Na última volta da etapa de Richmond da temporada 2013 da NASCAR Nationwide Series, Nelsinho Piquet, brigando pela 15º posição, tocou no carro de Brian Scott. Nervoso, o norte-americano foi tirar satisfação com o brasileiro, que respondeu com empurrões e pontapés.
"Nós estávamos no final da corrida. Eu o toquei, rodamos e eu passei. Não vou aceitar provocação dele, pois ele fez o mesmo, no ano passado, em Martinsville, e eu não falei nada", explicou Nelson Piquet Jr. Brian Scott garante, no entanto, que o conflito não é passageiro: "ele tem algum problema comigo".
Americo Teixeira Jr. escreveu um texto, falando sobre a primeira vitória de Nelson Ângelo Piquet na NASCAR Nationwide Series, a categoria de acesso à principal competição de stock cars estadunidense, dizendo que o feito é apenas dele e de mais ninguém. Coloco o texto abaixo, na íntegra:
O automobilismo brasileiro não tem o direito de pegar carona na vitória de Nelson Angelo Piquet
Por Americo Teixeira Jr. – Embora possa parecer poético e bonito afirmar que a vitória de Nelson Piquet, no último sábado em Road America, foi “a conquista de um país”, de “uma geração”, um “abrir de portas” para jovens pilotos brasileiros, na verdade, não foi nada disso. Foi uma vitória dele. Ponto final.
Não passa de licença poética pautar o Brasil como tendo uma “nova geração” para o automobilismo. É como se houvesse um esforço nacional, liderado pelos dirigentes do automobilismo brasileiro e empresas do setor, lutando para assim fazê-lo. Não há e os que estão aí, por méritos próprios, galgam posições exclusivamente com seus esforços e ferramentas.
O que vimos foi mais uma demonstração individual de um jovem que, com talento e suporte condizentes, chegou ao topo e, em seguida, estatelou-se no chão. Se o Gande Prêmio de Singapura está no seu currículo como uma mancha, envolveu-se nessa situação por imaturidade e incapacidade de lidar com um chefe de equipe polêmico e, ao final, banido da Fórmula 1, como foi o caso de Flavio Briatore.
Rico e bem formado, poderia ter “guardado a viola no saco” e ido “chorar suas mágoas” em alguma ilha ensolarada e paradisíaca em qualquer lugar do mundo. Não, preferiu começar de novo, lá de baixo, em categorias de acesso à Nascar. Deixou o glamour de Monaco para se enfiar na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Vive e respira 24 horas por dia o clima de Charlotte e região, o “centro nervoso” da Nascar, onde estão instaladas muitas de suas equipes (Charlotte é para a Nascar o que Indianapolis é para a IndyCar).
Ir ao pódio é uma delícia. Dar zerinhos depois da bandeirada, então, é demais. Mas nada disso acontece sem trabalho, trabalho e trabalho. É claro que não adianta “ralar o dito cujo na ostra” sem suporte de qualquer espécie. Como também não adianta o cara ter todas as condições, mas ser grosso e preguiçoso. Há de ter uma combinação equilibrada e perfeita de todos esses fatores.
Foi isso que fez Nelson Piquet. Soube tirar o máximo proveito do suporte que teve ao seu dispor, mostrou disposição para acordar cedo e “sair pro pau”, além de sentar em qualquer carro com o mesmo tesão, como se estivesse disputando uma vitória na Fórmula 1. E, tudo isso, muito na dele. Se o pai é adoravelmente sem “papas na língua”, Nelson Angelo é super discreto.
Então, por tudo isso, a vitória de sábado não foi do automobilismo brasileiro, da geração ou um ato de “abrir portas”. Foi, sim, uma vitória de Nelson Angelo Piquet, um rapaz sobre cuja cabeça o “mundo caiu”, mas que soube fazer uma releitura de sua vida e seus valores. Alguém, ao que parece, está encontrando o “graal” de uma vida, o que realmente importa, que é ser feliz.
E se ele tivesse vencido na Fórmula 1, deixaria de ser uma vitória apenas dele?
Então, por que o automobilismo brasileiro não tem o direito de pegar carona na vitória de Nelson Ângelo Piquet?
