Conforme seu depoimento ao "Vozes do Rádio da PUC/RS", a voz de Deus (como ficou conhecido) foi atiçada, pela primeira vez, quando Grass tinha cinco anos de vida. Seu pai fazia curso de eletrônica por correspondência e montou uma "engenhoca" que tratou de ampliá-la, para o espanto do menino. Aos 20, já sem as amídalas e com a voz grave, Grass voltou a exercitá-la, ao montar, com um colega, uma rádio-pirata que transmitia Beatles e Rolling Stones para o bairro em que moravam.
Dois anos depois, um anúncio da rádio Pampa o chamou para a profissão – que, mesmo abolida por um tempo de sua vida, nunca o abandonou. Depois, Grass passou a integrar a equipe da Farroupilha. Um ano mais tarde, Grass trocou de veículo e foi para TV Gaúcha (hoje, RBS TV) apresentando a edição local do "Jornal Nacional".
Em 1976, Grass formou-se Engenheiro Mecânico. Durante todo esse período como radialista de rádio e televisão, ele cursava a faculdade UFRGS. Uma boa proposta de emprego o levou por 15 anos para São Paulo e o começo da década de 80, voltou à capital gaúcha onde atuou na então rádio Sogipa de 1990 a 91 e depois passou a ser locutor da Rádio Gaúcha, onde atuou até ano passado quando adoeceu.
Entrevista gravada no estúdio de rádio da Famecos PUCRS, em 16 de maio de 2006
Pergunta: Por favor, seu nome completo, data e local de nascimento
GRASS: Meu nome completo é João Cláudio de Deus Grass, nasci em Bento Gonçalves no dia 18 de outubro de 1947.
P: Qual foi o primeiro contato com o rádio?
GRASS: Eu não diria nem com o rádio, mas com o microfone. Meu pai era militar, por isso nasci em Bento. E já morando em Cachoeira do Sul, ele já tinha sido transferido, o meu pai sempre procurando melhorar aquele nível de militar, ele estudava eletrônica por correspondência à noite. Estudando eletrônica ele fazia pequenas montagens. No final de uma dessas montagens ele fez um amplificador valvulado. O interessante é que nesse amplificador a gente colocava um microfone, falava no microfone e saía numa caixa. Uma coisa bem rudimentar. Eu tinha uns cinco ou seis anos. Para mim aquilo era uma coisa de outro mundo. Você falar em uma coisinha redonda e sair tudo numa caixa com a voz completamente diferente. Então aquele foi o meu primeiro contato com o microfone. Graças ao estudo do meu pai. Então, passado o tempo nós viemos para Porto Alegre, em 1956, fiz o Colégio Militar, estudei no Rosário, concluí no Julinho, em 1967 fiz vestibular para engenharia mecânica na UFRGS e passei. Mas aquela coisa do rádio e do microfone sempre comigo. Não tinha como se livrar disso. Foi então que eu e um colega meu de eletrônica montamos uma rádio de brinquedo. Uma válvula que transmitia ali para a quadra, no bairro Cidade Baixa. Era época dos militares aqui no país, então havia um controle muito grande. O DENTEL fazia um levantamento muito apurado da comunicação. Mas nós não, por não tratarmos assuntos de política. A rádio só tocava Beatles e Rolling Stones. Eram dois funcionários. O locutor que era eu e o operador que era o meu colega. Então foi a primeira brincadeira com o rádio, mas nada profissional. Em 1969, com essa história de brincar com o rádio, eu sempre escutava muito rádio. Na época a rádio Pampa, ouvi uma mensagem no ar: "A rádio Pampa está necessitando de locutores". Acho que foi a única vez que se ouviu alguma coisa desse tipo. E o meu colega me incentivou a ir e eu fui. A rádio Pampa ficava ali no alto da Bronze, no Centro, e chegando lá tinha umas 40 ou 50 pessoas. De todos os tipos. Tinha médico, dentista, carroceiro e padeiro. Isso porque o rádio sempre teve aquela coisa do fascínio e tal, mas eles fizeram uma seleção. De todos tiraram 10. Eu fiquei. Dos 10 tiraram quatro e eu fiquei. Aí sobraram dois e eu fiquei. Então esse, em 1969, foi o meu primeiro contato profissional com o rádio.
