Enquanto isto, na gélida Noruega, um certo trio, formado por Morten Harket, Magne Furuholmen e Påul Waaktaar foram incentivados a defenderem uma causa que, naquela época, com a abundância de petróleo barato e motores potentes, ninguém dava muita importância: os carros elétricos.
Só que, ao contrário de criar uma canção, reunir vários artistas, gravar discos de vinil e fitas cassete, e destinar a renda obtida com a venda para a causa defendida, a banda A-Ha "colocou a mão na massa", ou seja, adquiriu um carro elétrico.
A convite do ambientalista Frederic Hauge, da Fundação Bellona, Morten e Magne, vocalista e tecladista da banda A-Ha, foram até a Suiça, onde encontraram um Fiat Panda convertido para funcionar apenas com a transformação da energia química acumulada em baterias de gel para a energia elétrica que alimentava um motor.
Mesmo com a pífia autonomia de 45 km, ambos os músicos compraram o veículo e o levaram à Noruega. Só que haveria um pequeno problema para eles. Na época, os veículos movidos à eletricidade não eram legalizados para andar em vias públicas. Mais precisamente, apenas os veículos com motores à combustão recebiam o aval do governo.
Na Noruega, haviam diferenças na aplicação de impostos e taxas entre os carros movidos à gasolina e os impulsionados com óleo diesel. Estes últimos eram taxados de acordo com a quilometragem que percorriam, ou seja, quanto maior a distância, menos imposto se pagava.
A dupla que fazia parte da banda A-Ha achava que este tipo de incentivo também deveria ser aplicado aos carros elétricos. Só que eles não podiam simplesmente desplugar o Fiat Panda da tomada e sair rodando por aí. Então, eles se aproveitaram de uma lei que dizia que, se um veículo tivesse um aquecedor a gás, ele poderia ser registrado no sistema de tränsito norueguës como um motorhome. E assim o fizeram.
Só que, como o carro era elétrico, ninguém se interessava em arrematá-lo, então, lá iam os membros da banda A-Ha e o readquiriam pelo valor mínimo, 200 coroas norueguesas. E isto valia a pena, já que a multa era de 300 coroas.
Ainda havia mais um percalço para que os carros elétricos vingassem na Noruega. O IVA (Imposto sobre Valor Agregado) aplicado sobre os veículos automotores naquele país era calculado com base no preço dos mesmos quando novos, o que praticamente inviabilizava a propriedade de um veículo movido à eletricidade, já que é bem mais caro que um carro com motor à combustão.
Em 1990, a Fundação Bellona conseguiu obter a isenção de IVA sobre veículos elétricos. Assim, algumas marcas, como a Kollega, puderam começar a importar e comercializar os primeiros carros Kewet. Outras empresas, como a Pivco, iniciaram a fabricação de seus próprios veículos.
Seis anos mais tarde, o trio, depois de insistir várias vezes em não pagar pedágio, ter seu Fiat Panda confiscado, e ele mesmo arrematá-lo, por um valor menor que a multa aplicada sobre o mesmo, conseguiu mais uma vitória: a Noruega desobrigou os carros elétricos a pagar pedágio. Presumidamente, o governo simplesmente desistiu, já que isentar alguns carros de pagar taxas para transitarem nas estradas não tornaria o governo falido.
Quase trinta anos depois, em 2020, a Noruega atingiu o recorde de 54% de todos os novos veículos vendidos naquele país serem totalmente elétricos.
Postar um comentário