Há vários fatos do cotidiano que o filme profetizou em 1993 e que fatalmente se concretizaram. Eu queria esperar até o ano 2032 para escrever um texto sobre isto, mas não aguentei, por isto, elaborei uma lista já em 2020, assim ela poderá até servir de rascunho para um possível texto daqui a doze anos.
ATENÇÃO: o texto que vem a seguir é repleto de spoilers. Então, caso ainda não conheça o filme, assista-o e só após continue a leitura.
Los Angeles, 1996. Em uma sociedade dominada pela criminalidade, o policial John Spartan, mais conhecido pelo apelido "O Demolidor", em razão de sua conduta linha-dura de tentar prender criminosos sem medir esforços, a ponto de, literalmente, demolir as coisas, tenta há muito tempo prender Simon Phoenix, um impiedoso psicopata.
Finalmente, em uma operação chefiada pelo próprio, John Spartan, praticamente sozinho, consegue prender Simon Phoenix. Entretanto, o prédio ocupado por Simon estava repleto de explosivos C4 e gasolina, transformado em uma bomba gigante por Phoenix e seus comparsas.
Durante a luta entre John e Simon, os explosivos foram detonados, derrubando o prédio. O que Spartan não sabia era que trinta civis, feitos reféns por Phoenix, estavam junto aos escombros, apesar do prévio escaneamento por calorimetria realizado pelo policial, que atestou que não haviam mais pessoas no prédio além dos criminosos.
Então, John Spartan é julgado e condenado a setenta anos de reclusão. Como suas contribuições à sociedade foram levadas em consideração, a Justiça, em vez de levá-lo à uma prisão comum, destinou-o a uma pena alternativa: a crio-prisão, onde John ficaria congelado numa cuba, e suas atividades neurológica e sanguínea seriam reduzidas a quase zero, apenas o necessário para garantir sua sobrevivência na total inatividade corporal.
Ironicamente, Simon Phoenix, apesar de seu extenso histórico de crimes, foi congelado da mesma maneira que John Spartan.
San Angeles, 2032. Trinta e seis anos após a prisão de Spartan e Phoenix, Los Angeles havia se unido às cidades de Santa Barbara e San Diego desde 2011, um ano após o maior terremoto que a cidade havia sofrido em sua história, e se transformou em uma metrópole distópica, uma utopia pacifista, onde o crime não mais existe.
Lenina Huxley, uma policial que possui fascinação nostálgica pela cultura do século XX, acha o cumprimento de suas funções como garantidora da lei e da ordem, num lugar onde não existem criminosos, apenas pessoas que dizem palavrões e desobedecem o toque de recolher, uma tarefa monótona.
Simon Phoenix, descongelado para ser entrevistado durante tentativa de obtenção da liberdade condicional, libera as algemas que o prendiam na cadeira que estava, ao dizer as palavras secretas "Ursinho Teddy" (Teddy Bear), consegue escapar da prisão e assassina várias pessoas, entre elas Warden William Smithers, diretor da crio-prisão desde a época que John e Simon foram presos.
Solto nas ruas, Phoenix espalha o pânico na sociedade que, até então, desconhecia o crime de homicídio, cuja lei era detalhada pelo código 187 e representada pela sigla MDK (Murder Death Kill).
George Earle, chefe do Departamento de Polícia de San Angeles, foi contra, mas Lamb, um policial veterano, argumenta de forma irrefutável ao dizer que Simon Phoenix é um criminoso à moda antiga, e para detê-lo seria necessário um policial à moda antiga. Então, a tediosa vida de Lenina Huxley logo daria uma reviravolta, pois se tornaria parceira de John Spartan na busca pelo paradeiro de Simon Phoenix.
