Tudo isto é uma excelente resposta de Bernie Ecclestone às declarações dele mesmo no ano passado, quando afirmou que a categoria não busca os mais jovens porque não têm dinheiro para comprar nenhum produto anunciado na Fórmula 1, seja patrocinadores oficiais, marcas estampadas nos carros, anúncios na transmissão das emissoras oficiais etc.
No entanto, o que deu mais a falar no Brasil sobre a Fórmula 1 neste domingo foi a controversa inovação na transmissão da corrida por parte da Rede Globo de Televisão. Um estúdio, mais precisamente, o mesmo do programa "Encontro", apresentado por Fátima Bernardes, no Projac, que recebeu cenário temático e convidados, transformado numa espécie de "balada vip do Galvão", bem no estilo "Copa do Mundo".
E quem são os convidados? Aqui estão eles:
- Bia Figueiredo, que corre na Stock Car, e esteve lá só para promover a categoria também transmitida pela Vênus Platinada;
- Marcello Antony, cuja única semelhança com o automobilismo é o fato de ter interpretado um piloto de Stock Car em uma novela;
- Giba, ex-jogador de vôlei, que disse nada mais relevante para a Fórmula 1 que só a acompanhava enquanto Ayrton Senna ainda estava vivo;
- Um outro ator, que não faço a mínima ideia de quem seja;
- Raul Boesel, este sim, poderia agregar alguma coisa para a Fórmula 1, mas estava lá apenas para... fingir que comanda uma mesa de DJ.
Isto para que, de tempos em tempos, Galvão Bueno pudesse interagir com os familiares e amigos mais próximos do piloto da Sauber, em uma tela dividida, bem no estilo da Fórmula Indy nos anos 1990, quando uma tela menor exibia propagandas de patrocinadores, ao mesmo tempo em que continuava a mostrar a corrida.
De acordo com o narrador, a ideia foi se aproximar do público que está acompanhando a corrida, mesmo em um horário desfavorável. Se esta iniciativa atraiu alguém, com certeza foi aquele que recém chegou da balada, ligou a televisão e só acompanhou a corrida porque aquele ator da novela estava presente na transmissão, já que os fãs sempre acompanham por esforço próprio.
Quaisquer programas da Globo, como "Domingão do Faustão", "Esquenta" ou "Encontro", sempre trazem atores de novelas, por exemplo, para comentarem sobre seus personagens, prever os próximos capítulos, enfim, gerar conteúdo para outras produções da emissora.
Numa tranmissão de corrida de Fórmula 1, a presença de pessoas alheias ao mundo da Fórmula 1 só tem esta intenção: chamar a atenção das pessoas para outros esportes ou produções da Globo. E a tentativa de transformar a transmissão da corrida em um "Corujão da F1" foi um desastre.
Mas é justamente no link ao vivo da casa de Felipe Nasr que está o fio da meada. Galvão Bueno, na primeira vez que a tela foi dividida, disse que a Globo obteve uma autorização da Formula One Management para inserir imagens alheias às da transmissão oficial da corrida.
Por isso que a interação do narrador com a família de Felipe Nasr foi possível. Uma verdadeira demonstração de pachequismo barato, irritante e desrespeitoso para quem ainda se priva de seu sagrado sono para assistir à uma corrida de Fórmula 1, um total desserviço aos fãs da categoria.
Mas... e o porquê de tudo isso? Bem, Felipe Nasr é patrocinado pelo Banco do Brasil. Várias pessoas que estavam na casa de Felipe Nasr estavam vestidas com camisetas e bonés do patrocinador. Este foi o fator que proporcionou a ampliação da presença de marca, ou seja, fazer marketing indireto.
As emissoras de televisão, sobretudo as de transmissão aberta, sofrem cada dia mais com a diminuição de arrecadações com propagandas, uma vez que os anunciantes estão migrando para as novas mídias criadas na internet, como as redes sociais, vídeos online, Google AdWords e outras formas de publicidade na web, que, atualmente, fornecem métricas que permitem aferir o retorno sobre o investimento e o engajamento das pessoas, ao contrário da publicidade offline, como no rádio, televisão e jornal, que possuem apenas a medição do Ibope ou o número de assinaturas como valor a oferecer.
É lógico que todas estas mudanças na gestão da imagem da Fórmula 1 têm dedo do Bernie. Ele precisa urgentemente fazer a Fórmula 1 agregar valor, já que os efeitos da última crise econômica mundial, que aconteceu entre 2008 e 2009, finalmente apareceram na categoria.
Como alguns contratos milionários de longa duração acabaram, e o número de equipes diminui ano a ano, e o amadorismo com o qual é conduzida a categoria, a ponto de uma equipe não ter um simples software para pôr um motor a funcionar e sequer participar de um Grande Prêmio, a entrada nas redes sociais, a modernização do site e o relaxamento nas regras de transmissão para as emissoras oficiais são manobras para tentar agregar valor à Fórmula 1.
Atitudes que foram tomadas demasiadamente tardias, pois já víamos medidas de valorização publicitária semelhantes em transmissões da NASCAR e Fórmula Indy há quase trinta anos.
O atual CEO da Fórmula 1 trabalha sempre em prol das quatro grandes (Mercedes, McLaren, Ferrari e Red Bull), em detrimento das pequenas, ou "garagistas", e sabe que muitos dos que ingressaram na categoria, criando ou comprando alguma equipe, queriam apenas ganhar dinheiro rápido.
Bernie também sabe que há uma cláusula nos contratos das equipes que, caso o número de carros inscritos baixe para 16 ou menos, elas terão que construir e inserir um terceiro carro no grid cada uma.
Só que a situação chegou ao ponto que, no Grande Prêmio da Austrália de domingo, em razão dos carros de Daniil Kvyat e Kevin Magnussen sequer chegarem ao grid de largada, em razão de problemas mecânicos, da ausência de Valtteri Bottas, em virtude de um problema físico, e da impossibilidade dos carros da Manor serem ligados, apenas 15 carros alinharam na reta principal do Albert Park Circuit.
Se as recentes mudanças na gestão da Fórmula 1 e as futuras novidades na categoria surtirão efeito em promover o esporte para a atual e as futuras gerações, só o tempo dirá, isso se a Fórmula 1 sobreviver até lá.
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