Estamos nos tornando babacas?

As pessoas checam e-mails embaixo da toalha no jantar. E isso pode se tornar mais obsessivo com o Google Glass. É o que queremos?
Google Glass
Eu queria estar empolgado com o Google Glass. É sério, realmente gostaria muito disso. Assisti ao filme "Robocop: O Policial do Futuro", quando criança e sonhei que, um dia, também poderia andar com um visor que me mostraria informações em tempo real, receberia mensagens e gravaria o mundo ao meu redor.

Mas vários anos se passaram e testemunhei o quanto a humanidade passou a idolatrar seus smartphones e já não estou bem certo de que o Google Glass será algo bom para a nossa sociedade. Há um lado negro naquilo que parece ser uma maravilhosa combinação de tecnologias complementares e minha função aqui é estragar a festa.

O Google Glass vai permitir que prestemos atenção ao mundo que nos cerca ao mesmo tempo que continuamos conectados. Sinto-me obrigado a perguntar se não estamos tão viciados no nosso fluxo de informação, redes sociais, notícias, e-mails e jogos, que nos tornamos perigosos. Honestamente não tenho a resposta, no entanto, no meu caminho diário para o trabalho, em Los Angeles, vejo pelo menos três pessoas checando as suas mensagens de texto quando deveriam estar dirigindo.

Enquanto isso, nos tornamos rudes. As pessoas checam seus e-mails no meio das conversas, levantam da mesa de jantar para receber ligações telefônicas ou mantêm seus smartphones no colo para responder os e-mails embaixo da toalha de mesa. Estamos nos tornando uns babacas.

O Google Glass propõe que façamos múltiplas tarefas ao mesmo tempo. Leia uma nova mensagem enquanto está olhando seu interlocutor nos olhos, receba informações sobre o mapa enquanto caminha pela rua ou capture momentos enquanto eles ainda estão acontecendo. Algumas dessas possibilidades são fantásticas. Outras, nem tanto. Será que nós realmente queremos andar pelas ruas com visores sobre os olhos? Será que aceitamos viver tão distraídos a ponto de achar que é normal checar e-mails com o canto dos olhos ao mesmo tempo que fingimos prestar atenção? Talvez estejamos evoluindo e seja possível, algum dia, fazer duas coisas ao mesmo tempo. Mas acredito que ainda não chegamos a esse ponto.

No mundo proposto pelo Google Glass, os nossos amigos poderão ler notícias o tempo inteiro enquanto pensaremos que eles estavam nos ouvindo reclamar e nos oferecendo seu apoio. A interface de usuário do Google Glass é uma mistura de gestos com os dedos na armação dos óculos em combinação com comandos de voz. Imagine uma sala cheia de usuários do Glass dizendo comandos, esfregando as armações e tentando interagir ao mesmo tempo que tentam ter informações fora da rede.

Imagine que você está no meio de uma conversa com um amigo, apenas para descobrir depois que esse tempo todo o papo estava sendo gravado. Será que você se sentiria confortável com isso? Não é nem uma questão de privacidade, nós já passamos desse ponto, é uma questão de confiança.

Sejamos honestos. O que o Google Glass poderá fazer que meu smartphone ainda não faz atualmente? Vamos continuar mantendo essa mesma honestidade. Se o Google me oferecesse o produto para um período de testes amanhã, eu aproveitaria a chance na hora. Usaria o aparelho em todos os momentos. Irritaria meus amigos. Gravaria tudo. Ele passaria a ser o meu bichinho de estimação. No entanto, não paro de pensar se estamos prontos para isso.

Joshua Fruhlinger, 38 anos, é jornalista. Chefia a divisão digital do site TMZ e é colunista do portal Engadget.com. Já escreveu para os blogs TechCrunch e The Huffington Post, além de colaborar com o The Wall Street Journal.

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