Durante a caça ao criminoso mais cruel do século XX, John Spartan descobriu que a fuga de Simon Phoenix foi planejada pelo "benevolente" Sr. Spacely... ahn, quero dizer, Raymond Cocteau, prefeito-governador de San Angeles, o responsável pela criação do estilo de vida dos habitantes da metrópole. Raymond queria matar Edgar Friendly, líder dos grupos rebeldes que se recusaram a viver da maneira que Cocteau ordenava e viviam nos túneis subterrâneos da cidade.
Raymond Cocteau não poderia fazer isto pessoalmente, por isso, descongelou Simon Phoenix para recrutá-lo, junto com alguns comparsas e outros prisioneiros de sua época. Inocentemente, Raymond achou que poderia controlar as atitudes de Simon, mas acaba morto por outro criminoso, através de ordem direta de seu próprio "imediato".
"Send a maniac to catch one". Dublada para o português brasileiro, "mandaram um maníaco para pegar outro". Este foi o mote da carreira policial de John Spartan em suas duas missões para capturar Simon Phoenix.
Apesar se ter sido produzido no longínquo ano de 1993, o filme é atemporal, já que mostra as causas e efeitos do "politicamente correto", tão presente na atual realidade. É uma mensagem de alerta em forma de filme de ação, um "tapa na cara" nas pessoas que desejam esse ideal utópico, que promete o céu, mas se utiliza de métodos dignos do inferno, através de um Estado autoritário.
As consequências disto? Polícia desarmada e despreparada, criminosos armados até os dentes, pessoas que "se machucam" com palavras, pessoas que emitem opiniões consideradas fora dos padrões sociais estabelecidos são duramente punidas, forte repressão a comportamentos característicos de seres humanos do sexo masculino, desestímulo ao consumo de carne, ao contato sexual... as críticas abordadas no filme possuem forte relação com a nossa sociedade atual. A única diferença é que a película cinematográfica só achou que não aconteceria tão cedo.
Agora, algumas curiosidades a respeito deste filme. Ele já começaria em 2032, sem referências ao que aconteceu no passado. Fred Dekker foi o responsável por alterar o roteiro e incluir a Los Angeles de 1996, mas seu trabalho nunca foi creditado. "If you don’t show Kansas, Oz isn’t all that special", disse ele na Monster Mania, em 2009.
Primeiramente, as cenas externas seriam filmadas em San Diego e San Francisco, mas o orçamento não era suficiente para isso, então, o set de filmagem foi construído em Orange County, Califórnia. Apesar disso, há uma rápida cena no San Diego Convention Center, onde John Spartan e Lenina Huxley vão até o Taco Bell.
Jean-Claude Van Damme e Steven Seagal foram convidados para interpretar o papel de John Spartan no filme, mas ambos declinaram a oferta. Sylvester Stallone acabou aceitando a proposta.
Achou estranho? Então segura esta: quem foi primeiramente cotado por Sylvester Stallone para assumir o personagem Simon Phoenix foi o famoso ator, produtor, especialista em artes marciais, roteirista, coreógrafo, diretor de cinema e cantor honconguês Jackie Chan!
Sim, é isto mesmo. Ele agradeceu, mas recusou o convite, já que, em sua carreira, nunca quis interpretar um vilão. Agora eu fiquei imaginando o pôster do filme com Jackie Chan no lugar de Wesley Snipes...
Wesley Snipes usou lentes de contato para ficar com os olhos de cores diferentes em "Demolition Man". O olho esquerdo ficou azul, e o direito, permaneceu naturalmente castanho.
Lori Petty, que formou casal com Keanu Reaves em 1991 no filme "Caçadores de Emoção", foi convidada para interpretar Lenina Huxley, mas ela não quis. O papel acabou ficando com a, até então, desconhecida do público, Sandra Bullock. Após dois dias de filmagens, o produtor Joel Silver deixou-a permanecer no elenco, devido à diferenças criativas que detectou na interpretação da atriz. A única cena que foi filmada duas vezes, com cada atriz em uma delas, foi onde Lenina leva John até sua casa. E na oportunidade em que Sandra Bullock entrou em cena, o diretor Marco Brambilla colocou no cenário ainda mais memorabilia que já havia antes.
