Gurney Flap: como o apêndice aerodinâmico de Dan Gurney revolucionou o automobilismo e a aeronáutica

Mercedes AMG F1 Gurney Flap
Muitas invenções complexas e de difícil compreensão foram criadas ao longo dos anos com o intuito de produzir carros mais rápidos. O conceito de carro-asa de Colin Chapman, o Brabham BT52 de formato triangular e o McLaren MP4/4 achatado de Gordon Murray, os carros vencedores de Rory Byrne e Adrian Newey...

No entanto, uma simples solução, criada por um americano chamado Dan Gurney, iria muito além do automobilismo, indo parar os aviões e helicópteros: um apêndice instalado na ponta do aerofólio traseiro de um carro da Indy.

Dan Gurney, além de ter sido o primeiro piloto a usar um capacete totalmente fechado, protegendo a integralidade do crânio, e de inventar, acidentalmente, a comemoração do spray de champagne no pódio, criou um dispositivo aerodinâmico que se tornou o mais influente nos designs do automobilismo e até da aeronáutica.
Dan Gurney All American Racers IndyCar Juan Manuel Fangio II
Em 1970, após obter várias vitórias na Fórmula 1, IndyCar, Le Mans e NASCAR, Dan Gurney resolveu se aposentar da profissão de piloto, e começou a trabalhar em tempo integral na sua própria equipe, a All American Racers, que fundou em 1964, juntamente com Carroll Shelby. No ano seguinte, Bobby Unser, seu piloto, estava testando um carro projetado por Gurney, no Phoenix International Raceway.

Quando saiu do carro, Unser não estava contente com a performance do mesmo. Ameaçou deixar de pilotar o carro caso o projetista não o tornasse mais rápido. Gurney precisava fazer alguma coisa para restaurar a confiança de seu piloto antes da corrida.

Então, resolveu aplicar uma solução rudimentar, paliativa e rápida: colocar na prática um experimento conduzido por algumas equipes nos anos 1950, que colocavam spoilers afixados na traseira dos carros para anular o efeito de erguimento da carroceria em altas velocidades, que provocavam instabilidade.
Bobby Unser 1971 Eagle Dan Gurney Racing
Em menos de uma hora, um apêndice aerodinâmico, uma lâmina de alumínio disposta em ângulo reto (90 graus), estava pronto e instalado na asa traseira. Bobby Unser foi para a pista novamente, mas o resultado no cronômetro foi o mesmo.

Após sair da pista, quando teve a oportunidade, em meio aos mecânicos cabisbaixos, o piloto foi conversar com Dan Gurney em particular, e disse que não conseguiu ser mais rápido pois o carro estava tão firme na traseira que começou a sair de frente.

A solução era mais simples ainda: aumentar o ângulo de ataque do aerofólio dianteiro, de forma que produzisse mais downforce e tornasse o carro mais rápido nas curvas.

Dan Gurney e Bobby Unser esconderam o segredo durante o tempo que puderam, afirmando que o apêndice aerodinâmico era um mero dispositivo de segurança, ou simplesmente um apoio para os mecânicos no momento de empurrar o carro. Entretanto, muitos começaram a copiar a peça, mesmo sem entender o fenômeno que provocava. Aumentaram e reduziram as dimensões, mas sempre falharam, já que as medidas devem ser da proporção correta em relação ao tamanho do plano do aerofólio.
How a Gurney Flap works: vortices reattach flow and redirect it slightly upwards relative to the flow over a "clean" wing, implying an increase in circulation as the cause of increased downforce
Anos mais tarde, com a evolução da aerodinâmica e a simulação por computadores, descobriu-se que este apêndice, mais tarde denominado "Gurney Flap" em homenagem a Dan, cria dois vórtices sobre o plano do aerofólio, que aumentam a pressão na área em que o ar empurra o carro para baixo, e reduzem a pressão na área inferior, evitando o pior efeito aerodinâmico possível para um carro, que é a elevação da carroceria.

Dan Gurney reinventou a aerodinâmica por mera necessidade. O Gurney Flap multiplicou a capacidade de gerar mais pressão do ar em aerofólios, e definiu o desenvolvimento não só das próximas gerações de carros de corrida, mas também dos aviões e dos helicópteros. Além disso, o Gurney Flap foi a primeira invenção aerodinâmica que surgiu no automobilismo e partiu para a aeronáutica.

Postar um comentário