O canadense, que era líder da classificação do campeonato de pilotos, foi simplesmente suspenso da corrida. É que Jacques Villeneuve já tinha desrespeitado bandeiras amarelas outras duas vezes durante a temporada. Como era re-reincidente, o canadense foi excluído da corrida.
A Williams conseguiu uma liminar para que Villeneuve participasse da prova, mas já era sabido por todos que o canadense seria desclassificado quando o mérito da ação fosse julgado.
Restava a Jacques tentar atrapalhar ao máximo a corrida de Michael Schumacher para que o piloto da Ferrari não marcasse muitos pontos. Villeneuve ficou com a pole, superando Schumacher por apenas seis centésimos, mas o alemão tinha um aliado com o qual Villeneuve não contava.
Eddie Irvine se colocou em terceiro no grid, com Heinz-Harald Frentzen, companheiro de equipe de Jacques Villeneuve, apenas em sexto, longe demais para tentar ajudar. A tática da Ferrari, bolada por Ross Brawn, seria Irvine ultrapassar Schumacher na segunda volta e partir para cima de Villeneuve.
Numa manobra ousada, Irvine assumiu a liderança da corrida, e Villeneuve e Schumacher ficaram novamente juntos. Villeneuve fazia uma corrida de marcação homem a homem em Schumacher: não o deixava ultrapassar, ao mesmo tempo em que impunha um ritmo muito baixo, fazendo com que Mika Häkkinen, Heinz-Harald Frentzen e outros pilotos formassem um pelotão e encostassem no vice-líder do campeonato e o atacassem.
Só que Frentzen não conseguia ultrapassar Häkkinen, para partir para cima de Schumacher. A corrida ficou assim até a primeira rodada de pit stops. Schumacher parou uma volta antes de Villeneuve, e quando estava na reta dos boxes, Villeneuve voltou à pista, jogando o seu Williams em cima da Ferrari do alemão.
Schumacher não recuou e deu uma guinada para a direita, tomando a posição de Villeneuve. A Ferrari mandou Irvine tirar o pé para Schumacher assumir a ponta e vencer. Villeneuve, superado por Häkkinen e Frentzen, acabaria apenas em quinto. Como era esperado, o piloto canadense acabou desclassificado da corrida, não marcando pontos. Schumacher reassumiu a ponta do campeonato. Faltando apenas uma corrida, a diferença para Villeneuve era de apenas um ponto.
O Circuito de Jerez de la Frontera nem estava nos planos da Formula One Management para a temporada 1997. O palco da última etapa daquele ano era para ser o Circuito do Estoril, em Portugal, só que problemas na organização surgiram no começo do ano, e já em maio, a FIA descartou a hipótese de passar por lá no final de outubro.
Assim, o autódromo espanhol mencionado no parágrafo acima se tornaria o local para onde os holofotes do esporte a motor mundial seriam direcionados. O assim chamado Grande Prêmio da Europa, já que o Grande Prêmio da Espanha já havia acontecido no Circuit de Barcelona-Catalunya, foi disputado de 24 a 26 de outubro de 1997.
A corrida decidiria quem seria o campeão mundial de Fórmula 1 daquele ano: Jacques Villeneuve ou Michael Schumacher. Como destino pouco é bobagem, os anais do Circuito de Jerez de la Frontera ganhariam capítulos que entrariam para a história do automobilismo já no sábado.
Se já não bastasse o fato de o Circuito de Jerez ser o local onde várias equipes faziam seus testes de pré-temporada há anos e o fato de a decisão de um campeonato de Fórmula 1 cair de para-quedas lá, foi a sessão de qualificação onde TRÊS pilotos marcaram o mesmo tempo da pole position, fato que nunca havia acontecido e nunca se repetiu na história da Fórmula 1.
Depois, Michael Schumacher vinha na última parcial 0,3 segundo abaixo do tempo do canadense. Tudo levava a crer que o piloto da Ferrari conseguiria conquistar a pole, mas perdeu a dianteira do carro na saída da última curva, e cruzou a linha de chegada marcando o tempo de 1:21.072, o mesmo tempo de Jacques.