A personagem Lenina Huxley é uma fusão do nome Lenina Crowne, personagem do livro "Admirável Mundo Novo", com o sobrenome do escritor, Aldous Huxley. No escritório da tenente, que colecionava itens da cultura noventista, há um pôster do terceiro filme da trilogia "Máquina Mortífera". Cinco anos depois do lançamento de "Demolition Man", ainda haveria um quarto "Lethal Weapon".
Simon Phoenix, durante a primeira luta contra John Spartan, no subsolo do museu, ao sacar a arma laser para dispará-la contra o policial, disse "Brave New World", também fazendo referência ao livro citado no parágrafo anterior.
A impressão facial com que Stallone fica quando congela é a mesma que ele fez em todos os filmes da franquia "Rocky", quando levava um gancho (uppercut) na cabeça. Wesley Snipes tinha o mesmo corte de cabelo usado nos filmes da trilogia "Blade", a única diferença é que, em "Demolition Man", é loiro.
Havia uma parte no roteiro do filme em que John Spartan se reencontraria com sua fiha, que haveria se tornado um membro da resistência, liderada por Edgar Friendly. Só que alguns fatores fizeram com que esta cena não tenha sido gravada, como a Warner Brothers requisitando um tempo menor de filme, e a consequente situação em que, como John Spartan foi criogenicamente preso, a filha seria organicamente mais velha que o pai. Então, o paradeiro da mesma continuou sendo um mistério.
Wesley Snipes, na vida real, também foi condenado à prisão, mas não por liderar uma gangue de criminosos e matar civis inocentes dentro de um ônibus, mas por evasão de divisas. Sobre sua atuação, suas cenas de luta pareciam tão ensaiadas e telegrafadas, mas havia um motivo para isso: é que Wesley Snipes era tão ágil e insistente em usar seus próprios movimentos que Denis Leary, ator que interpretou o personagem Edgar Friendly, disse que algumas tomadas adicionais foram realizadas em segredo por um dublê durante a noite.
Nas gravações originais de "Demolition Man", John e Lenina foram jantar no restaurante Taco Bell. Só que, como a marca não possui forte presença fora dos Estados Unidos da América, ela foi substituída na versão europeia do filme pela Pizza Hut, que faz parte do conglomerado Yum!, que, além da Taco Bell, também é detentor das marcas KFC, The Habit Hamburger Grill e WingStreet.
Assim, algumas falas foram redubladas e os logotipos substituídos. No entanto, a dublagem brasileira permaneceu a mesma para as duas versões do filme.
Ainda se referindo à cena em que John Spartan e Lenina Huxley vão jantar no Taco Bell, Sandra Bullock usava um vestido feito de pedras preciosas que pesava mais de 18 quilos. Era tão pesado que, após a cena em que Huxley narra animadamente a luta que ocorreu no pátio do restaurante, o vestido rasgou, e é por isso que, durante o restante do diálogo com Stallone, Bullock estava com os braços junto ao seu corpo.
Todos os habitantes de San Angeles se vestiam de forma bem semelhante um do outro, além de não escutarem mais música. Como não havia mais outdoors de propaganda de produtos e serviços, dá-se a entender que o Capitalismo não é o regime que impera no local. Deve ser por isso que a rádio FM mais famosa da cidade é uma que toca jingles, o que conhecemos como intervalos comerciais, durante vinte e quatro horas por dia. O sexo é apenas virtual, a gravidez é realizada através de inseminação artificial, além dos pais precisarem de autorização do governo para terem um filho, e não há contato físico sequer em um cumprimento.
O sistema de crio-prisão oferece a possibilidade da elaboração de um programa de reabilitação especial para cada detento, podendo aproveitar ao máximo as características físicas e mentais de cada um. Ou seja, o programa de engenharia comportamental (behavioral engineering) é uma espécie de "lavagem cerebral" química e biologicamente induzida.
