#VaiBrasil, #JogaPraMim e o patriota de Copa do Mundo

Torcedores do Brasil queimando bandeira do país após derrota na semifinal da Copa do Mundo 2014 contra a Alemanha
Toda Copa do Mundo é a mesma história.

Você, brasileiro, veste as chuteiras, a camisa, a bermuda, põe sua fantasia, pinta sua cara e vai para o estádio, para a rua, ou fica em casa mesmo. Afinal de contas, é Copa do Mundo, quando nada mais importa, nem mesmo pessoas fugindo de inundações, nem vacas penduradas em postes, nem viadutos que caem.

Você torce, chora, desespera-se pela Seleção Brasileira de Futebol, e grita: "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor". No entanto, também manda um recado: "mas ai de você se me decepcionar". Você diz "a gente ganha junto", mas diz "você perde sozinho", não é?

Enquanto você grita "vai, Brasil!", veja, por exemplo, como os argentinos, que os brasileiros adoram ridicularizar, tratam a Copa do Mundo. Ouça e leia a letra do grito da torcida hermana.

Vamos, vamos Argentina,
vamos, vamos a ganar,
que esta barra quilombera,
no te deja, no te deja de alentar.


Agora, ouça e leia o grito da torcida estadunidense.

"I BELIEVE THAT WE WILL WIN!"

Viu só? Eles ganham juntos e PERDEM JUNTOS. O brasileiro, quando perde, tem mania de culpar alguém, como forma de se eximir de qualquer responsabilidade. A culpa por esse vexame é minha, é do Felipão, é de quem jogou, é de quem não jogou, é da Globo, é do sistema. A culpa nunca é sua. Claro que não, imagine. O mérito é nosso. A culpa é dos outros. Sempre.

Até as 17 horas e 10 minutos do dia 8 de julho de 2014, você podia apontar como culpados o goleiro Barbosa pelos gols que tomou no Maracanã na final da Copa de 1950, o árbitro inglês que errou contra nós em 1954, o goleiro peruano que se vendeu para a Argentina em 1978, o Paolo Rossi, que foi o principal responsável pela eliminação do "Futebol Arte" da Copa de 1982, o Zico, que perdeu um pênalti na Copa de 1986, o Dunga, que não quebrou as pernas do Maradona e o deixou dar um passe para Caniggia fazer o gol que classificou a Argentina e eliminou o Brasil nas oitavas-de-final da Copa de 1990, a convulsão de Ronaldo, na final da Copa de 1998, Júlio César e Felipe Melo, na derrota para a Holanda, nas quartas-de-final da Copa de 2010.

No entanto, em 2014, meu amigo, a Alemanha não te deixou brecha para colocar a culpa em ninguém, seja na ausência de Neymar e Thiago Silva, na incapacidade de Fred, nas falhas de Daniel Alves, na ingerência de Luís Felipe Scolari, Carlos Alberto Parreira e José Maria Marin, seja em quem for.

Você ainda acha que o Brasil é melhor que todo mundo, que a tradição sempre vai superar o momento. Você achava que, sem Neymar, os outros jogadores iriam se superar, jogar por ele, aproveitar a chance de chamar para si a responsabilidade de vencer. Ah, mas o Brasil nunca perdeu uma semifinal de Copa do Mundo, o Brasil nunca perdeu para a Alemanha jogando em casa.

Ah, por favor, estamos em 2014, e você ainda acredita em estatísticas?

Até os Estados Unidos, famosos pelo futebol americano, mostraram um futebol inglês convincente na 2014 FIFA World Cup Brasil. Pena que caíram em um grupo difícil, e enfrentaram a Bélgica nas oitavas-de-final, um dos melhores times da Copa, mas resistiram até a prorrogação, jogando tão bem quanto o adversário europeu. A Seleção Americana de Futebol merecia ir mais longe.

Apostei na Alemanha e na Espanha como campeãs da Copa do Mundo de 2014. Errei feio na segunda opção. Aliás, quem não errou feio nesta escolha? Agora, a Alemanha, até ontem, vinha jogando apenas o suficiente para ganhar seus jogos, seja contra Portugal, Gana (OK, apenas empatou, foi o máximo que podiam conseguir no momento), Estados Unidos, Argélia (apesar de ir para a prorrogação, mas, também, contra time retrancado e que abdica de vencer para tentar tudo nos pênaltis, até a Holanda, né?) e França. E olha que Les Bleus escaparam de tomar uma goleada também.

Ah, mas, Julio, olha o trabalho que Alemanha e Holanda tiveram para vencer Argélia e Costa Rica...

Claro, contra times que jogam retrancados, esperando a decisão por pênaltis, qualquer um. É como Grêmio e Inter enfrentarem, por exemplo, um XV de Novembro com os onze jogadores na intermediária de defesa, esperando por um contra-ataque. É quase a mesma coisa. Só muda o campeonato. O futebol mudou. Esteja preparado para mais resultados como estes em Copas do Mundo.

