O ex-diretor da equipe McLaren de Fórmula 1 concedeu entrevista à revista americana Car And Driver, falando sobre como conduziu a equipe à glória e como criou um dos mais famosos supercarros, o McLaren BMW F1.
O senhor começou na Fórmula 1 na profissão de mecânico e terminou sua carreira na categoria como líder de uma das mais bem-sucedidas equipes da história, desenvolvendo sua reputação caracterizada pelo perfeccionismo. Reconhece essa afirmação?
Eu sempre defendi que vencer provas era só parte do meu trabalho. Depois disto, vem outras questões: como estava o carro, o piloto, a equipe? Tudo isto constitui uma boa base para investir em nós mesmos?
Vamos falar de 1988. A McLaren dominou aquela temporada, vencendo 15 das 16 provas. Deve ter sido o ápice de sua carreira...
Eu vou ser honesto. Há duas coisas que me lembro de 1988, uma das quais eu nunca disse a ninguém antes. Em primeiro lugar, quando vencemos a última corrida, rebateu em nós a importância de não ter vencido em Monza (Senna, na liderança, na tentativa de aplicar uma volta de vantagem em Jean-Louis Schlesser, bateu no retardatário). Porque, quando perdemos Monza, nós ainda tínhamos corridas a disputar, mas poderíamos ter sido 100%. Em segundo lugar, recebi um telefonema do chefe-executivo do meu patrocinador principal, a Marlboro, e ele me disse que, se eu comecei a perder as corridas, seria do interesse do esporte. Minha mente, simplesmente, explodiu. E posso dizer que ele era absolutamente, categoricamente sério. Ele estava dizendo que isso não é bom, sair um pouco e dar uma chance a outros. Como, sim, que estava para acontecer.
Senna foi considerado por muitos como o maior piloto de Fórmula 1 de todos os tempos. Quando ele deixou a McLaren para ir à Williams, em 1994, o senhor não sabia que ele iria morrer pilotando para a equipe de Frank, mesmo assim, o senhor deve ter tido a sensação de perdê-lo...
Honestamente, olhei para trás e penso que nós (McLaren e Senna) estávamos apenas "dando um tempo". Ele tinha sido muito exigente, e era tempo de seguir em frente. Mas eu não penso que tinha qualquer dúvida de que, em circunstâncias diferentes, Ayrton teria terminado a sua carreira com a McLaren.
Sua antiga equipe na Fórmula 1 também projetou e criou o supercarro McLaren F1, que chegou bem no início da crise econômica dos anos 1990. Seria um caso de "carro certo na hora errada"?
Isso é muito simples. Nós tínhamos a intenção de construir 300 carros. Não é exatamente uma empresa de automóveis, é um projeto. Não era um projeto impulsionado por um desejo de perder dinheiro, mas certamente não ia faturar muito.
Dez anos depois da Fórmula 1, o senhor começou a produzir um carro de rua, o SLR McLaren, desenvolvido em parceria com seu, até então sócia, a Mercedes-Benz. Como esse projeto se desenrolou?
Quando estávamos fazendo o SLR, o mundo não sabia: Era uma McLaren ou um Mercedes? Quem fez o quê, exatamente? Foi um grande projeto. Penso que fizemos um tremendo trabalho, que superou as expectativas de qualidade. Fizemos dinheiro, também, mas não era onde a gente queria ir. Nós não estávamos no caminho que queríamos seguir.
Vamos até a temporada 2007 da Fórmula 1. A McLaren recebeu uma multa de US$ 100 milhões, após um de seus engenheiros ter sido pego com um dossiê técnico de 780 páginas sobre o carro da Ferrari. Isso realmente deve ter doído...
Nós tínhamos na equipe uma pessoa que estava em uma posição importantíssima, que tomou algumas decisões muito imprudentes. Houve apenas uma ingenuidade fenomenal e uma crença de que tudo isso era bastante comum e aceitável. Eu olho para trás, e vejo que foi um ano muito difícil, um ano onde eu tive que fazer algumas decisões difíceis.
O senhor fez um sucesso fenomenal, mas, se pudesse voltar no tempo, há alguma coisa que teria feito diferente?
Se você perguntar qual é a coisa mais importante, lamento, é que as pessoas tinham razão para questionar a minha integridade pessoal, ou o compromisso de comandar a empresa de maneira honesta, mas, em geral, eu olho para trás na minha carreira neste momento, que, já digo de antemão, está longe de estar terminada, e me sinto muito confortável com as decisões que tomei.
O senhor já se afastou da equipe de Fórmula 1, mas ainda estás à frente da McLaren Automotive, cuidando do desenvolvimento do MP4-12C. Estás ocupado?
Uma das coisas que nós priorizamos para a futura estratégia da empresa é que há toda uma gama de produtos para desenvolver. Haverá, em princípio, um novo carro de um tipo ou outro a cada ano, num período de 12 anos. Este é o plano. E isso é uma enorme diferença de apenas ir para a incerteza de "o próximo?", que tínhamos com a Fórmula 1.
O senhor quer ser lembrado como um chefe da equipe ou empresário?
O que eu quero escrito na minha lápide? "Ron Dennis, de 1947 até então, um dos grandes empresários do mundo", sem relação direta com o automobilismo.
O texto original pode ser conferido clicando aqui.
Ron Dennis: "o que eu teria feito diferente"
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Publicado: quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010 às 17:42
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