Ao longo do filme, descobrimos que o programa de reabilitação de John Spartan o tornou um exímio costureiro, ao passo que Simon Phoenix saiu da crio-prisão sabendo acessar a interface dos computadores industriais, invadir sistemas de fornecimento de energia elétrica, água e esgoto, dirigir os carros do futuro, lutar artes marciais, manusear armas... enfim, saiu pior do que já era.
O Palácio da Violência é o museu onde estão expostos e retratados a desordem e a impunidade que prevaleciam em Los Angeles. O setor de armamento é onde ficam todos os artefatos que fizeram a história da luta armada ao longo dos séculos. O mais intrigante é que as armas de fogo estavam guardadas juntamente com as munições, ou seja, bastaria alguém roubá-las para causar o caos. Entretanto, se pararmos para pensar, chegaremos à conclusão de que isto já fazia parte do plano.
Agora, chega de conversa! Vamos finalmente à lista do que o filme previu que iria acontecer e o que ainda não se concretizou:
Punições para quem fala palavrões
Certa vez, a pequena cidade de Middlesborough, na Inglaterra, teve aprovada uma proposta de lei que penalizava em vinte libras quem falasse palavrões em público. Além disso, algumas redes sociais têm sofrido acusações de censurar, suspender, ou até mesmo banir usuários que usam palavras específicas do cotidiano, como "armas", "suicídio" e "estupro".
Edgar Friendly, quando foi abordado por John Spartan no subsolo de San Angeles, fez um discurso crítico acerca da sociedade controlada, comparada por ele à uma velha virgem de 47 anos, sentada em casa, usando pijama, tomando milk-shake de banana, e gritando "eu quero um cachorro-quente". Este é, sem dúvida, o ponto alto do filme.
Proibição do sal e outros alimentos
Lenina ainda acrescentou que os esportes de contato, como o futebol e o rúgbi, combustíveis fósseis e brinquedos não-educacionais também foram proibidos, e que o aborto induzido é ilegal, mas a gravidez consentida também, se a mulher não obtiver a licença necessária.
Se você é John Spartan, vive no ano de 2032, e deseja loucamente comer um hambúrger, terá que ir até o subterrâneo. Só que não há nenhuma vaca por lá, então não pergunte a origem da carne, ou terá uma enorme surpresa.
Em Belo Horizonte, Minas Gerais, os restaurantes estão proibidos de fornecerem saleiros a seus clientes. Já os deputados do Estado de São Paulo proibiram o consumo de carnes e derivados às segundas-feiras em escolas e repartições públicas. O projeto prevê estender a obrigatoriedade também para ambientes privados, como restaurantes, obrigando-os a oferecer um cardápio alternativo no primeiro dia útil da semana.
Já que Raymond Cocteau proibiu o sal em San Angeles, como os habitantes da metrópole consomem iodo para previnir o bócio?
Internet via fibra óptica
Para ilustrar bem, de forma metafórica, se a internet fosse um ser humano, nos anos 1990, ela estaria aprendendo a engatinhar.
Quem queria usar a "primitiva" internet noventista deveria possuir um computador, uma linha telefônica e um modem, para realizar a famosa conexão discada.
Os mais abastados tinham o privilégio de possuírem os modens mais avançados do mercado, que alcançavam velocidades de conexão de até 56 Kbps, ou incríveis 7 kilobytes por segundo.
Depois, a tecnologia criou novas formas de conexão: ADSL, internet via rádio, redes 3G, 4G e 5G, internet via satélite, até a recente popularização das redes de fibra óptica, sistemas que usam cabos por onde se passa apenas luz, e não sofrem interferências externas como, por exemplo, magnéticas ou elétricas.