P: O outro locutor que sobrou com você é conhecido?
GRASS: É conhecido sim. Trabalhou na Guaíba. Foi gerente da Caixa Econômica ali do Bom Fim. Vladimir o nome dele. Na época uma pessoa que me deu bastante força e pela qual eu tenho grande apreço foi o Paulo Deniz. Ele era o chefe dos locutores e me deu a oportunidade na Pampa. Então aquele foi o meu primeiro contato profissional com o rádio, inclusive com carteira assinada, eu era o locutor comercial da rádio Pampa.
P: Era só locutor de comerciais?
GRASS: Bom, no rádio agente acaba fazendo de tudo. Era uma rádio basicamente musical. A rádio tinha um intervalo e no espaço entre cada uma a gente informava: "A Rádio Pampa informa. / DEZ horas 15 minutos. //". Aí tocava outra música. Entravam comerciais e o locutor tinha aquela famosa "caixinha", não sei se vocês já ouviram falar, mas era uma caixinha de madeira onde eram colocados os textos. A gente abria tinha sempre uns três ou quatro textos. No final da tarde tinha também um grande jornal falado.
P: E quantas pessoas trabalhavam na Pampa naquela época?
GRASS: Locutores eram cinco. Operadores, cinco. Tinha um programador. O Paulo Diniz que era o chefe. Ao todo umas 15 pessoas.
P: E as notícias eram extraídas de onde?
GRASS: Aí se usava muito a tesoura. Recortava do jornal e colava numa folha em branco, sempre com o cuidado de não falar "Conforme fotografia anexa" ou coisas parecidas.
P: Mas não é simplesmente chegar e ler as notícias. É preciso ter uma técnica, além da voz adequada. Como foi o teu aprimoramento na locução?
GRASS: Bom, aí vem aquele a quem eu agradeço que foi o Paulo Deniz. Foi quem me deu a maior força. Ele dizia que eu tinha uma voz agradável, mas que me faltava aquele algo mais. Então na época não existia a FEPLAN. Não tinha escola de locutores. A gente sentava ao lado do locutor mais antigo e fazia como ele fazia. A partir daí eu fui desenvolvendo a minha técnica.
P: E teve algum locutor que te inspirou?
GRASS: Teve na época o Rogério Fava, que talvez seja hoje o diretor da Golden Cross no Rio Grande do Sul. Ele sempre tinha uma maçã. Ele que era muito direito, muito organizado e não podia mexer na maçã. Depois comia a maçã e dizia depois que era bom para a voz.
P: Sobre aquela seleção de locutores, a que você atribui terem te escolhido?
GRASS: Provavelmente foi por causa da voz grave. Naquela época ainda tinha isso, hoje não tem mais. E tinha a voz do Ernani Behs, já falecido, e assim como ele eu tinha tirado as amídalas. Então dizem que sem as amídalas o ponto de reverberação aumenta, mas não sei se é verdade. Então mesmo hoje a locução ainda tem algumas características. Sempre a gente acaba com a voz para baixo.
P: E como você foi treinando e melhorando a sua voz?
GRASS: Aí é no dia-a-dia. É na prática. Dentro da Pampa isso ainda era um pouco limitado. Eu fazia locução do nome das músicas, hora certa e noticiário. Aí, em 1970 a Farroupilha me aproveitou. Ficava na época nos 600 KHZ. Era uma emissora de peso. Na época o diretor da Farroupilha, eu não me lembro o nome, ele me deu excelentes aulas. Eu fiquei então um ano na Pampa e um ano na Farroupilha.
P: Durante o tempo que ficou na Pampa você cursava engenharia?
GRASS: Sim e eu continuei fazendo engenharia. Lógico que eu demorei um pouco mais para me formar, mas eu continuei fazendo engenharia. O meu horário de trabalho era durante o dia. E eu tinha uma espécie de mesada que o meu pai não podia me dar. Então eu era estudante de engenharia, mas já tinha o meu carro com o dinheiro da Pampa. E fora que na época eu tinha uns 22 ou 23 anos e isso pegava bem. Eu chegava na faculdade e o pessoal comentava: "olha lá o cara do rádio" e isso era muito bom.
P: Teve algum episódio curioso em função do trabalho ou da voz? Alguém te ligava só para ouvir a voz?
