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Briatore é banido da Fórmula 1, Pat Symonds pega 5 anos

O Conselho Mundial da FIA decidiu, em uma reunião que durou apenas 90 minutos, banir Flavio Briatore de qualquer competição organizada pela FIA, além de não poder mais ser empresário de qualquer piloto que esteja participando destes campeonatos. Pat Symonds recebeu punição semelhante, com a exceção de que o tempo da punição é de cinco anos.

A exemplo do que aconteceu com a McLaren na primeira etapa da temporada de 2009, em Melbourne, a Renault recebeu uma suspensão de dois anos, mas a pena não será aplicada, exceto se a equipe francesa "andar fora da linha" novamente.

Nelson Piquet Jr. e Fernando Alonso foram considerados inocentes, o primeiro, por conta da "delação premiada", e o segundo, por não haver provas de seu envolvimento no caso "Singaporegate".

Não irei repetir minha opinião acerca deste assunto, ela está expressa neste link. Mas o que digo aqui é que já era hora de Flavio Briatore, um cara que vendia roupas, comandar uma equipe de Fórmula 1, não seria coisa boa, justamente porque não entendia nada do esporte a motor quando, em 1994, foi dirigir a Benetton.

O que mais me preocupa é essa "blindagem" que Fernando Alonso recebeu, porque não precisou dizer nada a respeito, apesar de Nelson Piquet Jr. ter dito que o asturiano não sabia de nada.

Já para Nelsinho, será muito difícil para ele conseguir uma vaga na Fórmula 1 do ano que vem, a não ser que venha com patrocínios fortes e compre um assento nas equipes menores, que estrearão em 2010. Mesmo assim, a situação está bastante complicada, uma vez que não conseguiu mostrar uma boa performance no ano e meio que esteve na Renault.

Abaixo, a transcrição do veredicto do Conselho Mundial da FIA:

O Conselho Mundial de Automobilismo considera que os membros da equipe Renault, Flavio Briatore, Pat Symonds e Nelson Piquet Jr. conspiraram para causar um acidente deliberado no Grande Prêmio de Cingapura de 2008. O Conselho Mundial de Automobilismo, portanto, considera que a Renault, sob o artigo 123 do Código Desportivo Mundial, é responsável pela ação de seus empregados em violação aos Artigos 151 (c) e ponto 2 (c) do Capítulo IV do Apêndice L do Código e Artigos 3.2, 30.3 e/ou 39.1 do Regulamento Esportivo da Fórmula 1.

O Conselho Mundial de Automobilismo considera a violação da Renault no Grande Prêmio de Cingapura de 2008 como de gravidade sem precedentes. A violação da Renault não apenas compromete a integridade do esporte, mas também coloca em perigo a vida dos espectadores, fiscais, outros competidores e o próprio Nelson Piquet Jr. O Conselho Mundial de Automobilismo considera que crimes dessa gravidade merecem desclassificação permanente do campeonato mundial de Fórmula 1 da FIA. Porém, tendo em conta todos os pontos acima mencionados e as medidas adotadas pela Renault para identificar e resolver as falhas dentro da sua equipe e condenar as ações dos indivíduos envolvidos, o WMSC decidiu suspender a Renault até o fim da temporada de 2011. O Conselho Mundial de Automobilismo só ativará essa desqualificação se a Renault for considerada culpada de uma violação semelhante durante esse tempo.

Além disso, o Conselho Mundial de Automobilismo nota as desculpas da Renault e está de acordo que a equipe deve pagar pelos custos da investigação. Também aceita a oferta de uma significante contribuição para o trabalho de segurança da FIA.

Quanto ao Sr. Briatore, o Conselho Mundial de Automobilismo declara que, por um período ilimitado, a FIA não pretende sancionar qualquer Evento Internacional, Campeonato, Taça, Troféu, Desafio ou Série envolvendo o Sr. Briatore, a qualquer cargo ocupado, ou outra entidade envolvendo o Sr. Briatore, a qualquer título. Isso também incluiu instruções a todos os funcionários presentes em eventos sancionados pela FIA a não permitir que o Sr. Briatore tenha acesso às áreas sob a jurisdição da FIA. Além disso, não pretendemos renovar qualquer Super-Licença garantida a qualquer piloto associado (através de um contrato de gestão ou qualquer outro) com o Sr. Briatore ou qualquer entidade ou indivíduo associado ao Sr. Briatore. Ao determinar que tais instruções sejam aplicadas por um período ilimitado, o Conselho Mundial de Automobilismo teve em conta não apenas a gravidade da violação na qual o Sr. Briatore foi cúmplice, mas também por ele continuar a negar sua participação na violação apesar de todas as evidências.