No filme, que se passa em 2032, no momento em que John Spartan liga o aparelho de televisão para assistir ao vídeo da câmera de segurança que captou o momento em que Simon Phoenix e Raymond Cocteau se encontram após o ataque no museu, pode-se verificar que tanto a tela quanto o controle remoto possuem a marca FiberOp, marca que utiliza a forma reduzida de "fiber optic", que significa "fibra óptica" em inglês.
No filme, a tecnologia permite às pessoas assistir a filmes, séries, desenhos animados, programas de TV, e fazer chamadas de vídeo umas com as outras, inclusive por engano, como foi o caso da mulher que estava no banho e "videofonou" sem querer para John Spartan. Exatamente como na vida real, e bem antes de 2032!
Uso da voz para controlar equipamentos
A cada dia, mais equipamentos vêm de fábrica com sistemas de reconhecimento de voz, para que possam ser controlados à distância: computadores, carros, telefones, rádios, lâmpadas... quase todo utensílio doméstico já pode ser substituído por outro mais moderno, que possui este recurso. Alexa, Siri e Google são os exemplos mais famosos.
E mais: dependendo do aparelho, além da voz, pode-se usar gestos, bater palmas, mexer os pés, ou realizar outros movimentos com os membros superiores ou inferiores, a fim de ordenar que um equipamento realize certas tarefas. Os vídeo-games são o mais característico exemplo disto.
Telas no formato horizontal
Em compensação, os telefones celulares ganharam displays maiores e ocuparam o lugar dos teclados físicos, passando a serem virtuais, acessados através do toque nas telas. As telas que aumentaram sua altura foram exatamente as dos smartphones, e cada vez mais vídeos são filmados com estes aparelhos na horizontal.
A produção cinematográfica previu que vídeos na horizontal existiriam. Só que eles não são usados em produções de TV e cinema, mas seriam filmagens realizadas por usuários portando celulares, smartphones e tablets.
Chamadas telefônicas e conferências por vídeo
O advento e popularização da internet de banda larga, ultrapassando inclusive a velocidade de transmissão das redes locais (LAN) de 100 Mb/s, possibilitou que a profecia do filme se tornasse realidade quase três décadas antes do ano em que a produção cinematográfica se passa.
Além disso, o filme também previu que os tablets existiriam. Na cena em que Lenina Huxley videofona para William Smithers, o diretor da crio-prisão usa um dispositivo semelhante a um iPad.
Educação à distância
Enquanto que, atualmente, as aulas podem ser assistidas por videoconferência, com o professor em maior destaque na tela, e os alunos em miniaturas, em "Demolition Man", a coisa é um pouco mais complicada: na imagem acima, vemos o prefeito-governador Raymond Cocteau em uma sala normal, com uma mesa rodeada de totens, e cada um possui um televisor, que reproduz a imagem de um aluno, capturada por uma câmera instalada em sua casa, e os totens giram para ficarem sempre de frente com o manda-chuva de San Angeles.
Carros elétricos e autônomos
No entanto, as baterias eram e continuam sendo o principal problema de um carro elétrico, em virtude da pequena distância que conseguem alcançar com apenas uma carga completa. Só que esta tecnologia já melhorou bastante: em vez de chumbo ácido, como no caso do Egger-Lohner, ou gel de capacitância, como são as baterias que alimentam os veículos do filme, atualmente são usados compostos de íons de lítio.
Em "Demolition Man", além da mudança da fonte de energia que locomove os veículos, os cintos de segurança e os airbags foram removidos, e em seu lugar, foram instalados sistemas que detectam uma situação iminente de um acidente, e disparam uma solução gasosa, semelhante à dos extintores de incêndio, e que rapidamente se torna uma espuma espessa e rígida, protegendo os ocupantes de ferimentos.
A tecnologia de automação do ato de dirigir também está presente nos carros mais sofisticados e caros, mas não a ponto de substituir os motoristas, como no filme. Alguns que deixaram o carro se locomover sozinho e resolveram dormir ou assistir Harry Potter durante a viagem chegaram a morrer em acidentes, como no caso de alguns donos de Teslas, devido à falhas de detecção de obstáculos e linhas de sentido de rodovias.