GRASS: Teve um episódio curioso. A rádio Pampa é uma rádio pequena. Tinha o estúdio e o operador do outro lado do aquário. E alguns dias eu tinha que levantar cedo. Às seis horas eu tinha que abrir a rádio. Era difícil fazer isso por que eu estudava até tarde. E numa manhã dessas, eu estava lá quase dormindo e tinha aquela caixinha que eu falei há pouco dos comerciais, e o texto era o seguinte: "Casa Rodrigues de tecidos". Veja o que faz o subconsciente faz. Eu falei "Casa Rodigues de trecidos", o primeiro ERRE que faltou o meu cérebro jogou para a palavra seguinte. Eu lembro que o operador acordou, deu um salto e começou a gargalhar e eu no ar não sabia se ria ou se continuava ali.
P: E algum caso que tenha ocorrido com mulheres apaixonadas?
GRASS: Sempre tinha. Mais através de cartinhas. E até por que, na época, eu tinha um programa no sábado à tarde que atendia pedidos musicais dos ouvintes. Era das 12 às 14. O nome era "Sucesso da Pampa". Bom, choviam cartas pedindo música, mas sempre com fotos e florzinhas e recados deste tipo. Porque a pessoa não conhecendo o locutor termina fazendo uma imagem idealizada da pessoa. Hoje já com a TV e as grandes emissoras que tocam música são as FM e é difícil quem não conheça o locutor do FM.
P: Neste momento em que você estava na Pampa e na Farroupilha, quais eram as rádios que existiam naquela época, as principais?
GRASS: Aqui, na época a principal ainda era a Guaíba. Tinha também a Farroupilha por causa da potência, por causa da programação e por causa do jornalismo que era muito bom. Tinha um grande jornal falado da Farroupilha que era feito pelo departamento de jornalismo. Editado e com notícias muito boas, mas sem sonoras. Era lido durante duas horas por três locutores. Era o Grande Jornal Falado Farroupilha.
P: Ainda era plena ditadura?
GRASS: Era sim. Tinha sempre o interventor dentro de cada rádio Farroupilha era um coronel. O DENTEL estava sempre em cima. Sempre em cima.
P: E quando tu saíste da Pampa para a Farroupilha foi para fazer o mesmo estilo de programa ou mudou?
GRASS: Mudou. Mudou. A parte de locução comercial era a mesma coisa. Caixinha e tal. É isso que eu digo que eu aprendi na Farroupilha. A parte de fazer abertura e fechamento de programas era uma coisa totalmente nova e diferente para mim. Entrar em um grande jornal falado com trilha e tudo é outro tipo de locução. Era eu mais um locutor. À tarde eu lembro que tinha o Júlio Rosemberg. Eu me lembro que ele falava: "Na locução comercial o estudante de engenharia João Cláudio GRASS". Ele dizia isso no ar.
P: E quanto tempo ficou na Farroupilha?
GRASS: Fiquei na Farroupilha um ano, um ano e meio. Porque a atual RBS TV, a TV GAÙCHA me chamou e eu fui. Sem conhecer ninguém. Eles ouviram a Farroupilha e me chamaram. Eu entrei como locutor comercial e como locutor de chamadas. Na época não existiam os programas ao vivo, eles vinham em VT no dia anterior. Aquelas fitas grandes. O Jornal Nacional vinha em VT. Mas a parte local éramos nós que fazíamos. Então se faziam as chamadas. A TV Globo mandava as chamadas prontas, mas a gente tirava o áudio e tinha que casar com a nossa voz. Então a novela era a "Irmãos Coragem", então a gente fazia as chamadas. Na época o José Antônio Daudt me botou na frente de uma câmera para fazer um teste e na época acabei fazendo a apresentação da parte local do Jornal Nacional. Era tudo ao vivo. Havia um programa noticiário vespertino que eu fazia. Era "O 12 dá a notícia". Era na TV Gaúcha. Na época eu me lembro que eu peguei o incêndio da TV Gaúcha. Era dia 12 de junho de 1972. Ai a Zero Hora mostrou uma reportagem com o locutor dentro da cabine. Então a TV foi uma coisa super interessante. E aí volta aquilo que eu falava. Se no rádio eu já recebia algumas cartas, por mais que a minha imagem não seja lá essas coisas, imagina quando eu chegava na faculdade. Na época para a televisão era. "Olha lá o cara da televisão". E quem trabalha em rádio e TV é pavão. E era uma coisa maravilhosa. Sempre adorei. Sempre gostei. Se eu não fosse pavão não tava falando aqui com vocês também. Eu fiquei na TV até 1976, quando eu me formei e fui para São Paulo.
