco mais maduras neste álbum, salvando o vocalista Beto Bruno da possibilidade de cair no ridículo ao interpretar músicas igualmente maduras...

Mas, isso não significa que o Cachorro Grande esqueceu suas raízes "garageiras". A ótima e vibrante "A Alegria Voltou" lembra os melhores momentos do primeiro álbum, enquanto que a cadenciada "A Hora do Brasil" não deixa a peteca cair. A pseudo-eletrônica "Dance Agora" é bastante pegajosa, e pode animar bastante os shows da banda. E "Diga o que Você Quer Escutar" é um verdadeiro achado, que traz a performance mais interessante e inspirada do guitarrista Marcelo Gross.

Mas, como nem tudo são flores, temos como pontos realmente negativos o rockzinho "Ninguém mais Lembra de Você", e a acústica "Eileen", as quais soam pouco inspiradas e um tanto enjoativas. Além do mais, a heterogeneidade do álbum pode torná-lo pouco conveniente, tanto para pessoas que estejam afim de dançar com algo à la Kinks, quanto para pessoas que estejam afim de "viajar" com algo à la The Pretty Things...

No geral, "Cinema" é um álbum ousado e válido na discografia do Cachorro Grande. Por outro lado, é recomendável que a banda lembre da sua capacidade de conseguir resultados melhores em sua vertente mais rocker, deixando este trabalho em uma posição única na sua discografia. De qualquer forma, o grupo continua sendo um dos mais honestos e bacanas da atualidade no rock nacional.

Músicas:
1. O Tempo Parou/Sabor a Mi
2. Dance agora
3. Amanhã
4. Por Onde Vou
5. A Alegria Voltou
6. A Hora do Brasil
7. Diga o que Você Quer Escutar
8. Ela disse
9. Ninguém mais Lembra de Você
10. Luz
11. Eileen
12. Pessoas Vazias

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Review de CD - Chickenfoot - Chickenfoot

Juntar numa banda músicos de peso para um projeto em comum, usando de seus nomes e prerrogativas musicais numa atmosfera pronta de marketing... Fórmula velha. Porém o som é novo e de altíssima qualidade o que torna uma grata surpresa ouvir o CD de lançamento da banda Chickenfoot.

Primeiro porque Joe Satriani usou de todo seu feeling para não fazer com que os solos ficassem longos demais, estão na medida certa. A Azeitona do Dry Martini.

Segundo porque, ainda que a voz omnipresente de Sammy Hagar nos lembre Van Halen (não há como não pensar nisso de cara) depois de ouvir todo o álbum você nota o tênue, porém significativo, divisor de águas.

Terceiro porque é muito legal músicos juntarem-se em projetos como este pra mostrar sua diversidade. É como tocar com amigos que não são da mesma banda em uma festa qualquer, mas gravar um CD ou fazer um DVD dessa reunion.

As músicas da Chickenfoot tem uma pegada forte na identidade própria da banda que, devido a junção de músicos de peso, só poderia dar em sonzeira.

E o supergrupo traz o baixista Michael Anthony e o vocalista Sammy Hagar, ex-integrantes do Van Halen, na comissão de frente. Além das duas estrelas, o Chickenfoot conta ainda com Joe Satriani na guitarra e o baterista Chad Smith, de 'férias' do Red Hot Chili Peppers.

O CD abre com "Avenida Revolution", uma canção de melodia pesada e soturna de solo curto porém marcante e os inconfundíveis gritos de Hagar que nos preparam pro que ainda virá.

"Soap On A Rope" é a canção em que Chad Smith (batera do Red Hot Chili Peppers) destrói com uma pegada swingada, com mudanças de tempo primorosas acompanhadas por uma linha vocal nervosa de Sammy e solo de peso nas mãos de Satriani. 'Hardera' de primeira classe.

"Sexy Little Thing" nos arremete ao 'novo rock', uma nova fórmula que as velhas bandas têm usado, o AC/DC é um exemplo (veja a sonoridade do último CD da banda Stiff Upper Lip e entenda) provavelmente seja a próxima a cair nas graças das FM's rock.

"Oh Yeah" é a música de trabalho da banda. Ja está tocando por aí, você provavelmente já ouviu. Sonzeira 'alegrinha' no estilo Van Halen.

"Runnin' Out" soa a música mais comercial do CD. Talvez pela levada tranquila que ganha um brilhozinho salpicada pelos ataques da bateria.

"Get It Up" é uma canção onde se pode sentir quase que no tato a participação forte de Chad Smith na composição usando algumas formulas do RHCP. A linha de vocal casa perfeitamente com os riffs de guitarra e a linha de baixo que são o diferencial junto com backings melodiosos e explosões no tempo de execução da mesma. Perfeita!

"Down The Drain" é como uma caminhada pelo parque numa tarde de sol, ela segue tranquilamente com algumas surpresas pelo caminho.

"My Kinda Girl" é uma canção que segue a linha antiga hard: melodia, backings e riffs casados. Gostosinha de ouvir.

"Learning To Fall" é a baladinha do CD. Nada de novo porém bonita e bem conduzida.

"Turnin' Left" em compensação te arrebata no primeiro acorde tirando-o(a) da marola e te levando a altas ondas num passeio por tempos de execução quebrados, um puta solo rápido e rasteiro de guitarra numa execução primorosa da banda.

"Future In The Past" encerra a viajem musical na trilha dos rastros do franguinho que já se tornou um bom galo de briga.

Se quiser ver o poder de fogo da banda, no YouTube™ já começam a aparecer vídeos e clipes.

Delicie-se como quem come uma canja apimentada, travando um bom combate com o pé de frango...

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