O acidente de Wilson reacendeu o debate sobre a introdução de cockpits fechados em categorias top após trabalho iniciado em 2009 em decorrência das batidas envolvendo Felipe Massa e Henry Surtees.
No GP da Hungria de 2009, Felipe Massa, guiando uma Ferrari, sofreu lesões na cabeça, depois de ser atingido por uma mola, que se soltou do carro da Brawn GP, pilotado por Rubens Barrichello.
Uma semana depois, em Brands Hatch, Inglaterra, Henry Surtees, filho de John Surtees, campeão da temporada 1964 da Fórmula 1, morreu aos 19 anos, após ser atingido por uma roda solta.
Após estes dois últimos eventos, a FIA realizou vários testes ao longo dos anos para avaliar os prós e os contras da introdução de cockpits fechados. Só que a entidade tem encontrado obstáculos ao longo do caminho.
No entanto, a maior preocupação para a FIA com relação à este tipo de cobertura no cockpit é a provável dificuldade que os pilotos teriam ao tentarem sair do carro em caso de um acidente, ou atrasos no atendimento médico, quando os socorristas tiverem que remover uma tampa provavelmente danificada.
Com isso, foi considerado que as desvantagens geradas pelo sistema de proteção foram maiores que os benefícios oferecido. Façamos um raciocínio: no GP da Áustria de 2015, no acidente entre Fernando Alonso e Kimi Raikkonen, a McLaren do espanhol acabou em cima do carro do finlandês, que poderia ter levado minutos para sair por suas próprias forças.
Imagine se o carro acaba capotando. E se pega fogo? As preocupações com os empecilhos do conceito avião caça levaram a FIA a procurar formas diferentes de estruturas de proteção ao redor do cockpit que facilitassem a remoção do piloto em uma situação de emergência.
Além disso, as equipes de Fórmula 1 também ofereceram resistência à proteção testada, pois cockpits abertos sempre foram vistos como um elemento intrínseco das corridas.
A última proposta formulada é de que os carros sejam equipados com uma série de diferentes lâminas verticais na frente do cockpit, o que irá desviar detritos, mas também não impedirá a saída do piloto do carro.
Coincidentemente, os chefes de equipes da Fórmula 1 discutiram o assunto com a FIA antes do acidente de Justin Wilson. Todos aprovaram testes a serem efetuados ainda em 2015. Há também uma ideia apresentada pela Mercedes de outro conceito, no qual a proteção seria colocada em volta do cockpit.
Além disso, não resolve completamente o problema de Justin Wilson. Alguns detritos ainda podem atingir a cabeça do piloto, sem contar que a proteção pode falhar, e, em caso de rompimento, transformar-se em uma lâmina que irá também diretamente à cabeça de quem estiver no cockpit.
A maioria das últimas mortes em monopostos foi causada por ferimentos na cabeça. Isto é fato.
Ayrton Senna foi atingido por um braço da suspensão dianteira direita. Se este artefato tornou-se penetrante o suficiente para perfurar um capacete, então será que uma simples proteção de policarbonato iria proteger o piloto?
Henry Surtees foi atingido por uma roda que se desprendeu de um carro que se envolveu em um acidente. Se este artefato tornou-se pesado o suficiente para causar danos à cabeça de um piloto que estava com o que havia de melhor em proteção automobilística, imagine se houvesse uma simples proteção de policarbonato que estivesse ao redor do cockpit.
Dan Wheldon esteve no acidente que envolveu vários pilotos. O carro voou em direção ao alambrado. A cabeça do inglês atingiu a cerca de proteção que isola a parte externa do autódromo. Você acha que uma simples proteção de policarbonato iria dar conta de salvar a vida do piloto?
Justin Wilson foi atingido por um pedaço da asa dianteira do carro de Sarge Karam. Se este artefato, que pesava por volta de sete quilos, com o impacto, foi lançado ao ar, aliado ao fato do piloto britânico estar em uma velocidade suficiente para entrar em colisão com sua cabeça e a peça, e imediatamente perder a consciência, imagine se houvesse uma simples proteção de policarbonato que estivesse ao redor do cockpit.
Felipe Massa escapou da morte, mas também entra na estatística de acidentes com ferimentos na cabeça. Foi atingido por uma mola que se desprendeu do carro de Rubens Barrichello. Se um capacete que possui proteção balística não foi capaz de proteger o piloto, imagine uma simples proteção de policarbonato que estivesse ao redor do cockpit.
Em todos os casos, a proteção de policabonato poderia se estilhaçar, aumentando ainda mais a possibilidade de danos ao piloto, aos outros competidores, aos espectadores, e tudo que estiver em volta do espetáculo da corrida.
Deve-se pensar nos benefícios e desvantagens de uma proteção deste tipo. Deve-se pensar além do superficial.
É claro que cada vida salva no automobilismo conta pontos para qualquer tentativa de incremento na segurança. No entanto, deve-se colocar em cada lado da balança os prós e os contras, para atestar se vale a pena aplicar quaisquer proteções aos pilotos.
O piloto começa e termina sua vida em monopostos expondo seu corpo a fatores externos. Desde o Kart até a Fórmula 1, ou IndyCar, seja qual for. Independente da categoria, o piloto deve entrar no carro com a consciência de que pode não sair vivo. Eu mesmo sei disso, quando corro com meu Kart Cross na pista particular de terra que tenho em casa.
Quem continua a exigir alternativas de aumento de segurança que já foram testadas e reprovadas, muito provavelmente, nunca deve ter pilotado sequer um kart de aluguel.
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