P: Qual a atividade que te agrada mais, locutor ou apresentador?
GRASS: Com certeza a de locutor. Porque o rádio te exige mais. A TV você tem a imagem para demonstrar algum tipo de sentimento na expressão, como alegria, tristeza, raiva. Tudo isso a imagem mostra. No rádio tem que fazer isso tudo com a voz para dizer que tu estás alegre, que tu estás brabo e até mesmo que está apaixonado, por exemplo. Entende? Então isso tudo é feito com a voz, então eu prefiro ser locutor. E quando se está na TV tem mais a preocupação com a imagem mesmo. E o rádio é mais apaixonante, tanto é que até hoje se mantém. Quando entrou a televisão muitos disseram que o rádio ia acabar, mas não há como acabar.
P: Quanto tempo ficou exclusivamente como engenheiro em São Paulo?
GRASS: Fiquei 15 anos. Totalmente afastado do rádio. Só ouvindo. Eu fui para São Paulo em 1976, depois voltei para Porto Alegre. Quando eu estava em São Paulo eu fui para uma multinacional. E eles tinham representantes em diversas capitais do país, Na época não se falava muito em audiovisual. Chegando lá eu mostrei que era possível e dentro dessa empresa eu acabei comprando um gravador e um microfone e fazia trilhas e locuções para a empresa. Provei para eles que era possível. Era uma empresa no interior de São Paulo. Eu ainda assim ouvia rádio, mas não muito.
P: Porque voltou?
GRASS: Primeiro lugar porque o gaúcho é um sentimental antes de tudo. É difícil não voltar. Eu já fui para lá e morava perto da rodoviária porque parecia que eu estava mais perto de Porto Alegre. Que era só voltar a qualquer momento. Era só para ter aquela impressão. E o meu coração estava aqui também, sabe aquela coisa, né, eu tinha ido e ela tinha ficado. Ai em 1980, 81, eu voltei para trabalhar em outra empresa como engenheiro. Mas desde a ida para São Paulo eu cheguei a pensar em recusar para ficar aqui, no rádio. O que pesou foi o lado financeiro, mas o coração e a voz doíam. Era uma experiência nova e eu não me arrependo. Quando voltei, o meio continuava fascinando. Até 1989 eu era engenheiro. Trabalhei na Morgante, em Novo Hamburgo, no Sindicato dos Transportes, na Associação do Aço, mas em 89 com a mudança do governo Collor o meio industrial ficou com poucos investimentos e este setor começou a fechar para mim. Por acaso, depois de seis meses desempregado, um colega me ofereceu uma oportunidade de ir para a rádio Sogipa. Era o Nataniel Soares. A rádio Sogipa estava abrindo aqui em Porto Alegre. A volta acabou sendo por acaso. Era uma boa estrutura, olhem as fotos. Era mais para dentro do clube, mas pegava em grande parte de Porto Alegre. Hoje é a freqüência da Continental. Ai de novo o Nataniel me disse que a Gaúcha estava precisando de locutores e eu fui falar com o Chefe dos Locutores que ainda é o Domingos Martins e depois de um ano na Sogipa eu fui para a Gaúcha e estou lá até hoje. Foi em setembro de 1991. Desde aquela época fazia os noticiários de hora em hora.
P: E o que mudou na estrutura que você percebe?
GRASS: Quando eu fui para São Paulo era cartucheira. Quando eu voltei também. Mas nesses 15 anos que eu estou na Gaúcha, ai sim, a mudança é no dia-a-dia. A tecnologia explodiu. Quando eu entrei na Gaúcha eram máquinas de escrever na redação, por exemplo. E eu tenho que me acostumar com as mudanças. E eu sempre gostei de acompanhara as mudanças. E hoje eu leio as notícias em um computador então é fundamental saber mexer. E já houve gafes por causa disso. No início o sistema era o DOS. Imagina se o Windows cai hoje em dia, naquela época era bem mais complicado. Estava no meio da notícia e caía, simplesmente anunciava o próximo noticiário e deu pra bola. E segue por vezes no improviso. Mas sem inventar a notícia e claro.
