Red Bull, tão corporativista quanto a Ferrari


Apesar de não realizar o chamado "jogo de equipe", cometido de forma tão evidente pela Ferrari no GP da Alemanha, o ano de 2010 nos mostrou que, meio que de forma "subliminar", a equipe Red Bull Racing é tão corporativista quanto o time de Maranello.

A Red Bull, na última década, investiu forte em publicidade e patrocínios a esportes nos quais prevalecem a jovialidade, o ato de viver intensamente cada pequeno momento, as manobras e lances realizados no limite entre a perfeição e o acidente, e os praticantes, que, de vez em quando, precisam de uma energia extra, que pode ser obtida através dos alimentos energéticos, são, em sua enorme maioria, jovens. Pode-se citar como exemplos o skate, para-quedismo, BMX e o mountain bike.

Na automobilismo, não foi diferente. Através de seu próprio programa de formação de pilotos, cria equipes nas mais diversas categorias de base, como a Fórmula 3 e a Fórmula BMW, e vai ajudando seus pupilos a escalarem mais facilmente as escadas rumo à Fórmula 1. Na categoria máxima do automobilismo, em 2004, comprou o espólio da Jaguar, formando a Red Bull Racing, e em 2005, a Minardi, transformando-a na Scuderia Toro Rosso.

E é justamente por essa política de criar pilotos para chegarem, ainda jovens, à Fórmula 1, que surgiram pilotos como Sébastien Buemi, Jaime Alguersuari, Scott Speed, e o mais recente campeão, Sebastian Vettel.

O mantenimento de Mark Webber na Red Bull Racing para os campeonatos de 2009 e 2010 foi feito essencialmente para que o companheiro de equipe de Sebastian Vettel atuasse apenas como mero coadjuvante, ajudando o jovem pupilo da marca de energéticos de Dietrich Mateschitz a conquistar o título de pilotos da Fórmula 1 o mais rápido possível, para ajudar a Red Bull a consolidar ainda mais a sua marca no mercado publicitário. Medida semelhante é frequentemente tomada pela Ferrari, por exemplo.

Acontece que, nesta última temporada, a Fórmula 1 viu em Mark Webber um piloto extremamente dedicado, visto que não tinha contrato para 2011, e se dispôs a usar de todas as suas forças para tentar conquistar o seu primeiro título de pilotos, aos 34 anos, aproveitando esta oportunidade como se fosse a sua última na carreira. Com isso, aliado ao excelente, mas problemático, RB6, tornou-se o "patinho feio" da Red Bull Racing, sendo um adversário à altura de Sebastian Vettel.

A equipe, aproveitando a ótima fase de seus pilotos, adotou uma política de não fazer qualquer espécie de "jogo de equipe", deixando que seus pilotos duelem entre si pelas primeiras posições na corrida, o que ocasionou alguns incidentes, como o acidente entre eles no GP da Turquia.

Outro fato que contribui para que a Red Bull Racing se mostre tão corporativista quanto as outras é o episódio da asa dianteira, que havia sofrido alterações aerodinâmicas para o Grande Prêmio da Inglaterra. Sebastian Vettel quebrou a sua no treino de classificação. Como não havia uma asa reserva igual, a equipe retirou a do carro Mark Webber e colocou no carro do alemão. O australiano se viu obrigado a utilizar o carro com a asa dianteira antiga, ficando desatualizado em relação ao carro do seu companheiro de equipe. Mesmo assim, Webber venceu a prova, acendendo, pelo rádio, o estopim de uma discussão sobre privilégios cada dia mais óbvios para Vettel.

Acontece que, no final da temporada de 2010, a Red Bull não teve uma chance de comprovar que sempre favoreceu Sebastian Vettel, uma vez que estava atrás de Mark Webber na tabela de pontuação, ainda que por uma diferença de poucos pontos, e o australiano estava também a poucos pontos de Fernando Alonso, o lider do campeonato no GP do Brasil.

Pelo contrário, fez uma jogada de sorte, digna do pôquer, deixando ambos os pilotos com igualdade de condições no último GP, sem favorecimento a quem está a frente na tabela, para ter um deles campeão. Entretanto, essa jogada de sorte envolveria uma péssima atuação de Fernando Alonso e Mark Webber, além de uma estupenda performance de Sebastian Vettel, pulando da terceira para o topo da classificação. Esta conjunção de fatores quase impossível acabou se concretizando.

Por que a Red Bull Racing encarou essa arriscada hipótese? Simples: para ter Sebastian Vettel como campeão. É como se tudo já estivesse pronto para que o alemão fosse o privilegiado pela equipe, mas o ano de 2010 não foi tão propício para que os esforços se direcionassem para ele.

Se Sebastian Vettel já estivesse na liderança do campeonato, faltando umas quatro ou cinco provas para o encerramento, com quase certeza, seria o piloto favorecido pela Red Bull Racing para consolidar as chances de conquistar o mundial de pilotos até o final do campeonato.

Afinal de contas, é o alemão é que representa essa ideia de publicidade da marca de energéticos, uma pessoa jovem, que vive a vida intensamente, e que porventura precisa de uma energia extra, que pode ser obtida através da taurina, por exemplo.

Só uma sequência de acontecimentos dentro da Red Bull Racing e nos campeonatos de Fórmula 1 dos próximos anos precisa acontecer para que o ambiente seja propício para que a equipe tenha a chance de se mostrar tão corporativista quanto Ferrari e McLaren foram ultimamente, cometendo as mesmas atitudes típicas das outras.

Postar um comentário