Quanto ao Sr. Symonds, o Conselho Mundial de Automobilismo declara que, por um período de cinco anos, a FIA não pretende sancionar qualquer Evento Internacional, Campeonato, Taça, Troféu, Desafio ou Série envolvendo o Sr. Symonds, a qualquer cargo ocupado, ou outra entidade envolvendo o Sr. Symonds, a qualquer título. Ou de garantir licença a qualquer equipe que envolva o Sr. Symonds em algum cargo. Essas instruções valem, por um período de cinco anos, a todos os funcionários presentes em eventos sancionados pela FIA para não permitir que o Sr. Symonds tenha acesso a quaisquer áreas sob a jurisdição da FIA. Ao determinar que tais instruções devam valer por um período de cinco anos, o Conselho Mundial de Automobilismo levou em consideração: (i) o aceitação do Sr. Symonds em fazer parte dessa conspiração; e (ii) a sua comunicação para a audiência do Conselho Mundial de Automobilismo de que foi o seu “pesar e eterna vergonha” ter participado da conspiração.

Quanto ao Sr. Piquet Jr., o Conselho Mundial de Automobilismo confirma a imunidade de sanções individuais sob o Código Desportivo Internacional em relação a esse incidente, no qual a FIA havia garantido a ele em troca da voluntariedade de suas provas.

No que se refere a Fernando Alonso, o Conselho Mundial de Automobilismo agradece a ele por cooperar com as investigações da FIA e pela participação na audiência, e conclui que o Sr. Alonso não teve qualquer envolvimento na violação do regulamento pela equipe Renault.

Singaporegate: apenas mais um escândalo


O que presenciamos nos bastidores da Fórmula 1 nas últimas semanas é o que pode ser o maior escândalo de manipulação de resultado de Grande Prêmio da história da Fórmula 1 moderna. Flavio Briatore, no âmbito de seus mandos e desmandos na equipe Renault, já conhecidos desde o tempo da Benetton, arquitetou uma audaciosa estratégia para conseguir a liderança de Fernando Alonso no Grande Prêmio de Cingapura de 2008, através de um Safety Car.

Só que, para que ocorra um período de bandeira amarela com o carro-madrinha, algo teria que acontecer na prova. É aí que o cérebro diabólico de Briatore, com suas ideias maquiavélicas, entra em funcionamento.

Fernando Alonso, largando em décimo-quinto, largaria com pouco combustível, estratégia incomum para um piloto que larga nas últimas posições do grid. Um acidente, em local determinado, teria que acontecer em determinada volta. O asturiano, aproveitando o breve momento em que o pit começa a ser fechado, realiza seu pit stop. O pit é fechado, ninguém mais pode realizar paradas nos boxes até que a corrida seja reiniciada. Quando isso ocorrer, todos realizam seu pit stop, menos Alonso, que já o tinha feito, obtendo a liderança da prova.

A telemetria indica como Nelson Piquet Jr. executou a manobra que causou seu acidente
Mas, como uma ideia não é nada sem o trabalho braçal, Flavio precisava da colaboração de alguns. Nelson Piquet Jr., que até aquele momento, não tinha realizado grandes performances em seu primeiro ano na categoria máxima do automobilismo, apesar de um inusitado, mas considerável, segundo lugar no Grande Prêmio da Alemanha. Por que não cometer mais uma atitude "errada" para beneficiar a equipe? Bater propositadamente em uma curva, em determinada volta, para provocar o Safety Car e favorecer Fernando Alonso. Mas como fazer tudo parecer um acidente normal de corrida? Pat Symonds foi responsável pela arquitetura do plano. Contudo, Nelson Piquet Jr. precisava aceitar realizar a arriscada tarefa de provocar um acidente de maneira intencional. Isso, para Briatore, é fácil: é só ameaçar o novato de demissão e está tudo resolvido. E não adiantaria em nada negar a proposta, ser demitido da equipe e denunciar o plano. Ninguém acreditaria no rapaz.

Peças do jogo marcadas: é só executar o plano, que acaba dando certo, como vimos no final. Fernando Alonso foi o vencedor do primeiro Grande Prêmio noturno da história da Fórmula 1. Naquela ocasião, havia alguns que desconfiavam de manipulação de Flavio Briatore. Foram chamados de malucos.

Depois que Nelson Piquet Jr. foi demitido da equipe, em razão dos maus resultados, para ceder seu lugar a Romain Grosjean, a verdade finalmente apareceu: primeiro, atráves do relato de Nelson Piquet, depois, com seu filho confirmando tudo. Para tentar aliviar sua situação, a Renault resolveu demitir Briatore e Symonds da equipe. Trabalho a menos para Max Mosley, já que, à medida que o seu mandato vai chegando ao fim, ele vai execrando da Fórmula 1 os seus maiores desafetos pessoais. Assim como já o fez com Ron Dennis, Flavio Briatore era sua próxima vítima. E foi mais cedo que o presidente da FIA esperava.