A película previu um futuro sem petróleo, ou a abolição de combustíveis fósseis em veículos automotores, em razão da poluição das cidades. Só tem um detalhe: assim como Lenina Huxley fez com John Spartan a respeito da carne do hambúrger, eu digo para você não perguntar de onde vem toda a energia elétrica necessária para recarregar os veículos. A realidade atual demonstra que um futuro sem gasolina ou diesel ainda está longe de acontecer.
Por falar em combustíveis fósseis, o curioso em "Demolition Man" é como um 1970 Oldsmobile 442, com motor de oito cilindros em V, o famoso V8 superpotente, pôde dar a partida normalmente em 2032, depois de ser restaurado e ficar exposto em um museu durante 26 anos... e as motocicletas dos moradores do subterrâneo, com motores dois tempos funcionando a pleno, mas sem gasolina?
Vestuário de proteção contra a radiação solar
O que nem todos sabem é que não é a poluição que aumenta a radiação solar, mas a própria atividade do Sol. As maiores explosões de fogo provocadas pela fusão de hidrogênio nos últimos anos têm aumentado a transmissão de calor à Terra, mas o ciclo tende a se inverter nos próximos anos, já que, de acordo com a NASA, o Sol está agora se aproximando do seu próximo ciclo, o mais fraco em duzentos anos.
Desuso do dinheiro físico para pagamento de contas
Através deste microchip, o governo de Raymond Cocteau poderia saber informações, histórico, ficha criminal e até a localização atual da pessoa. Isto também facilitou, dentre outras tarefas do dia-a-dia, o pagamento de produtos e serviços sem a utilização de cédulas de dinheiro, moedas, cheques ou cartões de crédito.
Até mesmo John Spartan teve o dispositivo inserido em seu braço, porém, Raymond Cocteau fez com que apenas Simon Phoenix não tivesse um microchip implantado no seu corpo. Com o passar da história do filme, descobrimos que é por motivos óbvios.
Isto gerou uma inusitada cena no filme. No Departamento de Polícia de San Angeles, ninguém conseguia obter a localização exata de Simon Phoenix, já que ele era o único na cidade que não possuía o microchip responsável pelo rastreamento. John Spartan até enxergou um lado bom nisto: apesar não poder ser encontrado, Simon também não poderia comprar o que comer nem arrumar lugar para dormir, pois as pessoas já não teriam mais dinheiro em espécie, assim, seria uma perda de tempo Phoenix tentar roubar, a menos que cortasse a mão de alguém.
No entanto, a tecnologia presente em nossa realidade já previu este tipo de situação, não necessariamente através de microchips dentro de nossos corpos. Os leitores biométricos presentes em telefones celulares e outros dispositivos eletrônicos testam se há pulsação sanguínea no dedo cuja impressão digital está a ser lida, então, caso seja usado um dedo ou mão amputada, os sistemas considerarão que a pessoa está morta, e a autenticação será recusada.
Atualmente, as pessoas também podem pagar contas sem o uso de dinheiro físico, como no filme. Através de computadores, telefones celulares, pulseiras eletrônicas, dentre outros meios, as pessoas podem dispensar as cédulas, moedas e cartões para pagar por produtos e serviços, usando os sistemas de internet banking disponíveis online.
Apesar de a medicina moderna já oferecer implantes para monitorar níveis de insulina e marcapassos para controlar os batimentos cardíacos, por exemplo, parece que microchips como os do filme ainda estão longe de se tornarem realidade, senão uma coisa impossível.
Arnold Schwarzenegger possuir carreira política
"Demolition Man" quase acertou a profecia. Schwarzenegger realmente virou político, mas ao ser eleito governador do Estado da Califórnia, em 2003, concorrendo pelo Partido Republicano, com 4.206.284 votos, 48,6% do total. Foi reeleito em 2006, com a maioria absoluta de 4.850.157 eleitores, 55,9% do total.
