Mecanismo de Anticítera: um computador de 2 mil anos é reconstruído com LEGO

Mecanismo de Anticítera
O "Mecanismo de Anticítera" é um artefato que acredita-se tratar de um antigo mecanismo para auxílio à navegação. O mecanismo original está exposto na coleção de bronze do Museu Arqueológico Nacional de Atenas, acompanhado de uma réplica. Outra réplica está exposta no Museu Americano do Computador em Bozeman, em Montana, Estados Unidos.

Os restos do artefato foram resgatados em 1901, por mergulhadores, à profundidade de aproximadamente 43 metros na costa da ilha grega de Anticítera, entre a ilha de Citera e a de Creta, juntamente com várias estátuas e outros objetos.

Datado de 87 a.C., o arqueólogo Spyridon Stais notou que uma das peças de pedra possuía uma roda de engrenagem. Quando o aparelho foi resgatado, estava muito corroído e incrustado. Depois de quase dois mil anos, parecia uma pedra esverdeada. Visto que, de início, as estátuas eram o motivo de todo o entusiasmo, o artefato misterioso não recebeu muita atenção.

O mecanismo foi examinado em 1902, e estava em vários pedaços. Havia rodas dentadas de diferentes tamanhos, com dentes triangulares cortados de forma precisa. O artefato parecia um relógio, mas isso era pouco provável, porque acreditava-se que relógios mecânicos só passaram a ser usados muito mais tarde.

Em 1958, o mecanismo foi analisado por Derek J. de Solla Price. Ele chegou a acreditar que o aparelho era capaz de indicar eventos astronômicos passados ou futuros, como a próxima lua cheia, e percebeu que as inscrições no mostrador se referiam a divisões do calendário, como dias, meses e signos do zodíaco.

Além disso, supôs que deveria haver ponteiros, que girassem para indicar as posições dos corpos celestes em períodos diferentes. O professor deduziu que a roda dentada maior representava o movimento do Sol, e que uma volta correspondia a um ano solar, o equivalente a 19 anos terrestres. Se uma outra engrenagem, conectada à primeira, representava o movimento da Lua, daí a proporção entre o número de dentes nas duas rodas deveria refletir o conceito dos gregos antigos sobre as órbitas lunares.

Em junho de 1959, Price publicou um artigo sobre o mecanismo, na Scientific American, enquanto o mecanismo estava apenas sendo inspecionado. Em 1971, o professor submeteu o mecanismo a uma análise, com o auxílio de raios gama.

Os resultados confirmaram a sua teoria de que o aparelho era um calculador astronômico altamente complexo. Ele fez um desenho de como achava que o mecanismo funcionava, e publicou suas descobertas em 1974, onde estava escrito: "não existe nenhum instrumento como este em lugar nenhum. De tudo que sabemos sobre a ciência e tecnologia na era helenística, deveríamos ter chegado à conclusão de que um instrumento assim não poderia existir".

Na ocasião, Price afirmou que o aparelho teria sido construído por Geminus de Rhodes, um astrônomo grego, mas a sua conclusão não foi aceita pelos especialistas da época, que acreditavam que, embora os antigos gregos tivessem o conhecimento para tal máquina, não tinham a habilidade prática e científica necessária para construí-la. Os dados obtidos pela máquina são muito semelhantes aos descritos nos manuscritos de Galileu Galilei e as semelhanças vão além da coincidência, levando a crer que Galileu valeu-se de tal máquina em suas pesquisas.

Em 1996, o físico italiano Lucio Russo publicou um artigo, acrescentando novas questões. O artigo foi traduzido e publicado em língua inglesa, em 2004, sob o título de "The Forgotten Revolution: How Science Was Born in 300 BC and Why it Had to Be Reborn".

A partir de setembro de 2005, a fabricante estadunidense de computadores Hewlett-Packard contribuiu para a pesquisa, disponibilizando um tomógrafo digital que facilitou a leitura de textos que haviam se tornado ininteligíveis devido à passagem do tempo. Essas pesquisas permitiram uma visão melhor do funcionamento do mecanismo.

Quando o usuário girava o botão, as engrenagens de pelo menos trinta rodas dentadas ativavam três mostradores nos dois lados do aparelho. Isso permitia que o usuário previsse ciclos astronômicos, incluindo eclipses, em relação ao ciclo de quatro anos dos Jogos Olímpicos e outros jogos pan-helênicos. Esses jogos eram comumente usados como base para a cronologia.

