Veja um 1968 Volkswagen Fusca Pé de Boi e conheça a história desta rara versão

Volkswagen Fusca Pé de Boi: conheça a história da rara versão do besouro Video Thumbnail
Logo após o golpe militar de 1964, o Brasil sofreu uma amarga recessão econômica, e a indústria automobilística tupiniquim não tinha dez anos de existência. Por isso, para incentivar as vendas de veículos novos, um programa do governo buscava tornar os preços dos carros novos mais baixos.

Em 1965, foi criada uma linha de crédito para automóveis zero-quilômetro. O principal requisito era um teto de preço muito baixo, o que obrigou fabricantes a cortar itens de série de alguns modelos.

Assim, a Volkswagen lançou um Fusca que era completamente despojado, sem itens de conforto, como bancos reclináveis, sistema de som, porta-luvas, itens de acabamento, sem cromados nos frisos na lataria e para-choques, e itens obrigatórios (que se tornaram opcionais), como pisca-piscas, retrovisores externos e para-choques de lâmina única.

Encontrar um Fusca Pé de Boi atualmente é um grande achado. A maioria das unidades produzidas desta versão foi equipada e transformada por proprietários ao longo dos anos. A razão era o completo despojamento do carro. Como era mais barato, o carro poderia entrar no programa de linhas de crédito facilitadas.

Da mesma forma, vieram outros nacionais "pelados": o Willys Teimoso, variação de entrada do maior concorrente do Fusca até então, o Gordini, o DKW Pracinha (perua Vemaguete) e o Simca Profissional (Alvorada).

A produção do Fusca Pé de Boi, porém, não foi numerosa, devido ao insucesso dos modelos concorrentes. A fabricação se estendeu somente até 1968. Nos dois últimos anos, as unidades foram vendidas exclusivamente a frotistas.

Para atingir um preço compatível à proposta, a Volkswagen depenou bastante o Fusca. A versão Pé de Boi abria mão de uma série de itens não só de conforto, como também obrigatórios à legislação em vigor.

Por fora, nada de frisos, retrovisores ou pisca-piscas na parte superior dos para-lamas dianteiros. Não havia sequer o emblema VW no capô dianteiro. Calotas e para-choques exibiam pintura branca. Os tubos superiores e as garras dos para-choques também foram eliminados. Para a carroceria, só haviam duas opções de cores: cinza claro e azul pastel.

No interior, as luzes da cabine e a alavanca de acionamento das setas, bem como o marcador de nível de combustível, foram suprimidos. Nada de rádio, regulagem do encosto do banco, tampa do porta-luvas e até mesmo saídas de ar no painel. O painel de instrumentos só marcava a velocidade e a quilometragem percorrida. Para medir o nível de combustível, inseria-se uma vareta no tanque. Tampouco havia aquecedor, iluminação, porta-objetos na porta, apoio de braço, para-sol e borracha no acelerador.

A carroceria economizava no uso de cores sólidas, em conjunto com o branco, adotado no aro dos faróis, puxador do capô, para-choques e maçanetas. Nada de cromados. O quebra vento vinha na cor do carro. Nas demais partes das janelas, o contorno externo dos vidros vinha emborrachado. O Fusca Pé de Boi também só saía de fábrica com uma saída de escape. Nas demais versões do Fusca, eram duas.

Os vidros traseiros eram fixos, limitando a ventilação, e o macaco vinha solto no porta-malas, onde ficavam as ferramentas, que foram poupadas da perseguição pela economia, mas foram simplificadas. A falta de forração completa na traseira gerava um nível de ruído maior no habitáculo.
Este Fusca Pé de Boi 1968 cor Azul Pastel foi adquirido pelo representante comercial João Souza há seis anos, e foi reformado minuciosamente, resgatando a originalidade. O carro foi utilizado pela frota paulista da Nestlé.

Como se trata de um dos últimos fabricados, tem motor 1.300 cm³, que produz 38 CV de potência e 9,1 kgfm de torque, que foi inserido na linha Fusca um ano antes, em vez do propulsor de 1.200 cm³ e 30 CV das primeiras unidades do Pé de Boi.

Ainda nos anos 1970, o carro foi adquirido por um ex-funcionário e pai de um amigo de João, Carlos Reis, que o repassou ao filho, Roberto Reis. "O Fusca fez parte da nossa adolescência, pois o pai de Roberto nos levava nele para viagens da família entre São Paulo à São José do Rio Preto", conta João.

Depois de muita insistência, o representante comercial convenceu o amigo a vender o carro. "O Roberto já o tinha vendido à outra pessoa e teve de desfazer o negócio", brinca o atual proprietário. O apelido "Peladinha" surgiu na época em que o carro pertencia à família Reis.

A reforma, executada em Belo Horizonte, buscou resgatar todas as características originais. João até consegiu uma vareta de bambu, para checar o nível de combustível no tanque, igual à usada por Carlos, uma vez que não havia indicação no painel.

"Como o modelo não vinha com muitos itens de fábrica, daí o apelido 'Peladinha'. Naquela época, era comum os proprietários incrementarem o Pé de Boi aos poucos com itens de série do Fusca. Daí a dificuldade em encontrar um exemplar original atualmente", completa João.

Muitos Fuscas Pé de Boi eram equipados depois com itens de outras versões do modelo, descaracterizando sua simplicidade de fábrica. Como carro ainda era um forte símbolo de status na época, a ideia dos primeiros populares nacionais não vingou.

Apesar do insucesso da versão, o nome "Pé de Boi" foi tão bem assimilado pelos brasileiros que virou apelido para versões básicas carros nacionais. A expressão "Pé de Boi" nunca esteve tão em evidência.

Os últimos Fuscas Pé de Boi deixaram a fábrica de São Bernardo do Campo em 1966. O carro popular só voltaria, dessa vez com maior força, em 1990, com a chegada do Fiat Uno Mille.

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