Logo após, Frentzen tentava dar o troco no companheiro de equipe. Também vinha mais rápido na última parcial, um décimo abaixo, mas também perdeu a diferença conquistada durante a volta, marcando também 1:21.072.
As posições dos três pilotos no grid de largada foram decididas levando-se em consideração o que definia o regulamento, o qual estabelece que, em caso de empate nos tempos de volta, o piloto que marcou primeiro fica à frente do concorrente.
Pos | Nº | Piloto | Equipe | Tempo de Volta | Diferença |
---|---|---|---|---|---|
1 | 3 | Jacques Villeneuve | Williams-Renault | 1:21.072 | |
2 | 5 | Michael Schumacher | Ferrari | 1:21.072 | +0.000 |
3 | 4 | Heinz-Harald Frentzen | Williams-Renault | 1:21.072 | +0.000 |
4 | 1 | Damon Hill | Arrows-Yamaha | 1:21.130 | +0.058 |
5 | 9 | Mika Häkkinen | McLaren-Mercedes | 1:21.369 | +0.297 |
6 | 10 | David Coulthard | McLaren-Mercedes | 1:21.476 | +0.404 |
7 | 6 | Eddie Irvine | Ferrari | 1:21.610 | +0.538 |
8 | 8 | Gerhard Berger | Benetton-Renault | 1:21.656 | +0.584 |
9 | 14 | Olivier Panis | Prost-Mugen-Honda | 1:21.735 | +0.663 |
10 | 7 | Jean Alesi | Benetton-Renault | 1:22.011 | +0.939 |
11 | 23 | Jan Magnussen | Stewart-Ford | 1:22.167 | +1.095 |
12 | 22 | Rubens Barrichello | Stewart-Ford | 1:22.222 | +1.150 |
13 | 2 | Pedro Diniz | Arrows-Yamaha | 1:22.234 | +1.162 |
14 | 16 | Johnny Herbert | Sauber-Petronas | 1:22.263 | +1.191 |
15 | 15 | Shinji Nakano | Prost-Mugen-Honda | 1:22.351 | +1.279 |
16 | 11 | Ralf Schumacher | Jordan-Peugeot | 1:22.740 | +1.668 |
17 | 12 | Giancarlo Fisichella | Jordan-Peugeot | 1:22.804 | +1.732 |
18 | 17 | Norberto Fontana | Sauber-Petronas | 1:23.281 | +2.209 |
19 | 20 | Ukyo Katayama | Minardi-Hart | 1:23.409 | +2.337 |
20 | 21 | Tarso Marques | Minardi-Hart | 1:23.854 | +2.782 |
21 | 19 | Mika Salo | Tyrrell-Ford | 1:24.222 | +3.150 |
22 | 18 | Jos Verstappen | Tyrrell-Ford | 1:24.301 | +3.229 |
Se, em Suzuka, Michael Schumacher teve o apoio de Eddie Irvine, em Jerez, "os papéis se inverteram": o irlandês foi discreto na classificação, marcando apenas o sétimo tempo. Agora, era Jacques Villeneuve que estava cercado de "aliados": Heinz-Harald Frentzen em terceiro, e Damon Hill, seu antigo companheiro de equipe, e rival de Schumacher, em um ótimo quarto lugar com uma Arrows.
Três anos antes, Michael Schumacher teve culhões para jogar seu carro em cima do de Damon Hill para conquistar seu primeiro título mundial de pilotos. Havia a sensação de dèjá vu no ar, ainda mais depois de Villeneuve ter jogado pesado em Suzuka. Em vantagem no campeonato, era bem provável que Schumacher, caso precisasse, usasse do mesmo artifício.
Então, na volta sete, acontece a troca de posições entre os pilotos da Williams. Logo, os dois postulantes ao título estavam bem próximos.