Ainda mais pelo fato de que estamos na iminência de não ver mais brasileiros na categoria máxima do automobilismo. O pessoal daqui precisa perceber que há mais opções além da Fórmula 1 e da Stock Car Brasil, categorias "Globalizadas".
O brasileiro não gosta de Fórmula 1, de Copa do Mundo, de UFC, ele gosta é de ver brasileiro ganhando. Pode ser até no mundial de cricket, esporte que ele não entende bulhufas, mas se tem brasileiro ganhando, está ótimo.
Se Nelson Piquet Jr. tivesse sido menos afobado, começando numa equipe como a Toro Rosso, por exemplo, e não logo na Renault, do jeito que a equipe estava, não teria a sua chance sido queimada tão rápido.
No entanto, foi uma manobra arrogante de Nelsinho, que achou que poderia bater peito com ninguém menos que Fernando Alonso e Flavio Briatore, que estavam feito "unha e carne" naquela época. Para quem chegou até a Fórmula 1 apenas usando do aporte de seu pai, que criou uma equipe de competição para ver seu filho chegar até lá, faltou o apoio emocional para encarar as dificuldades que enfrentaria. Sobre isso, escrevi algo na época.
O Conselho Mundial da FIA decidiu, em uma reunião que durou apenas 90 minutos, banir Flavio Briatore de qualquer competição organizada pela FIA, além de não poder mais ser empresário de qualquer piloto que esteja participando destes campeonatos. Pat Symonds recebeu punição semelhante, com a exceção de que o tempo da punição é de cinco anos.
A exemplo do que aconteceu com a McLaren na primeira etapa da temporada de 2009, em Melbourne, a Renault recebeu uma suspensão de dois anos, mas a pena não será aplicada, exceto se a equipe francesa "andar fora da linha" novamente.
Nelson Piquet Jr. e Fernando Alonso foram considerados inocentes, o primeiro, por conta da "delação premiada", e o segundo, por não haver provas de seu envolvimento no caso "Singaporegate".
Não irei repetir minha opinião acerca deste assunto, ela está expressa neste link. Mas o que digo aqui é que já era hora de Flavio Briatore, um cara que vendia roupas, comandar uma equipe de Fórmula 1, não seria coisa boa, justamente porque não entendia nada do esporte a motor quando, em 1994, foi dirigir a Benetton.
O que mais me preocupa é essa "blindagem" que Fernando Alonso recebeu, porque não precisou dizer nada a respeito, apesar de Nelson Piquet Jr. ter dito que o asturiano não sabia de nada.
Já para Nelsinho, será muito difícil para ele conseguir uma vaga na Fórmula 1 do ano que vem, a não ser que venha com patrocínios fortes e compre um assento nas equipes menores, que estrearão em 2010. Mesmo assim, a situação está bastante complicada, uma vez que não conseguiu mostrar uma boa performance no ano e meio que esteve na Renault.
Abaixo, a transcrição do veredicto do Conselho Mundial da FIA:
O Conselho Mundial de Automobilismo considera que os membros da equipe Renault, Flavio Briatore, Pat Symonds e Nelson Piquet Jr. conspiraram para causar um acidente deliberado no Grande Prêmio de Cingapura de 2008. O Conselho Mundial de Automobilismo, portanto, considera que a Renault, sob o artigo 123 do Código Desportivo Mundial, é responsável pela ação de seus empregados em violação aos Artigos 151 (c) e ponto 2 (c) do Capítulo IV do Apêndice L do Código e Artigos 3.2, 30.3 e/ou 39.1 do Regulamento Esportivo da Fórmula 1.
O Conselho Mundial de Automobilismo considera a violação da Renault no Grande Prêmio de Cingapura de 2008 como de gravidade sem precedentes. A violação da Renault não apenas compromete a integridade do esporte, mas também coloca em perigo a vida dos espectadores, fiscais, outros competidores e o próprio Nelson Piquet Jr. O Conselho Mundial de Automobilismo considera que crimes dessa gravidade merecem desclassificação permanente do campeonato mundial de Fórmula 1 da FIA. Porém, tendo em conta todos os pontos acima mencionados e as medidas adotadas pela Renault para identificar e resolver as falhas dentro da sua equipe e condenar as ações dos indivíduos envolvidos, o WMSC decidiu suspender a Renault até o fim da temporada de 2011. O Conselho Mundial de Automobilismo só ativará essa desqualificação se a Renault for considerada culpada de uma violação semelhante durante esse tempo.
