De Maranello a Stuttgart: Michael Schumacher volta à F1 pela Mercedes GP




Eis que Michael Schumacher, o detentor de inúmeros recordes na Fórmula 1, depois de três anos de hiato, retorna à categoria máxima do automobilismo.

Quais são os aspectos que devem ser analisados neste histórico acontecimento? Antes de tudo, Michael Schumacher completará 41 anos no próximo dia 3. Sua idade terá influência em seu desempenho? Pelo que vimos no Desafio das Estrelas deste ano, isso não será problema. Entretanto, corridas de Kart são curtas, e o desenrolar dos acontecimentos que envolvem esse tipo de prova ajudam e muito para o resultado final. No ano passado, o heptacampeão não teve a mesma sorte: sequer esteve na ponta do grid, sendo inclusive sofrendo toques dos outros pilotos.

Continuando com o aspecto idade, mas já mencionando outro, a saúde física de Michael, que ficou abalada após o acidente de motocicleta que sofreu, no circuito de Cartagena, na região de Múrcia, Espanha, no início deste ano, que comprometeu seu pescoço. Depois das férias forçadas de Felipe Massa, após o incidente na Hungria, escalou-se para substituir o brasileiro. A imprensa e os fãs ficaram empolvorosos. Após algumas voltas com o F2007 alugado de um programa de clientes da Ferrari, desistiu da ideia. Alegou as dores no pescoço como as responsáveis por ele dar o pé atrás.

No entanto, alguns dizem que esta não foi realmente a causa da desistência do alemão, mas os seus tempos de volta não terem sido satisfatórios para os dias atuais da Fórmula 1. A facilidade com que a Ferrari liberou Michael Schumacher de seu cargo de consultor talvez esteja justificada neste fato. Será que a equipe de Maranello esteja confiando em seu taco e permitindo que o heptacampeão busque novos horizontes em outra escuderia, apostando que não terá desempenho satisfatório?



Se o cronômetro tivesse sido o problema de Michael Schumacher, será que conseguirá resolver isso, visto que os testes na Fórmula 1 serem quase inexistentes, resumidos a alguns dias durante os meses de janeiro e fevereiro, ou os simuladores de corridas das equipes estão tão avançados a ponto de poder preparar um piloto para, ao menos, conseguir se adaptar a uma nova realidade na condução dos bólidos da Fórmula 1, e, na hora de sentar no carro de verdade, rapidamente se habituar em seu local de trabalho?

Fora o fato de ter como adversários pilotos que já estão acostumados a essa realidade desde que ela começou, há 3 anos. Ainda por cima, são jovens, como Lewis Hamilton, Fernando Alonso, Felipe Massa, Jenson Button, Sebastian Vettel e Robert Kubica. Será que Michael Schumacher, no auge de seus 41 anos, conseguirá fazer frente aos "moleques"?

Sem mais alusões à questão "idade", outro fator que deve ter pesado na decisão de Michael Schumacher de voltar à Fórmula 1 deve ter sido o fato da equipe ser a Mercedes GP. Afinal de contas, foi a montadora de Stuttgart que liberou o piloto, que disputava o Mundial de Esporte Protótipos pela marca, à Jordan, depois de um pagamento de 300 mil reais, para substituir Bertrand Gachot, após o piloto belga ser preso por dois meses, após uma briga com um taxista na Inglaterra, no qual aplicou spray de pimenta, arma considerada ilegal no país.

Com a ida de Michael Schumacher à Ferrari, para fazer história na equipe de Maranello, talvez o heptacampeão esteja querendo pagar uma dívida com a Mercedes. Mas poderá haver uma causa mais nobre para o seu retorno à Fórmula 1. O diretor técnico da Mercedes GP é Ross Brawn, que comandou Michael Schumacher na Benetton e na Ferrari, e um dos principais responsáveis pela série de títulos e recordes quebrados do alemão. E há uma grande possibilidade da equipe que deixou a McLaren para ter sua própria equipe, adquirindo a Brawn GP, e ter total poder de decisão, concentrar seus esforços no heptacampeão, deixando seu compatriota, e companheiro de equipe, Nico Rosberg, em maus lençois. Depois de quatro anos na Williams F1 Team, viu na Mercedes GP sua chance de conquistar sua primeira vitória e, possivelmente, deslanchar na Fórmula 1.

