Apagão da mão-de-obra em TI: A culpa é de quem?

Onde está o meu emprego, com tanta demanda de mão-de-obra especializada em tecnologia da informação? Realmente, essa questão faz parte do cotidiano de muitos profissionais disponíveis no mercado. O Brasil vive um "apagão" de mão de obra especializada em TI para dar conta da demanda interna, e a situação tende a se agravar com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, em 2014 e 2016, respectivamente.

Segundo a Fundação Getúlio Vargas, até o ano de 2014 teremos um déficit de 800 mil vagas no setor. Estima-se que hoje estão disponíveis no mercado 92 mil vagas de tecnologia da informação. No entanto, é fácil encontrar profissionais formados desempregados, ou trabalhando em áreas completamente distintas da de formação. Pior, apenas 15% dos alunos que iniciam cursos de tecnologia da informação terminam suas graduações.

Todo esse cenário vai na contramão do crescimento brasileiro em TI. Segundo o IDC, o Brasil deverá crescer 13% na área de Tecnologia da Informação em 2011, superando taxas como Estados Unidos e Canadá. Nem mesmo os incentivos fiscais sobre a folha de pagamento das empresas de tecnologia da informação, recentemente anunciados pelo Governo, atenuaram ou minimizaram esse cenário.

A culpa é de quem?

Evidentemente, estamos vivenciando um gargalo educacional. Faculdades e mais faculdades de TI, despreparadas e com professores sem qualquer especialização, estão despejando profissionais e formando-os em conteúdos que há muitos anos não são mais necessários para as empresas. Resultado: baixíssima qualificação. E o que isso gera? Altos salários para o mais qualificados, que estão voltando do exterior para assumirem cargos de TI no Brasil. Vaga que poderia ser a sua.

Apreendemos hoje um a notória obsolescência de parte do conteúdo programático de muitas faculdades de tecnologia do Brasil. Sem programas de incentivo, de qualificação, inovação tecnológica, ou parceria com empresas de TI, profissionais são despejados no mercado e não despertam o interesse das empresas. As certificações passam a ter maior relevância do que a formação universitária e demandam investimentos que muitos jovens não têm como custear, algo que poderia ser parcialmente subsidiado pelo Governo.

Grandes empresas de software e integração são muito tímidas para abrir seus programas educacionais para universidades, esbarrando sempre em análises de risco pouco lúcidas, fazendo com que "pouquíssimos" tenham acesso a tais programas, ferramentas e conhecimentos.

Não bastasse a péssima estrutura de empresas de recrutamento e seleção para atuarem na área de TI, também emperram as contratações. Sem conhecer a fundo o core business de seus clientes, "inventam" exigências mais do que inatingíveis, além de absolutamente desnecessárias para os cargos disponíveis. A TI só precisa suportar o negócio, não fazer "milagres".

Não podemos deixar de consignar uma parcela de culpa aos empreendedores, que atuam com internet, tecnologia e mundo globalizado, mas ainda mantêm, e até mesmo preferem, meios ortodoxos de trabalho, evitando novas possibilidades. As empresas buscam profissionais que residam apenas nas capitais – de preferência próximo à empresa, esquecendo-se de que o teletrabalho é uma realidade, e que grandes multinacionais já mantêm equipes de service desk em TI espalhadas pelo Globo. Buscam profissionais na mesma fonte, e essa fonte está seca!

Vivemos a interiorização do desenvolvimento tecnológico. A China já despertou para esse fato. Regiões ricas como o interior de São Paulo possuem infraestrtura, ótimas universidades, excelentes profissionais, qualidade de vida, incentivos fiscais e custos e mão-de-obra em TI mais baratos do que na capital. O empreendedor precisa pensar em "crescer para dentro"! Muitas são as empresas que já criam centros de tecnologia no interior e atendem todo o Brasil e exterior a partir dessas localidades. As universidades interioranas também são mais suscetíveis às parcerias que formem profissionais "com a mentalidade" das empresas de TI que demandam serviços.

O resultado é o desenvolvimento regional, a sustentabilidade, a redução das desigualdades sociais, a distribuição de riquezas, os menores custos de implantação e operação e mais pessoas na folha de pagamento. A lei é simples: se a procura está alta nas capitais, por que não buscar vagas em regiões nas quais a oferta é alta, como no interior? A internet rompe qualquer barreira e faz com que profissionais a 300 quilômetros de distância tenham o mesmo rendimento de um alocado na sede da empresa.

Mas você pode estar pensando que contratar a mão-de-obra do interior nem sempre significa resolver definitivamente o problema da falta de qualificação. Realmente, o problema da falta de qualificação é nacional, e para isso só existe um remédio: qualificar-se! O que o coordenador do seu curso tem feito para isso? O conteúdo do seu curso está adequado à realidade lá de fora? Quais as parcerias para integração universidade-mercado existentes em sua faculdade? Você já leu o programa de todo o seu curso? Você sabe que ele existe? Você pode, com vontade, construir o seu curso de modo que mais espelhe as necessidades do mercado, e isso é fundamental, a menos que você tenha dinheiro para trocar de faculdade ou tirar certificações caríssimas.

Mudar esse cenário de carência de mão-de-obra é uma tarefa possível, mas dependerá de ação coordenada das universidades, das empresas de recrutamento, dos empreendedores, dos universitários e dos profissionais no mercado. Do contrário, continuaremos importando mão-de-obra. O Brasil só tem a perder com isso.

iMasters

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