O julgamento da próxima segunda, 21 de setembro, pode ser um marco na história da Fórmula 1, já que pode expulsar a Renault da categoria. Contudo, não espero que tal coisa aconteça, uma vez que os interesses comerciais já influenciam as decisões da Corte de Paris há muito tempo, vide o que aconteceu no Grande Prêmio da Hungria, quando, mesmo com uma roda solta, a Renault deliberadamente liberou Fernando Alonso dos boxes, pondo em risco a integridade da prova e das pessoas em volta do circuito, depois que a roda desprendeu do R29 do espanhol.

A equipe francesa foi suspensa por uma prova. Só que essa prova era justamente o Grande Prêmio da Europa, em Valencia, terra de Alonso. Temendo uma debandada geral da torcida, e a consequente baixa procura por ingressos, resolver apenas aplicar uma multa de míseros cinquenta mil euros.

Anulação da prova de Cingapura de 2008? Também não acredito, pois ficaria muito mais feio para a imagem da Fórmula 1, que já não anda muito bem das pernas, depois do escândalo da McLaren pirata, em 2007, que excluiu a McLaren do campeonato de construtores daquele ano, mas permitindo que seus pilotos, Lewis Hamilton, estreante, e Fernando Alonso, disputassem o mundial de pilotos. O máximo que possa acontecer é algo semelhante para a Renault, mas, como o fato a ser julgado é do campeonato do ano de 2008, fica difícil prever o veredicto.

O "olhar 43" denuncia o que muitos duvidavam...
Quem está certo, ou melhor, mais errado, nesta história? Flavio Briatore, que já é conhecido de longa data por suas artimanhas para obter resultados desde 1994, na equipe Benetton, e que de esporte a motor não entende nada, apenas sobre gestão de negócios? Pat Symonds, que montou a peça de teatro que resultou a vitória de Fernando Alonso do GP de Cingapura de 2008? Nelson Piquet Jr., por ter aceitado participar como protagonista da patacoada, e pondo em risco sua carreira, depois de denunciar o fato? É difícil dizer. Todos tem participação direta no acontecimento.

O que mais me intriga é o silêncio de Fernando Alonso. Em 2007, depois de sentir que não tinha condições iguais na McLaren para disputar o título contra Lewis Hamilton, disse tudo que sabia a respeito do "Stepneygate", que tinha como enredo principal o tráfico de informações dos projetos dos F1 da Ferrari para a equipe de Woking. O resultado disso foi a volta do asturiano para a Renault, equipe que o fez bicampeão da Fórmula 1, em 2005 e 2006. Agora, com rumores de sua transferência para a Ferrari, sua palavra a respeito do "Singaporegate" ainda não foi ouvida.

O que esperar do asturiano? Que devolva o troféu, permaneça em silêncio ou simplesmente dizer que não sabia de nada? Essa última é praticamente impossível, vide a estratégia adotada na prova, de largar atrás com pouco combustível, o que é praticamente sacrificar qualquer chance de obter um bom resultado no final da prova. Essa "blindagem" do espanhol é o fator mais preocupante nesta história.

Comemoração bastante exaltada para uma vitória "arranjada"...
Outro fator a ser considerado é mais extra-pista que a história do "Singaporegate". É sobre a carreira de Nelson Piquet Jr., que pode não conseguir um carro para continuar a competir na Fórmula 1, já que agora tem fama de crocodilo, X-9, dedo-duro, traidor, ou seja lá o termo que for, para definir a atitude que o piloto e seu pai tomaram, denunciando o ocorrido no ano passado. A família Piquet sempre foi conhecida, apesar do sucesso nas pistas de corrida, de falar pelos cotovelos, ganhando desafetos em diversas partes do mundo.

Trocando em miúdos, e adequando a história para a realidade: você, se fosse empresário, contrataria um funcionário que foi demitido de outra empresa e denunciou para todos os "podres" de seu empregador? Eu, sinceramente, não, apesar de "não dever nada para o cartório". Porque uma pessoa como essa pode ser capaz de qualquer coisa para obter vantagem, seja "puxando o tapete" dos colegas de trabalho ou algo semelhante, e isso não é bom para a imagem da empresa contratante perante o mercado de trabalho.

Resumo da ópera: Nelson Piquet Jr. chegou à Fórmula 1 graças ao trabalho de seu pai, que criou equipes em todas as categorias de base, como a Fórmula 3 e a GP2 Series, e colocando Nelsinho como "primeiro piloto". Tecnicamente, chegou lá, mas, psicologicamente, não teve o preparo necessário para suportar a pressão de obter resultados imediatos e satisfatórios, mesmo com um carro inferior ao de Fernando Alonso.

Já quando tinha um carro idêntico ao do espanhol, não conseguiu "emparelhar", indo em pouquíssimas oportunidades ao Q3 e ficando raramente na frente de Alonso. Será preciso que Nelson Piquet crie uma equipe de F1 para que seu filho possa competir na categoria? É o que saberemos nos próximos capítulos desta longa "novela", que não tem data para terminar.