Além disso, o Conselho Mundial de Automobilismo nota as desculpas da Renault e está de acordo que a equipe deve pagar pelos custos da investigação. Também aceita a oferta de uma significante contribuição para o trabalho de segurança da FIA.
Quanto ao Sr. Briatore, o Conselho Mundial de Automobilismo declara que, por um período ilimitado, a FIA não pretende sancionar qualquer Evento Internacional, Campeonato, Taça, Troféu, Desafio ou Série envolvendo o Sr. Briatore, a qualquer cargo ocupado, ou outra entidade envolvendo o Sr. Briatore, a qualquer título. Isso também incluiu instruções a todos os funcionários presentes em eventos sancionados pela FIA a não permitir que o Sr. Briatore tenha acesso às áreas sob a jurisdição da FIA. Além disso, não pretendemos renovar qualquer Super-Licença garantida a qualquer piloto associado (através de um contrato de gestão ou qualquer outro) com o Sr. Briatore ou qualquer entidade ou indivíduo associado ao Sr. Briatore. Ao determinar que tais instruções sejam aplicadas por um período ilimitado, o Conselho Mundial de Automobilismo teve em conta não apenas a gravidade da violação na qual o Sr. Briatore foi cúmplice, mas também por ele continuar a negar sua participação na violação apesar de todas as evidências.
Quanto ao Sr. Symonds, o Conselho Mundial de Automobilismo declara que, por um período de cinco anos, a FIA não pretende sancionar qualquer Evento Internacional, Campeonato, Taça, Troféu, Desafio ou Série envolvendo o Sr. Symonds, a qualquer cargo ocupado, ou outra entidade envolvendo o Sr. Symonds, a qualquer título. Ou de garantir licença a qualquer equipe que envolva o Sr. Symonds em algum cargo. Essas instruções valem, por um período de cinco anos, a todos os funcionários presentes em eventos sancionados pela FIA para não permitir que o Sr. Symonds tenha acesso a quaisquer áreas sob a jurisdição da FIA. Ao determinar que tais instruções devam valer por um período de cinco anos, o Conselho Mundial de Automobilismo levou em consideração: (i) o aceitação do Sr. Symonds em fazer parte dessa conspiração; e (ii) a sua comunicação para a audiência do Conselho Mundial de Automobilismo de que foi o seu “pesar e eterna vergonha” ter participado da conspiração.
Quanto ao Sr. Piquet Jr., o Conselho Mundial de Automobilismo confirma a imunidade de sanções individuais sob o Código Desportivo Internacional em relação a esse incidente, no qual a FIA havia garantido a ele em troca da voluntariedade de suas provas.
No que se refere a Fernando Alonso, o Conselho Mundial de Automobilismo agradece a ele por cooperar com as investigações da FIA e pela participação na audiência, e conclui que o Sr. Alonso não teve qualquer envolvimento na violação do regulamento pela equipe Renault.
O que presenciamos nos bastidores da Fórmula 1 nas últimas semanas é o que pode ser o maior escândalo de manipulação de resultado de Grande Prêmio da história da Fórmula 1 moderna. Flavio Briatore, no âmbito de seus mandos e desmandos na equipe Renault, já conhecidos desde o tempo da Benetton, arquitetou uma audaciosa estratégia para conseguir a liderança de Fernando Alonso no Grande Prêmio de Cingapura de 2008, através de um Safety Car.
Só que, para que ocorra um período de bandeira amarela com o carro-madrinha, algo teria que acontecer na prova. É aí que o cérebro diabólico de Briatore, com suas ideias maquiavélicas, entra em funcionamento.
Fernando Alonso, largando em décimo-quinto, largaria com pouco combustível, estratégia incomum para um piloto que larga nas últimas posições do grid. Um acidente, em local determinado, teria que acontecer em determinada volta. O asturiano, aproveitando o breve momento em que o pit começa a ser fechado, realiza seu pit stop. O pit é fechado, ninguém mais pode realizar paradas nos boxes até que a corrida seja reiniciada. Quando isso ocorrer, todos realizam seu pit stop, menos Alonso, que já o tinha feito, obtendo a liderança da prova.