O único detalhe que o filme esqueceu, ou achou que mudaria no decorrer dos anos, quando mencionou a "Emenda 61", promulgada sob forte apoio popular, é que Arnold Schwarzenegger não pode, sob qualquer hipótese, morar na Casa Branca. É que a Constituição norte-americana só permite que estadunidenses nascidos no país podem concorrer a Presidente da República, cargo que o intérprete de "The Terminator", apesar de possuir dupla nacionalidade, tanto austríaca quanto norte-americana, não pode sequer pensar em ocupar, já que nasceu fora dos Estados Unidos da América. Apenas uma Emenda Constitucional ou uma reescrita completa da Carta Magna do país poderiam mudar esta regra.
Entretanto, nada impediu que Arnold Schwarzenegger ganhasse outro apelido após vencer na Política, "The Governator", alcunha que até virou série de desenho animado, que o ator criou juntamente com Stan Lee.
Pessoas que se ofendem apenas com simples palavras
No filme, o conceito de sociedade aplicado transformou muitas pessoas em seres extremamente deprimidos, tanto que Raymond Cocteau mandou construir e instalar máquinas automáticas, parecidas com caixas eletrônicos bancários, mas que servem apenas para transmitir mensagens de carinho e motivação aos habitantes de San Angeles.
A coisa havia chegado ao ponto em que, quando Simon Phoenix agride um homem que estava utilizando a máquina, o habitante pede desculpas ao criminoso por não ter desocupado o lugar.
Falando em máquinas e tecnologia, ela afastou tanto as pessoas das outras que, logo no início do filme, quando Lenina Huxley chega ao Departamento de Polícia de San Angeles, o policial Erwin recebe uma ligação telefônica, e logo segue o protocolo: "bem-vindo ao Departamento de Polícia de San Angeles, se quiser uma resposta AUTOMÁTICA, aperte o botão".
Virilidade masculina se tornou repugnante pela sociedade
Com John Spartan de volta à ativa, a personagem interpretada por Sandra Bullock pode sonhar em se aproximar sexualmente de um homem à moda antiga, que transpira testosterona, ainda que este seja seu colega de trabalho, que pensa em um relacionamento apenas profissional com Lenina.
No entanto, os outros habitantes de San Angeles veem em John Spartan apenas um fóssil bruto, um Homem de Neandertal vivo, cuja personalidade e atitude são consideradas primitivas, decadentes e "felizmente" esquecidas. Na cena do restaurante, ao ser indagado sobre o que pensava sobre isto, o personagem interpretado por Sylvester Stallone, por se achar completamente normal, disse apenas "obrigado".
E pensar que, na nossa realidade, tudo isto está acontecendo igualzinho ao filme. Hoje em dia, a indústria midiática e sites de comportamento, além de outros meios de comunicação, incentivam que o "homem moderno" deve ter comportamentos completamente diferentes, e parece que isto é um caminho sem volta para o homem que deseja "sobreviver".
Sexo virtual
Isto excitou sexualmente Lenina Huxley, já que ela nunca havia visto um homem esbanjar tamanha virilidade, confiança em si mesmo e vontade própria. Assim, ela convidou John Spartan para fazer sexo em sua casa. Ele estranhou o fato de uma mulher fazer um pedido deste tipo a ele com tamanha naturalidade. Mesmo assim, aceitou a proposta.
John ficou na sala e viu Lenina ir para o quarto se arrumar, mas achou esquisito ela voltar com dois capacetes, colocando um deles na sua cabeça, o outro na cabeça dela, e se sentar longe dele. Então, a conectividade entre os dispositivos produz ondas alfa no cérebro, que, de acordo com o filme, provocam sensações semelhantes às produzidas durante uma relação sexual.