Essas informações eram importantes, uma vez que, para os povos da Antiguidade, o Sol e a Lua eram a base para os calendários agrícolas, além do fato que os navegadores se orientavam pelas estrelas. Os fenômenos astronômicos influenciavam todas as instituições sociais gregas.

Complementarmente, "para os babilônios antigos, prever eclipses era muito importante, visto que esses fenômenos eram considerados presságios ruins", escreveu Martin Allen, do Projeto de Pesquisa do Mecanismo de Anticítera. "De fato, o mecanismo poderia ser encarado como uma ferramenta política, permitindo que governantes exercessem domínio sobre seus súditos. Foi sugerido que um dos motivos de sabermos tão pouco sobre mecanismos desse tipo é que eles eram mantidos em sigilo por militares e políticos".

O artefato prova que a antiga astronomia e matemática gregas, originadas, em grande parte, na longa tradição babilônica, eram bem mais avançadas do que até então se imaginava. A revista Nature referiu-o assim: "o antigo Mecanismo de Anticítera não apenas desafia nossas suposições sobre o progresso da tecnologia ao longo das eras, ele nos dá novos esclarecimentos sobre a própria História".

O Mecanismo de Anticítera não poderia ser o único mecanismo desse tipo. "Não há nenhuma evidência de quaisquer erros", escreveu Martin Allen. "Todas as características mecânicas têm uma função. Não há nenhum furo extra ou vestígios de metal que sugiram modificações feitas pelo fabricante durante o processo de construção do mecanismo. Isso leva à conclusão de que ele deve ter fabricado vários modelos".

Pesquisas mais recentes revelam que o mostrador que indicava os eclipses continha o nome dos meses. Esses nomes são de origem coríntia. A revista Nature declarou: "As colônias coríntias do noroeste da Grécia, ou de Siracusa, na Sicília, são as mais prováveis, indicando um patrimônio que remonta os dias de Arquimedes".

Aparelhos similares não foram encontrados porque "o bronze é um produto valioso e altamente reciclável", escreveu Allen. "Em virtude disso, antigos achados de bronze são muito raros. Na verdade, muitos deles foram descobertos debaixo d'água, onde não eram acessíveis aos que talvez fossem reutilizá-los. Nós só temos este exemplar", diz um pesquisador, "porque estava fora do alcance de sucateiros".

Foi atribuido a Arquimedes a construção desse aparelho. Sua utilidade vai além de guiar naus. Este aparelho é preciso em calcular as órbitas lunar, solar e de cinco planetas ao redor da Terra, além de prever eclipses lunares e solares que ocorrerão em muitos séculos. Sua precisão é espantosa, visto ter sido produzido por mãos humanas. Chegou a ser considerado uma máquina de previsão do futuro.

A Grécia não só é o berço da civilização ocidental, como também pode ser considerada o berço da tecnologia, e este aparelho, o primeiro computador feito pelo homem.

Em dezembro de 2006, o astrônomo grego Xenofondas Musas anunciou que cientistas gregos e estrangeiros haviam decifrado o enigma sobre o Mecanismo de Anticítera. Chegou-se à conclusão de que o artefato é um tipo de computador e um aparelho para a astronomia.

Entre as novas descobertas, está a de que os povos antigos faziam referências a locais, como Alexandria e a Espanha. O Mecanismo de Anticítera podia realizar cálculos de astronomia e determinar a posição dos planetas desde o século I a.C., data que se estima para a sua construção, e que se trata de uma evolução do planetário, construído por Arquimedes, e das construções megalíticas de Stonehenge, na Inglaterra.

Intensamente estudado entre o final da década de 1950 e o início da década de 1970, o Mecanismo de Anticítera é composto por 27 engrenagens de bronze feitas à mão, e organizadas de modo a representar mecanicamente a órbita da Lua, do Sol e de outros planetas do Sistema Solar. Primitivamente, teria sido protegido por uma caixa ou moldura de madeira, constituindo-se no mais antigo computador analógico hoje conhecido.

O artefato é notável, porque empregava, já no século I a.C., uma engrenagem diferencial, que acreditava-se ter sido inventada apenas no século XVI, e, pelo nível de miniaturização e complexidade de suas partes, é comparável à de um relógio feito no século XVIII.

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