A telemetria indica como Nelson Piquet Jr. executou a manobra que causou seu acidente
Mas, como uma ideia não é nada sem o trabalho braçal, Flavio precisava da colaboração de alguns. Nelson Piquet Jr., que até aquele momento, não tinha realizado grandes performances em seu primeiro ano na categoria máxima do automobilismo, apesar de um inusitado, mas considerável, segundo lugar no Grande Prêmio da Alemanha. Por que não cometer mais uma atitude "errada" para beneficiar a equipe? Bater propositadamente em uma curva, em determinada volta, para provocar o Safety Car e favorecer Fernando Alonso. Mas como fazer tudo parecer um acidente normal de corrida? Pat Symonds foi responsável pela arquitetura do plano. Contudo, Nelson Piquet Jr. precisava aceitar realizar a arriscada tarefa de provocar um acidente de maneira intencional. Isso, para Briatore, é fácil: é só ameaçar o novato de demissão e está tudo resolvido. E não adiantaria em nada negar a proposta, ser demitido da equipe e denunciar o plano. Ninguém acreditaria no rapaz.
Peças do jogo marcadas: é só executar o plano, que acaba dando certo, como vimos no final. Fernando Alonso foi o vencedor do primeiro Grande Prêmio noturno da história da Fórmula 1. Naquela ocasião, havia alguns que desconfiavam de manipulação de Flavio Briatore. Foram chamados de malucos.
Depois que Nelson Piquet Jr. foi demitido da equipe, em razão dos maus resultados, para ceder seu lugar a Romain Grosjean, a verdade finalmente apareceu: primeiro, atráves do relato de Nelson Piquet, depois, com seu filho confirmando tudo. Para tentar aliviar sua situação, a Renault resolveu demitir Briatore e Symonds da equipe. Trabalho a menos para Max Mosley, já que, à medida que o seu mandato vai chegando ao fim, ele vai execrando da Fórmula 1 os seus maiores desafetos pessoais. Assim como já o fez com Ron Dennis, Flavio Briatore era sua próxima vítima. E foi mais cedo que o presidente da FIA esperava.
O julgamento da próxima segunda, 21 de setembro, pode ser um marco na história da Fórmula 1, já que pode expulsar a Renault da categoria. Contudo, não espero que tal coisa aconteça, uma vez que os interesses comerciais já influenciam as decisões da Corte de Paris há muito tempo, vide o que aconteceu no Grande Prêmio da Hungria, quando, mesmo com uma roda solta, a Renault deliberadamente liberou Fernando Alonso dos boxes, pondo em risco a integridade da prova e das pessoas em volta do circuito, depois que a roda desprendeu do R29 do espanhol.
A equipe francesa foi suspensa por uma prova. Só que essa prova era justamente o Grande Prêmio da Europa, em Valencia, terra de Alonso. Temendo uma debandada geral da torcida, e a consequente baixa procura por ingressos, resolver apenas aplicar uma multa de míseros cinquenta mil euros.
Anulação da prova de Cingapura de 2008? Também não acredito, pois ficaria muito mais feio para a imagem da Fórmula 1, que já não anda muito bem das pernas, depois do escândalo da McLaren pirata, em 2007, que excluiu a McLaren do campeonato de construtores daquele ano, mas permitindo que seus pilotos, Lewis Hamilton, estreante, e Fernando Alonso, disputassem o mundial de pilotos. O máximo que possa acontecer é algo semelhante para a Renault, mas, como o fato a ser julgado é do campeonato do ano de 2008, fica difícil prever o veredicto.
O "olhar 43" denuncia o que muitos duvidavam...
Quem está certo, ou melhor, mais errado, nesta história? Flavio Briatore, que já é conhecido de longa data por suas artimanhas para obter resultados desde 1994, na equipe Benetton, e que de esporte a motor não entende nada, apenas sobre gestão de negócios? Pat Symonds, que montou a peça de teatro que resultou a vitória de Fernando Alonso do GP de Cingapura de 2008? Nelson Piquet Jr., por ter aceitado participar como protagonista da patacoada, e pondo em risco sua carreira, depois de denunciar o fato? É difícil dizer. Todos tem participação direta no acontecimento.
