E a história volta à tona. No outro hemisfério, lá nas terras da águia, também existem alguns que precisam da sopa pois podem morrer de fome e frio nas noites de inverno. Mas o comparativo e a jocosidade pára por aqui, pois aqueles aos quais me refiro, juntos, possuem nada menos que 14 bilhões e meio de dólares em suas contas pessoais. Não, você não leu errado e tampouco me enganei. São quatorze bilhões e meio de dólares que poderiam dar sopa para todas as pessoas do mundo pelo menos quatro vezes.
Estes mesmos senhores desejam que o governo americano vote a favor do SOPA, Stop Online Piracy Act (Lei de Combate a Pirataria Online), que nada mais é que uma lei que permitiria a uma empresa, organização ou detentora de direitos autorais de filmes e músicas (principalmente estes), mandar fechar qualquer website simplesmente por achar que o site está infringindo seu direito autoral, seja porque contém o conteúdo na íntegra, porque contém parte dele ou simplesmente porque contém um link para o conteúdo. Para entender mais facilmente, veja o exemplo: a Warner & Brothers produz um seriado que gosto muito chamado Two And a Half Men. Num artigo como este, crio um link para o site da Warner simplesmente citando o referido seriado, nada mais que isso. Pelo SOPA, eu poderia estar infringindo os direitos autorais da Warner, ser preso por até cinco anos, pagar multa, ter meu site suspenso e assim por diante.
Mas isso é coisa de louco, não? Pode até ser mas a loucura não pára por aí. A mesma lei prevê medidas restritivas de comércio com os infringidores da lei e filtros para os sites que infringem copyrights. De novo, resumindo, se o Google tem (e tem) links para os mesmo seriado, a Warner pode bloquear ou filtrar o Google tirando-o do ar, além de outras empresas serem proibidas de fazer negócio com o eles porque ele indexa estes links para o seriado.
Você deve estar perguntando quem é o insano que propõe algo tão bizarro. A resposta é: um deputado americano e seus doze asseclas, mas que na verdade representam o lobby das gigantes gravadoras e estúdios de cinema que não sabendo se adaptar ao atual modelo da internet, preferem tentar enfiar pela goela algo tão absurdo como esta lei. Pior, podem conseguir.
Por quê?
Como sempre, dinheiro. Dizem eles que é para, dentre outras coisas, “criar empregos”, “dar segurança para os artistas” e “proteger a propriedade intelectual”. Um monte de balela para esconder os mais indecentes interesses que a fortuna a todo o custo. E como estão cansados de perder dinheiro para companhias que conseguiram se modificar ao longo do tempo diante dos novos desafios do mundo digital, agora precisam de uma forcinha do governo americano para reverter o quadro.
Mas quem são eles?
Não é a banda Metallica que está brava com a pirataria. Não é Charlie Sheen ou qualquer um dos integrantes do Two And a Half Men. Não é a Lady Gaga e tampouco o Justin Bieber. Quem está realmente interessado na lei (ou na sopa) são executivos do mundo do entretenimento mostrados na imagem a seguir.
Ledo engano meu caro. Muda e muda muito. O primeiro impacto é técnico, pois a lei obrigaria, como parte das sanções e/ou formas de coibir a pirataria, que sites com conteúdo sob copyright (que sejam míseros links), colocassem filtros em seus servidores de DNS. Se isso acontece, as pesquisas e/ou acessos aos servidores que fazem a tradução de endereços web (www.seila.com) para os endereços IP começarão a falhar em todo o mundo, gerando um caos comparável aos finais de sexta-feira da marginal Tietê, em São Paulo. Isso tudo sem contar com os problemas de segurança que tais filtros podem trazer.
E claro que existe o impacto psicológico sobre alguns expoentes do planalto central, ou seja, o perigo que algum de nosso inteligentes congressistas dê continuidade a cópia das grandes ideias americanas e proponha algo assim em nosso país (Azeredo, é você?), dando os mesmos poderes (ou similares) para as empresas tupiniquins.
Quem está contra?
Google, eBay, Facebook, Twitter, AOL, Wikipédia, Mozilla e uma enorme lista de todos aqueles que vêem na famigerada lei uma forma de coibir a liberdade das pessoas e modificar, de uma forma ou de outra, a internet como conhecemos hoje. Mas não somente essas empresas estão contra. Pessoas comuns, mas que se preocupam realmente com liberdade (não somente na web), também estão e, se não estão, deveriam estar preocupadas, pois quem sabe da próxima vez que estiver acessando a web, não será de uma prisão?
A seguir, cenas do próximo capítulo; melhor, do próximo prato de sopa. E se ainda não está convencido da importância deste tema, veja o vídeo abaixo.
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