Assim como em 2010, assisti a todos os jogos da Copa do Mundo, e vi o esquema tático e a performance de todos os jogadores. Durante a 2014 FIFA World Cup Brasil, a cada jogo que terminava, mais me convencia de que a Alemanha é forte candidata à conquista da Copa do Mundo. Hoje, Holanda e Argentina se enfrentam, e o vencedor vai à final contra o time alemão.

Caso os hermanos vençam, repetir-se-á a final da Copa de 1990. A Alemanha pode imitar o Brasil, caso vença a final, pois conquistará o tetra 24 anos depois do tri. Caso a Holanda passe à final e conquiste a taça mais desejada do futebol mundial, também ficarei feliz pela Oranje, pois a "laranja mecânica" está merecendo faz tempo.

Não pense que é apenas o Brasil que estava sendo pressionado para ganhar a Copa do Mundo no Brasil. A Alemanha também está sendo muito cobrada por parte da mídia de lá, pois já é a segunda Copa do Mundo desta geração. Após a vitória contra a Argélia, quando um repórter alemão perguntou a Bastian Schweinsteiger se a performance da equipe poderia ser melhor, o jogador desabafou: "a gente ganhou, pô, já não basta?".

Dos onze titulares da Seleção Brasileira, sete, eu disse, SETE são garotos-propaganda, seja de marcas de material esportivo, lojas de departamentos, telefones celulares, bonés, meias e cuecas. Uma equipe desacreditada por parte dos especialistas em futebol, sem carisma por parte do público. Ai do Felipão substituir algum destes jogadores-propaganda para tentar melhorar o time. Só se ele estivesse louco.

Ah, mas ele estava sofrendo uma enorme pressão por uma atuação convincente, depois do quase desastre contra o Chile. Olhou para o time inteiro e... "beleza, vou tirar o Paulinho, este não aparece em nenhum intervalo comercial de jogo da Copa, pronto, pelo menos não podem dizer que não mudei o time", pensou o técnico.

Desculpa, José Maria Marin, mas, depois que o senhor expulsou Cafu do vestiário da Seleção Brasileira após a goleada da Alemanha, deu margem para eu imaginar isso, e mais, desconfiar de que o senhor ganha alguma comissão dos jogadores-propaganda pela vitrine que disponibiliza para eles.

Por falar em publicidade, ficará marcado em minha memória durante muito tempo o spot de 30 segundos #JogaPraMim, da Sadia, onde crianças de até dez anos de idade dizem que nunca viram o Brasil ser campeão de Copa do Mundo, que, na última vez que isso aconteceu, ainda não estavam na barriga da mamãe, que os pais disseram a elas que foi uma grande festa quando o Brasil foi campeão, e pediam à Seleção para esquecer os adultos, que é para as crianças que a Seleção deveria jogar etc.

Mas é claro que as crianças que recém saíram das fraldas e que tem menos de doze anos de idade nunca viram o Brasil ser campeão de Copa do Mundo. Acho que, pela situação na qual se encontram na sociedade, estas crianças não podem exigir nada de ninguém. Quando forem maiores de idade e pagarem suas contas, podem exigir do Brasil um resultado positivo. Ou melhor, acho que não. Pois quem diz "joga pra mim" tira o corpo fora de qualquer responsabilidade e não merece satisfação.

Luís Felipe Scolari, em 2002, foi o técnico. Em 2014, foi um "entregador de camisas". De 2 de julho de 2010 a 8 de julho de 2014, a Seleção Brasileira jogou 60 partidas, 54 delas com o Neymar. Felipão deveria ter testado mais o time sem Neymar. Não o fez. Não criou um esquema tático sem Neymar. Não teve jeito. Por isso que, na 2014 FIFA World Cup Brasil, escolhi torcer para a Alemanha.

Mas, Julio, você não é patriota?

Meu amigo, eu sou um cidadão consciente, que vota e paga impostos. Além disso, possuo uma empresa, que gera emprego e renda. Por isso, como moro no Brasil, preciso pagar ainda mais impostos.

Portanto, SIM, EU SOU PATRIOTA!

Eu não tenho vergonha de ser brasileiro. Eu tenho vergonha é de quem governa o Brasil. E por mais que eu tente mudar, ainda há muitos brasileiros que seguem os ensinamentos da "Lei de Gérson", sempre querem levar vantagem em tudo.

Pois é. Em 8 de julho de 2014, o país da malandragem perdeu, e feio, para o país da competência. O país que pede esmola perdeu, e feio, para o país que perde emprego. O país que grita "vai" perdeu, e feio, para o país que grita "vamos". O país que comemora vitória do Brasil porque ganha uma folga do trabalho perdeu, e feio, para o país que comemora crescimento da economia porque ganha uma oportunidade de trabalho.

O Brasil já perdia feio para a Alemanha em saúde, educação e segurança. Só faltava perder feio no futebol. Não falta mais.

Portanto, pelo menos uma vez, vou gritar "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor". Porque eu tenho esse direito. Não você, que só grita "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor" no estádio, e enquanto a Seleção vence o jogo.

No entanto, o maior campeonato de futebol do mundo só acontece de quatro em quatro anos. Até lá, você já esqueceu de tudo que leu aqui.

Toda Copa do Mundo é a mesma história.

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