O que mais me intriga é o silêncio de Fernando Alonso. Em 2007, depois de sentir que não tinha condições iguais na McLaren para disputar o título contra Lewis Hamilton, disse tudo que sabia a respeito do "Stepneygate", que tinha como enredo principal o tráfico de informações dos projetos dos F1 da Ferrari para a equipe de Woking. O resultado disso foi a volta do asturiano para a Renault, equipe que o fez bicampeão da Fórmula 1, em 2005 e 2006. Agora, com rumores de sua transferência para a Ferrari, sua palavra a respeito do "Singaporegate" ainda não foi ouvida.
O que esperar do asturiano? Que devolva o troféu, permaneça em silêncio ou simplesmente dizer que não sabia de nada? Essa última é praticamente impossível, vide a estratégia adotada na prova, de largar atrás com pouco combustível, o que é praticamente sacrificar qualquer chance de obter um bom resultado no final da prova. Essa "blindagem" do espanhol é o fator mais preocupante nesta história.
Comemoração bastante exaltada para uma vitória "arranjada"...
Outro fator a ser considerado é mais extra-pista que a história do "Singaporegate". É sobre a carreira de Nelson Piquet Jr., que pode não conseguir um carro para continuar a competir na Fórmula 1, já que agora tem fama de crocodilo, X-9, dedo-duro, traidor, ou seja lá o termo que for, para definir a atitude que o piloto e seu pai tomaram, denunciando o ocorrido no ano passado. A família Piquet sempre foi conhecida, apesar do sucesso nas pistas de corrida, de falar pelos cotovelos, ganhando desafetos em diversas partes do mundo.
Trocando em miúdos, e adequando a história para a realidade: você, se fosse empresário, contrataria um funcionário que foi demitido de outra empresa e denunciou para todos os "podres" de seu empregador? Eu, sinceramente, não, apesar de "não dever nada para o cartório". Porque uma pessoa como essa pode ser capaz de qualquer coisa para obter vantagem, seja "puxando o tapete" dos colegas de trabalho ou algo semelhante, e isso não é bom para a imagem da empresa contratante perante o mercado de trabalho.
Resumo da ópera: Nelson Piquet Jr. chegou à Fórmula 1 graças ao trabalho de seu pai, que criou equipes em todas as categorias de base, como a Fórmula 3 e a GP2 Series, e colocando Nelsinho como "primeiro piloto". Tecnicamente, chegou lá, mas, psicologicamente, não teve o preparo necessário para suportar a pressão de obter resultados imediatos e satisfatórios, mesmo com um carro inferior ao de Fernando Alonso.
Já quando tinha um carro idêntico ao do espanhol, não conseguiu "emparelhar", indo em pouquíssimas oportunidades ao Q3 e ficando raramente na frente de Alonso. Será preciso que Nelson Piquet crie uma equipe de F1 para que seu filho possa competir na categoria? É o que saberemos nos próximos capítulos desta longa "novela", que não tem data para terminar.
Digo que demorou porque Nelsinho Piquet, como o pessoal do Brasil o chama, sempre teve a ajuda de seu pai, Nelson Piquet, desde as categorias de base até a Fórmula 3 e GP2, quando teve uma equipe comandada pelo pai e trabalhando para ele. Não teve a maturidade suficiente para encarar a Fórmula 1, que exige resultados rápidos e satisfatórios para quem quiser fazer carreira na categoria mais famosa do automobilismo mundial.
Não adiantou nada para Nelsinho fazer pose de "brasileirinho contra o resto do mundo", estilo Rubinho (nem precisava dizer quem era). Nelson Ângelo Piquet nunca precisou brigar contra o mundo e muito menos ele é um brasileirinho, pois sempre teve um pai que fizesse tudo para que ele chegasse à Fórmula 1.
Flavio Briatore não boicotou Nelsinho, pois ele é um homem de negócios, e não vai prejudicar intencionalmente um piloto em detrimento de outro, pois pontos dos dois pilotos valem pontos no Mundial de Construtores, e esses pontos significam dinheiro para a equipe. Briatore não seria maluco ou sádico o suficiente para acabar com a performance de um piloto simplesmente porque não seria de sua predileção.
Está certo dizer que Fernando Alonso foi privilegiado, mas agora, Nelson Piquet Jr. dizer que nunca teve uma chance de mostrar seu trabalho, aí estará faltando com a verdade. Nelsinho sempre disse que pressão nunca foi problema em sua vida, mas, diante da maior pressão que já encarou em sua carreira, não conseguiu um ponto sequer e se classificou apenas uma vez para o Q3.