Nos pit stops, ao contrário do que ocorreu ao longo dos anos 1990, a Williams trabalhou de forma exemplar, sendo mais rápida do que a Ferrari, deixando Villeneuve ainda mais próximo de Schumacher.
Quando ambos voltaram à pista, estavam atrás de Heinz-Harald Frentzen, que estava para efetuar sua parada nos boxes em breve. O companheiro de equipe de Jacques Villeneuve conseguiu segurar o ritmo de seu compatriota, fazendo com que Villeneuve indicasse claramente onde tentaria a ultrapassagem: no final da reta oposta, onde fica a curva seis, chamada Dry Sac.
O argentino Norberto Fontana guiava pela Sauber, que usava motores Ferrari. Praticamente estendeu o tapete para Michael Schumacher. Quando chegou a vez de Jacques Villeneuve, o argentino segurou o piloto da Williams por algumas curvas, fazendo o canadense perder tempo.
Fontana diria, anos depois, que começou a corrida com a instrução de segurar Villeneuve quando se encontrassem na pista, algo que ninguém havia notado na época. Todos imaginavam que Norberto Fontana era apenas um retardatário ligeiramente atrapalhado.
A segunda rodada de pit stops aconteceu sem modificações nas posições de pista, e as coisas teriam que ser resolvidas no braço. Jacques Villeneuve precisava ultrapassar. Michael Schumacher, apenas segurar a liderança.
Michael Schumacher teve apenas alguns décimos de segundo para reagir ao lance, e o fez da pior forma possível: jogando seu carro em cima do de Jacques Villeneuve. A câmera onboard instalada no carro da Ferrari registrou o movimento dos braços de Schumacher, e era nítida e flagrante a forma como tentou defender a posição. Sua roda dianteira direita bateu com força no Williams de Villeneuve.
Só que, ao contrário do que aconteceu em 1994, a pancada não surtiu efeito. O carro de Schumacher atingiu apenas a lateral do de Villeneuve. O alemão acabou saindo para fora da pista e atolando na caixa de brita. Com o impacto, a barra de direção quebrou, impossibilitando que o carro continuasse a prova de qualquer maneira.
Antes da corrida, as equipes britânicas Williams e McLaren entraram em um acordo, juntando forças contra a Ferrari. Se Villeneuve estivesse com o título garantido, a McLaren, que estava disposta a ajudar durante a prova, segurando Schumacher se necessário, ganharia a corrida. Só que os pilotos de ambas as equipes não estavam sabendo do trato.
Entretanto, para Ron Dennis, não bastava a vitória, ela tinha que ser do piloto que ele queria. Mika Häkkinen, depois de um começo de temporada difícil, conseguiu mostrar sua habitual velocidade na segunda metade do campeonato, só que com muitas quebras de equipamento.
Ron Dennis tinha uma clara preferência pelo finlandês. David Coulthard vinha em segundo, com Mika Häkkinen logo atrás. Faltando dez voltas, com Villeneuve tirando o pé, Dennis mandou Coulthard deixar Hakkinen passar. O escocês se fez de desentendido, e respondia que não conseguia escutar o rádio.
Foi preciso uma ameaça um pouco mais enérgica para que Coulthard deixasse o colega passar. A frase exata para o escocês foi: "se você não deixar Mika passar, será demitido, ok?". Na última volta, Villeneuve deixou a dupla da McLaren passar.
No final da volta, Coulthard concede a liderança para Häkkinen ser o primeiro a enxergar a bandeira quadriculada em preto e branco. Na reta de chegada, o canadense se distraiu, e quase perdeu a terceira posição para Gerhard Berger, que ultrapassou Eddie Irvine na abertura da volta e chegou colado, em quarto.