A diferença é que, no futuro distópico onde a produção cinematográfica se passa, as pessoas ficam à distância, e o sexo é virtual em vez de carnal. John Spartan acha tudo aquilo esquisito, e retira o capacete, interrompendo o processo. Ele pede para fazer sexo à moda antiga, mas Lenina fica chocada.
Huxley então explica que, depois que Spartan foi criogenicamente preso, a AIDS dizimou milhões de pessoas ao redor do mundo. Como se não bastasse uma síndrome sem cura se espalhar pelo planeta, mais doenças sexualmente transmissíveis surgiram: a NRS, depois, a UBT.
Assim, Raymond Cocteau, em uma atitude digna de um ditador, remodelou todo o comportamento sexual dos habitantes de San Angeles e baniu o que Lenina Huxley chamou de "transferência de fluidos". Nenhum contato carnal era permitido, nem mesmo um simples beijo na boca. John Spartan se decepcionou, já que alegou que tinha a fama de beijar muito bem.
Então, numa última tentativa, John joga Lenina na parede e tenta "violar a lei", mas é impedido por ela, que manda ele ir embora. No final do filme, acontece exatamente o contrário: após experimentar um beijo na boca pela primeira vez, e pela despertada e aguçada curiosidade em algo que ainda não conhecia, é Huxley quem dá em cima de Spartan.
Até o momento, nenhuma outra DST surgiu com força para provocar uma pandemia. No entanto, o sexo virtual já é um conceito criado pela sociedade atual, para caracterizar o estímulo sexual gerado por vídeos, imagens e sons transmitidos via internet ou offline, através de dispositivos eletrônicos.
A abolição do papel higiênico
Ele cochicha à Lenina Huxley sobre o problema. Então, ela relata a todos que, no século vinte, as pessoas usavam, na higiene pessoal, um papel enrolado, o que faz todos rirem. John Spartan não gosta nem um pouco de ter sido o motivo de tanta gargalhada, e falou que no banheiro não havia nada mais que três conchas, o que faz o policial Erwin, interpretado pelo ainda jovem Rob Schneider, zombar do fato de John não saber usá-las, mas logo tratou de se desculpar, já que o código de conduta especificado por Raymond Cocteau não permitia tal atitude.
John Spartan não se importou, pelo contrário, foi até a máquina detectora de palavrões e disparou poucas e boas contra ela, o que a fez imprimir vários bilhetes de notificação, para a alegria do "troglodita", que poderia finalmente resolver seu problema fisiológico.
Graças ao advento dos dispositivos eletrônicos, e à consequente automatização de processos burocráticos, além do menor envio de cartas, telegramas e outros tipos de correspondências pelo correio, o consumo de papel diminuiu bastante. No entanto, o uso do produto da celulose para a higiene pessoal ainda está longe de terminar, até porque ninguém sabe como aquelas três conchas funcionam!
Direitos Humanos não servem para humanos direitos
Na sociedade atual, cenas como as de "Demolition Man" não são raras de se ver. A Scotland Yard, às vezes, numa ocorrência em andamento, quando precisa conter apenas um ou dois bandidos, proporciona cenas cômicas e patéticas, daquelas para inglês ver!
Controle de armamento bélico nas mãos de cidadãos de bem
Mesmo que haja uma lei que controle ou retire as armas de fogo das pessoas, Simon Phoenix dá um jeito de consegui-las, já que, assim como ele, todos os criminosos possuem naturalmente o péssimo hábito de desrespeitar leis. E onde ele vai conseguir estas armas? Exatamente, no museu.
Assim, Simon Phoenix provoca o caos na cidade. E naquela sociedade resultante, quem poderia conter um bandido armado até os dentes? Apenas um policial armado até os dentes!
Todas as nações que controlam o acesso à armas de fogo, como é o caso do Brasil, onde vigora o "Estatuto do Desarmamento", ou mesmo as que as retiram dos seus habitantes, como fez recentemente a Venezuela, sofrem com os problemas gerados pelas armas ilegais que estão nas mãos dos bandidos.
Postar um comentário