Dizer que foi o melhor estreante brasileiro na Fórmula 1 é querer se colocar na mesma linha dos pilotos tupiniquins do passado, como Ayrton Senna e Emerson Fittipaldi, mas na época deles, o sistema de pontuação era diferente, e outra, Ayrton Senna, no seu ano de estreia, conseguiu três pódios e quase venceu o torrencial GP de Mônaco.
Agora, quem assumirá a vaga de Nelson Piquet Jr. pode ser Romain Grosjean, outro prepotente, assim como Flavio Briatore, que não entende patavina sobre carros e, assim como a equipe que comanda, somente usa a Fórmula 1 como mecanismo de marketing, empresariando vários pilotos.
O franco-suiço poderá se queimar também: basta que não corresponda âs expectativas de Briatore e será limado da Renault. Motivos não faltam. Um deles é o que ele demonstrou quando sofreu um acidente com Franck Perera, e perguntou: "quem é você mesmo?"
Abaixo, o comunicado oficial de Nelson Piquet Jr., publicado em seu site oficial. O detalhe é que, no texto, ele relata "Das nove primeiras corridas que eu fiz este ano...". Então a demissão era só uma questão de tempo, porque já foram realizadas dez etapas.
Recebi um comunicado da equipe Renault F1 referente a descontinuidade do meu trabalho como piloto oficial na atual temporada de F1. Não quero deixar de agradecer àquele pequeno grupo que me deu apoio e trabalhou diretamente comigo na Renault F1, mas, obviamente, fiquei bastante desapontado ao receber esta notícia. No entanto, sinto também uma sensação de alívio por ter chegado o fim do pior período da minha história profissional. Poderei, agora, recomeçar o desafio de colocar minha carreira de volta no caminho certo, e recuperar a minha reputação de piloto rápido e vencedor. Eu sempre soube trabalhar em equipe e existem dezenas de pessoas com quem trabalhei em minha carreira e que podem atestar meu caráter e talento, exceto, infelizmente, a pessoa que teve mais influência sobre a minha carreira na Fórmula 1.
Comecei a correr com oito anos de idade e quebrei recordes atrás de recordes. Ganhei todos os campeonatos de kart em que competi. Fui campeão da Fórmula 3 Sul-Americana, ganhando 14 corridas e conquistando 17 pole positions. Em 2003 fui para a Inglaterra com a minha própria equipe, para competir no campeonato Britânico de F3. Lá também conquistei o título, vencendo 12 corridas, conquistando 13 pole positions e terminando o ano como o mais jovem campeão na história daquela categoria. Competi na GP2 em 2005 e 2006, vencendo 5 corridas e conquistando 6 pole positions. Fiz uma ótima temporada no meu segundo ano, perdendo o campeonato para o Lewis Hamilton, devido a erros técnicos da nossa equipe, que considero também meus, incluindo uma pane seca durante uma etapa. Eu estabeleci um recorde na GP2 sendo o primeiro piloto a ter um fim de semana perfeito, conseguindo o máximo de pontos possíveis na Hungria em 2006. Nenhum outro piloto havia conseguido tal coisa até junho de 2009, quando Nico Hulkenberg repetiu o feito em Nurburgring.
O caminho para a F1 sempre foi complicado, e meu pai e eu, por isso, assinamos um contrato de management com o Flavio Briatore. Acreditávamos que seria uma excelente opção, pois ele possuía todos os contatos e as técnicas de negociação necessárias. Infelizmente, foi aí que o período negro da minha carreira começou. Passei um ano como piloto de testes, mas com poucos treinos. No ano seguinte iniciei como piloto oficial da Renault F1. Após a abertura da temporada, algumas situações estranhas começaram a acontecer. Como um novato na F1, eu esperava de minha equipe muito apoio e preparação para me ajudar a alcançar nossos objetivos. Em vez disso, eu era apenas tido como "aquele que pilotava o outro carro", sem atenção nenhuma. Para piorar, em inúmeras ocasiões, quinze minutos antes da classificação e das corridas, o meu manager e chefe de equipe me ameaçava, dizendo que se eu não conseguisse um bom resultado, ele já tinha outro piloto pronto para colocar no meu lugar. Eu nunca precisei de ameaças para obter resultados. Em 2008 eu conquistei 19 pontos e terminei no pódio uma vez em segundo lugar, fazendo a melhor temporada de estréia de um Brasileiro na F1.