No entanto, com Michael Schumacher no cockpit do outro carro da equipe, corre sério risco de perder a briga interna. Como consequência, pode estar condenado a viver dias de "Rubens Barrichello" ou "Gerhard Berger". Aí fica outra questão: se isso realmente acontecer, quanto tempo vai aguentar esta condição?



Com relação ao tempo de contrato, foi revelado ser de três anos, mas pode ser algo um pouco diferente. O que se diz na rádio paddock é que o acordo para pilotar é de um ano, com opção para mais dois. Se o desempenho de Michael Schumacher não condizer com as expectativas da equipe, ele ainda ficaria na Mercedes GP pelo restante do contrato, mas assumindo um papel semelhante ao que fazia na Ferrari depois de 2006.

Outra coisa intrigante é a ausência de Michael Schumacher nos testes das equipes em dezembro. Parece que Ross Brawn condeceu ao heptacampeão esta oportunidade, mas ele recusou, alegando estar de férias, e que treinará com um carro da GP2 ou Honda F1 de 2007, para desenferrujar. Porque o alemão não quis fazer isso antes de assinar o contrato? Medo de frustrar as expectativas, do pescoço, da repercussão na mídia?

Acredito que a questão financeira do negócio não foi decisiva para que Michael Schumacher voltasse à Fórmula 1. Ele é bilionário, e mesmo divertindo-se nos karts e nas motocicletas, ainda é fortemente patrocinado, ou seja, ganha para brincar de piloto. Com certeza, deve ter conversado com a família, mais precisamente, com sua esposa, Corinna, pois ela foi fator decisivo para que o alemão se retirasse da Fórmula 1, no final de 2006.

A vontade de voltar a vencer na categoria máxima do automobilismo deve tê-lo motivado a negociar seu retorno. A sua tentativa de voltar ao circo da Fórmula 1 na metade do ano, para substituir Felipe Massa, já reforça a tese.



A experiência e as conquistas de Michael Schumacher o ajudarão e muito nesse retorno à Fórmula 1. A idade pode ter tirado dele alguns décimos de velocidade, mas a experiência dará a ele a plenitude necessária para desenvolver o carro e deixá-lo rápido. Além do mais, com a proibição dos reabastecimentos, pilotos mais experientes terão mais facilidade para poupar pneus, quando o carro estiver mais pesado. Nico Rosberg é rápido, mas comete muitos erros. A contratação dos dois pilotos pela Mercedes GP mostra que a equipe queria em sua dupla um misto de experiência, rapidez e juventude.

Enfim, muitas perguntas, poucas respostas, para não dizer nenhuma. Os esclarecimentos dos mais duvidosos, as expectativas de todos, serão correspondidas a partir do dia 14 de março de 2010, no GP do Bahrein.

Motivação e talento não faltam a Michael Schumacher, mas sua forma e capacidade técnica precisam satisfazer suas necessidades em encarar uma Fórmula 1 completamente diferente da que ele vivenciou até o final de 2006. Brigar pelo título contra Fernando Alonso, Felipe Massa, Lewis Hamilton, Jenson Button e Sebastian Vettel, que agora estão com imensa vontade de derrotá-lo, deixa o recordista da F1 não condição do que tem mais a perder com sua volta à categoria máxima do automobilismo.

Além do mais, a FIA sob nova direção, a proibição dos reabastecimentos, grandes duplas na Mercedes GP, na Ferrari e na McLaren, o campeão mundial mudar de equipe, a volta do Canadá à Fórmula 1... 2010 tem tudo para se tornar mais uma temporada inesquecível. Quem viver, verá...

Postar um comentário