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Chaves: a eterna magia do menino do barril

Chaves no barril
Basta um esbarrão para um membro do clã identificar o outro. Se o atrapalhado disser que "foi sem querer querendo", ali está um fã de Chaves. Exibido desde 1984 no Brasil, o seriado mexicano deixou de ser um simples humorístico infantil e virou fenômeno pop.

Nesta semana, os fãs gaúchos estão em festa. Domingo, Porto Algre recebe o espetáculo Senhor Barriga É Jovem Ainda. Três dos quatro lotes de ingressos já estão esgotados. Resta o quarto, a R$ 80. Unidos por fóruns e fã-clubes online, os próprios fãs fazem lobby junto às produtoras para trazer personagens ao Brasil.

– Esse show do Senhor Barriga, por exemplo, é engraçadíssimo. Mas quem vê a plateia chorando, emocionada, pensa que é um drama – relata Maurício Trilha, 20 anos, que leva o Chaves tatuado no braço e, em março, esteve no México para a homenagem aos 40 anos de carreira do criador do personagem, Roberto Gómez Bolaños.

Autor do bem-humorado livro Seu Madruga – Vila e Obra (Mirabolante Editora, 2010), Pablo Kaschner aponta motivos para a popularidade sem fim do seriado e até crescente, no caso do seu "biografado", cuja imagem virou cult e febre em estampas de camiseta, além do universo de fãs da série.

– Chaves tem humor em vários níveis. Desde o pastelão, com apelo às crianças, até os trocadilhos, para adultos. No caso do Seu Madruga, ele virou um bastião contra o politicamente correto. Onde se vê hoje alguém dizendo que "não há trabalho ruim, ruim é ter que trabalhar"? – questiona Kaschner, em defesa do "chimpanzé reumático".

Intérprete do Senhor Barriga, o ator Édgar Vivar acredita que, em Chaves, a América Latina aprende a rir dela mesma:

– Em todas as vizinhanças encontramos o sujeito endividado, a mãe estraga o filho e até aquela famosa solteirona em busca de um casamento. A linguagem da comédia é universal.

"Não vejo a hora de provar o chimarrão"

O ator Édgar Vivar, 63 anos, teve de aprender português de tantos fãs brasileiros que o procuravam. Ele já está ensaiando uns "tchês" para o show de domingo, às 20h, no Opinião, em Porto Alegre. Por e-mail, ZH fez uma barriga com o Senhor Entrevista. Ou melhor, uma entrevista com o Senhor Barriga. Confira trechos:

Zero Hora – Ao longo dos anos foram dezenas de boladas, marretadas e tijoladas cada vez que o senhor entrava na vila. Ficou alguma sequela daqueles golpes todos?

Édgar Vivar
– Sim, durante as gravações do filme El Chanfle 2 (comédia inédita no Brasil com todo o elenco do Chaves, mas interpretando outros personagens. Roberto Gómez Bolaños, o Chaves, vive o roupeiro do América do México) tivemos que repetir uma sequência de queda diversas vezes e acabei quebrando o meu cotovelo. Até hoje tenho o cotovelo um pouco torto. Ironicamente, a primeira tomada de todas acabou sendo a escolhida para o filme.

ZH – O seriado Chaves faz sucesso há pelo menos três gerações no Brasil. Qual a explicação para o fenômeno se renovar dessa forma?

Vivar –
Creio que, de alguma forma, os personagens de Chaves representam uma realidade comum, senão em todos, na grande maioria dos países onde o programa é exibido, e isso soa familiar aos telespectadores. O público é quem tem a última palavra sempre, e considero que poderia ser feita a mesma pergunta a eles. Tenho certeza de que as pessoas responderiam que é por causa do seu otimismo e que, apesar do tempo, a mensagem e os valores universais persistem.

ZH – O senhor percebe alguma diferença do fã brasileiro em relação aos de outros países da América Latina?

Vivar –
Não passo um dia sem receber centenas de mensagens do Brasil via Twitter, Facebook etc. E por causa deles, resolvi aprender português, para que pudéssemos nos comunicar ainda mais. Conheço toda a América Latina, e o carinho do público brasileiro é uma coisa única. Acredito que todos os personagens são muito queridos pelos fãs, mas sei que os brasileiros são loucos pelo meu amigo Ramón (Valdés, morto em 1988), que vocês conhecem como Seu Madruga.

ZH – Com quais atores do seriado o senhor criou mais afinidade? É verdade que o ator que interpretava o Seu Madruga era um grande amigo seu?

Vivar –
Tenho uma boa relação com todos os meus companheiros e ainda mantenho contato com eles, seja por e-mail, telefone ou pessoalmente. Em março, estive com Roberto, Florinda (Meza, a Dona Florinda) e Ruben (Aguirre, o Professor Girafales) no América Celebra Chespirito (especial do canal Televisa em homenagem aos 40 anos de carreira de Roberto Gómez Bolaños). Dias antes, encontrei Carlos (Villagrán, o Quico) em um restaurante. É sempre bom revê-los. Ramón foi um dos melhores amigos que já tive e é uma das melhores pessoas que conheci em minha vida. Um tipo muito simpático e engraçadíssimo, acho até que era mais engraçado pessoalmente. Ele era meu vizinho "de muro", então nos encontrávamos sempre. Ele estava sempre na minha casa.

ZH – Qual é o seu episódio preferido? Por quê?

Vivar –
Eu gosto muito dos episódios que gravamos em Acapulco e o especial de Natal que se passa na casa do Senhor Barriga. Em ambas as ocasiões, todos os personagens se reúnem em um mesmo local e, mesmo com as confusões e trapalhadas de sempre, fica evidente a relação de amizade que existia entre eles.

ZH – O senhor gostaria de dar um recado aos fãs de Porto Alegre? Sabe alguma coisa sobre a nossa cidade?

Vivar –
Estou muito feliz de poder conhecer o Rio Grande do Sul nesta minha visita ao Brasil. Meus amigos me disseram que Porto Alegre é uma cidade linda com um povo muito simpático. Não vejo a hora de provar o chimarrão! Disseram-me que é mais forte do que o da Argentina. Espero ver todos os meus fãs gaúchos no dia 22 de julho, no Opinião. O show vai ser trilegal, tchê!

ZH – Corrigido pela inflação, quanto o Seu Madruga já lhe deve pelos 14 meses de aluguel?

Vivar –
Sinceramente? Eu não faço a menor ideia (risos)! O valor da dívida deve ser alto, mas ainda assim infinitamente menor do que a saudade que sinto do meu amigo Ramón.

Zero Hora

Édgar Vivar cantando "Yesterday", dos Beatles


Édgar Vivar cantando a canção Yesterday (Lennon-McCartney) dos Beatles (álbum Help!, 1965).

Sketch "E Naquele Intervalo das Gravações", do ano de 1994, do programa Chespirito.

Chaves chama Nhonho de Chaves!