Para a temporada 2009, Flávio Briatore, atuando novamente na função de meu manager e também de chefe de equipe da Renault F1, me prometeu que tudo seria diferente, que eu teria a atenção que merecia mas nunca havia recebido, e que teria pelo menos "igualdade de condições" dentro da equipe. Ele me fez assinar um contrato baseado em desempenho, exigindo que eu obtivesse 40% dos pontos de Fernando Alonso até a metade da temporada. Mesmo sendo companheiro de equipe de Fernando, bicampeão mundial e realmente um excelente piloto, eu estava confiante de que, se eu tivesse as mesmas condições, alcançaria facilmente os 40% dos pontos exigidos pelo contrato. Infelizmente, as promessas não se transformaram em realidade novamente. Com o carro novo eu completei 2.002 km de testes, contra os 3.839 quilômetros de Fernando. Apenas três dos meus dias de teste foram com pista seca e bom tempo, apenas um dos testes do Fernando foi em pista molhada. Eu testava sempre com o carro pesado, pneus duros, principalmente no primeiro dia (quando a pista é lenta ou a confiabilidade pequena), ou então com o tempo ruim. Fernando testava um carro leve, pneus moles, pista seca e em boas condições. Eu nunca tive a chance de estar preparado para classificar no sistema que utilizamos. Na Fórmula 1 de hoje, a diferença entre o 1º e 15º é, muitas vezes, menos de um segundo. Isso significa que 0.2 ou 0.3s pode fazer você ganhar oito posições. Além disso, devido à proibição de testes durante o campeonato, o desenvolvimento do carro hoje acontece de corrida a corrida. Das nove primeiras corridas que eu fiz este ano, em quatro delas o Fernando teve um upgrade significativo no carro, e eu não. Eu fui informado pelos engenheiros da Renault que, nessas corridas eu tive um carro que estava entre 0.5 e 0.8s por volta mais lento do que o do meu companheiro. Se olharmos para a prova da Alemanha (onde eu classifiquei na frente do meu companheiro de equipe apesar de tudo isso), caso eu tivesse a citada vantagem na classificação eu teria sido quinto e não décimo. Se tivéssemos essa diferença a nosso favor na corrida, eu teria terminado na frente do meu companheiro, o que fiz em Silverstone, apesar de ele ter podido contar com as atualizações que eu não tinha.
Acredito plenamente, no meu talento e no meu desempenho. Não consegui chegar até aqui obtendo maus resultados. Quem conhece a minha história sabe que os resultados que estou tendo na F1 não correspondem ao meu currículo e minha habilidade. As condições que tive de enfrentar durante os últimos dois anos têm sido no mínimo atípicas, existindo alguns incidentes que mal posso acreditar que me ocorreram. Se eu agora preciso dar explicações, estou certo de que é por causa da situação injusta e desfavorável que tenho vivido nos últimos dois anos. Eu sempre acreditei que ter um manager seria fazer parte de uma equipe e que teria nele um parceiro. Um manager deve encorajar, apoiar e fornecer oportunidades. No meu caso aconteceu o contrário, Flávio Briatore foi o meu carrasco.
Estar sob pressão não é novidade para mim. Devido ao meu nome, recebi muitas críticas ao longo da minha carreira e tive também várias expectativas criadas a meu respeito. Na maioria das vezes eu fui além delas. Nunca antes senti a necessidade de me defender ou de responder a boatos e críticas. Eu sabia a verdade e só pensava em me concentrar na corrida. Eu nunca deixei que essas coisas me afetassem. Felizmente, eu agora posso dizer àquelas pessoas que me apoiaram durante a minha carreira que ela está voltando à direção certa e eu já estou considerando as opções para recomeçar a minha trajetória na F1 de uma forma justa e muito positiva.
As imagens oficiais não mostraram, mas um vídeo amador capturou o momento em que Nelson Piquet Jr. roda e quase bate no muro. Realmente, o encontro do piloto com o muro estava marcado para aquela noite.