Michael Schumacher, um ser humano


Michael Schumacher, em 2009, detentor de sete títulos mundiais e de quase todos os recordes da Fórmula 1. Respirava novos ares. Estava a levar seus tombos de moto, em competições amadores. Chegou a participar de uma endurance de seis horas.

Recebe um convite da Ferrari para substituir Felipe Massa nas últimas provas da temporada 2009. Rejeita-o. No final daquele ano, recebe um convite da Mercedes-Benz, que havia comprado o espólio da surpreendente Brawn GP, para integrar a equipe de Fórmula 1. Aceita-o.

Seja por uma dívida de gratidão, por saudade dos amigos, ou das altíssimas velocidades mesmo, Schumi encara o desafio de construir uma equipe campeã, atitude semelhante a que cometeu quando foi à Ferrari em 1996, o que, na época, muitos acharam um ato de coragem, já que a equipe italiana era um desastre em termos de organização e planejamento.

Mesmo assim, deu a cara à tapa. Começou a colher os frutos em 2000, conquistando o primeiro dos cinco títulos mundiais consecutivos, pondo a Ferrari novamente entre os grandes da Fórmula 1. Bateu quase todos os recordes possíveis para um piloto da categoria, até ser alcançado duas vezes por Fernando Alonso e a Renault, ex-Benetton, cujo diretor foi Flavio Briatore, que contratou o alemão após sua primeira prova na Fórmula 1, pela Jordan, em Spa, quando marcou um incrível sétimo lugar na classificação, mas não conseguiu completar a prova.

Sem vislumbrar um futuro brilhante na categoria, e com o peso da idade, resolve se aposentar da Fórmula 1. Foi para mais perto da família, mas, com o aval da esposa, continua a competir, mas em duas rodas. Participou também do Desafio das Estrelas, sagrando-se campeão na edição de 2007.

No dia 23 de dezembro de 2009, o grande anúncio de sua volta à Fórmula 1 abalou a silly season. Uma equipe alemã, com pilotos alemães, dando a impressão de ser uma resposta à McLaren, que, dispensando a Mercedes-Benz na sociedade, tornava-se uma equipe inglesa, com pilotos ingleses.

Só que não foi o que, para muitos, seria a volta do campeão. Raramente esteve à frente de Nico Rosberg durante os três anos de sua segunda campanha na Fórmula 1. Em 2012, perdeu a mão de vez, apesar da "pole honrosa" em Mônaco e do pódio em Valência. Cometeu erros de cálculo, em Barcelona, e de principiantes, abalroando Jean-Eric Vergne em Cingapura.

Aquele Michael Schumacher, desenvolvedor de carros, não existe mais. A Fórmula 1 atual, com restrições de desenvolvimento e testes, tornou o alemão um piloto comum. Além disso, sente náuseas a bordo de um simulador computadorizado. O seu desempenho em 2012 fez a Mercedes apressar a transferência de Lewis Hamilton de Woking para Brackley.

A marca alemã até tem certa razão para "forçar" a aposentadoria de Schumi: uma pole "não contabilizável" e um pódio em 51 corridas, apesar de, em 2012, largar na frente de Nico Rosberg em oito das catorze oportunidades. Entretanto, a tabela de pontuação marca 93 pontos para o filho de Keke, contra 43 do heptacampeão. Diante disso, a Mercedes diz que o prazo de validade de Michael expirou.

A Mercedes AMG é mais que uma equipe. É a vitrine de uma empresa, que vive de vender carros. Michael Schumacher foi contratado para ser mais que um piloto, ele foi um garoto-propaganda para a Mercedes-Benz.

A marca de Stuttgart deseja há vários anos construir uma imagem esportiva, visando atrair consumidores do sexo masculino que tenham entre 30 e 40 anos, aqueles que, quando crianças ou adolescentes, viam o mesmo Michael Schumacher vencer quase todas as corridas de Fórmula 1.

Este é um nicho de mercado na qual a Mercedes-Benz sofre a competição ferrenha da Audi e da BMW. Michael Schumacher foi, ao mesmo tempo, um piloto e uma campanha de marketing. Para a Mercedes-Benz, na primeira função, não há mais futuro, e na segunda função, ele já cumpriu seu papel.

O piloto, que parou pela primeira vez como um glorioso, agora, sai pela porta dos fundos. Ele fez tornar-se fácil explicar o Michael Schumacher da Mercedes, e dificil entender o Michael Schumacher da Ferrari.

Michael Schumacher poderia ter usado o benefício da dúvida, mantendo a imagem de mito, multicampeão, recordista. No entanto, mostrou a todos que, ao contrário do que muitos diziam, é apenas um ser humano.

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