P: Como é o espaço para os locutores hoje no rádio?
GRASS: É uma questão de adaptação. Dentro do programa Gaúcha Entrevista, do Rui Carlos Ostermann. Dentro desse programa em tenho o quadro das condições do tempo. É um estilo novo, mas eu me adaptei a isso. Na época nós inovamos com expressões do tipo: "o tempo está nublado com meia dúzia de três ou quatro nuvens". Era descontraído. Diferente do ritmo de locução. Então eu resolvi ir além e um dia pesquisando na internet eu resolvi saber o que era o tal do ponto de orvalho. Então esse tipo de coisa acaba pegando. Então se eu digo que o ponto de orvalho é de 12 graus e a temperatura está em 18, não vai chover. Se está 13, está perto ou pode chover. É uma coisa que existe mesmo. E a outra foi a expressão sobre o bulbo seco do termômetro. Porque a temperatura muda em função disso e acaba pegando.
P: Sobre alguns critérios jornalísticos que o locutor acaba incorporando, o que acha disso?
GRASS: Muita gente virou jornalista com o tempo de rádio. Mas na época eu não fiz isso. Hoje, se eu tiver oportunidade, não descartaria fazer um curso de jornalismo. Nunca é demais. E eu acho que abriria mais espaço porque as emissoras exigem hoje em dia que o seu âncora tenha formação para dar opinião e eu acho isso certo. Apesar de eu também dar opinião.
P: Como lidar com a exigência de não errar?
GRASS: Bom, nós somo seres humanos. Muitos julgam mal essa coisa do locutor. Não pode errar, por quê? Mas locutor erra, não existe isso. A pessoa deve saber usar a voz. Na época do Correspondente Ipiranga houve uma gafe. O presidente era Itamar Franco e a expressão mais usada era inflacionário. Mas não é que o Itamar teve um problema no dente e era uma inflamação... Imagina o que não foi para o ar. Era umas dez para as sete, grande audiência, e saiu a expressão: "O presidente Itamar Franco foi internado com o processo inflacionário no dente". Na hora eu nem percebi, mas gente de outras emissoras, na escuta, como a Guaíba, não perderam tempo em ligar para tirar sarro. Fora aquelas expressões em árabe. E tinha quem fosse falar em inglês, na hora não sabia e raspava com o dedo no microfone para fingir má sintonia. Esse tipo de coisa. Mas é bom sempre estar atualizado com os principais nomes para não ser surpreendido. Mas na hora se não dá você tem que largar alguma coisa. E o ouvinte não vai dizer que está errado. E a gente treina sempre que dá. E assim como eu erro, o editor também erra. Então, se eu posso eu leio sempre antes. Dependendo eu treino sempre. Se a gente volta depois de 30 dias de férias, tem que adaptar. E eu em casa tenho um estúdio. Muitos comerciais da Gaúcha, por exemplo, são gravados comigo.
P: Alguma ambição ainda no rádio?
GRASS: Sabe que um dos maiores traumas é não entender nada de cantar, por exemplo. Se eu estou com algum outro locutor eu entro mais ou menos no mesmo tom dele, mas é da prática. E eu tenho mais uns dois anos de rádio antes de parar. Evidentemente se pedirem para eu ficar, fico. Tenho que cuidar do meu estúdio e também quero viajar e aproveitar um pouco. Porém, cantar não consigo.
P: E sobre o nome JOÃO CLÁUDIO DE DEUS GRASS, porque omitir o de Deus?
GRASS: E acabou ficando hoje a voz de Deus, com sempre brinca o Moacir Scliar. Houve uma época de rádio, e hoje também, é até perigoso dar todo nome no rádio. Mas a opção de tirar o de Deus foi automática.
P: Já foi reconhecido na rua por sua voz?
GRASS: Muitas vezes. Tem cada coisa estranha, por exemplo. Eu encontro um colega da engenharia e ele pergunta o que eu estou fazendo e eu digo: "Estou trabalhando na rádio Gaúcha". Ele pergunta: "Fazendo o que?" e eu digo: "Locução". "Como assim?" ele pergunta. Aí eu digo: "Ouve só: LEIA EM ZERO HORA..." e ele reconhece na hora.