Pos | No | Piloto | Construtor | Voltas | Tempo | Grid | Pontos |
---|---|---|---|---|---|---|---|
1 | 9 | Mika Häkkinen | McLaren-Mercedes | 69 | 1:38:57.772 | 5 | 10 |
2 | 10 | David Coulthard | McLaren-Mercedes | 69 | 1.654 | 6 | 6 |
3 | 3 | Jacques Villeneuve | Williams-Renault | 69 | 1.803 | 1 | 4 |
4 | 8 | Gerhard Berger | Benetton-Renault | 69 | 1.919 | 8 | 3 |
5 | 6 | Eddie Irvine | Ferrari | 69 | 3.789 | 7 | 2 |
6 | 4 | Heinz-Harald Frentzen | Williams-Renault | 69 | 4.537 | 3 | 1 |
7 | 14 | Olivier Panis | Prost-Mugen-Honda | 69 | +1:07.145 | 9 | |
8 | 16 | Johnny Herbert | Sauber-Petronas | 69 | +1:13.0 | 14 | |
9 | 23 | Jan Magnussen | Stewart-Ford | 69 | +1:17.487 | 11 | |
10 | 15 | Shinji Nakano | Prost-Mugen-Honda | 69 | +1:18.215 | 15 | |
11 | 12 | Giancarlo Fisichella | Jordan-Peugeot | 68 | +1 volta | 17 | |
12 | 19 | Mika Salo | Tyrrell-Ford | 68 | +1 volta | 21 | |
13 | 7 | Jean Alesi | Benetton-Renault | 68 | +1 volta | 10 | |
14 | 17 | Norberto Fontana | Sauber-Petronas | 68 | +1 volta | 18 | |
15 | 21 | Tarso Marques | Minardi-Hart | 68 | +1 volta | 20 | |
16 | 18 | Jos Verstappen | Tyrrell-Ford | 68 | +1 volta | 22 | |
17 | 20 | Ukyo Katayama | Minardi-Hart | 68 | +1 volta | 19 | |
Ret | 5 | Michael Schumacher | Ferrari | 47 | Colisão | 2 | |
Ret | 1 | Damon Hill | Arrows-Yamaha | 47 | Câmbio | 4 | |
Ret | 11 | Ralf Schumacher | Jordan-Peugeot | 44 | Água | 16 | |
Ret | 22 | Rubens Barrichello | Stewart-Ford | 30 | Câmbio | 12 | |
Ret | 2 | Pedro Diniz | Arrows-Yamaha | 11 | Rodada | 13 |
Pos | Piloto | Pontos |
---|---|---|
1 | Jacques Villeneuve | 81 |
DSQ | Michael Schumacher | 78 |
2 | Heinz-Harald Frentzen | 42 |
3 | David Coulthard | 36 |
4 | Jean Alesi | 36 |
5 | Gerhard Berger | 27 |
6 | Mika Häkkinen | 27 |
7 | Eddie Irvine | 24 |
8 | Giancarlo Fisichella | 20 |
9 | Olivier Panis | 16 |
10 | Johnny Herbert | 15 |
11 | Ralf Schumacher | 13 |
12 | Damon Hill | 7 |
13 | Rubens Barrichello | 6 |
14 | Alexander Wurz | 4 |
15 | Jarno Trulli | 3 |
16 | Pedro Paulo Diniz | 2 |
17 | Mika Salo | 2 |
18 | Shinji Nakano | 2 |
19 | Nicola Larini | 1 |
20 | Jan Magnussen | 0 |
21 | Jos Verstappen | 0 |
22 | Gianni Morbidelli | 0 |
23 | Norberto Fontana | 0 |
24 | Ukyo Katayama | 0 |
25 | Tarso Marques | 0 |
- | Ricardo Rosset | - |
- | Vincenzo Sospiri | - |
O mundo inteiro condenou a atitude de Michael Schumacher. Seu vice-campeonato acabaria sendo cassado, mas todos os seus pontos, poles e vitórias que conquistou em 1997, foram mantidos apenas para fins de estatísticas. Ou seja, o alemão praticamente não foi punido, mas sua carreira extremamente vitoriosa foi, assim como em 1994, marcada por mais uma mancha.
Postar um comentário