F1 2009 Season Review

A temporada 2009 da Fórmula 1 ganha destaque na história do automobilismo: uma equipe estreante conquista os campeonatos de pilotos e de construtores, a ameaça de desligamento da FOTA com a FOM, o "Singaporegate", a volta dos pneus slicks, as polêmicas do "difusor duplo" e do KERS, as demissões de Sébastien Bourdais e Nelson Piquet Jr., o acidente de Felipe Massa, a volta nada triunfal de Luca Badoer, a condução pífia de Giancarlo Fisichella, a estreia nada animadora de Abu Dhabi no calendário da F1, a corrida presidencial da FIA, as despedidas da Honda, BMW e Toyota, dentre outros fatos que tornarão este ano inesquecível para os aficionados pela categoria, serão descritos em maiores detalhes ao longo deste post, além de vídeos mostrando imagens da temporada 2009 da Fórmula 1.

A Brawn GP, cuja história é parecida com a da figura mitológica Fênix, ressurgiu das cinzas da Honda, faz dobradinha na primeira prova do ano, na Austrália, repetindo o feito das equipes Mercedes-Benz, March e Wolf, que conquistaram dobradinhas em suas provas de estreia, respectivamente, em 1954, 1970 e 1977.

Além disso, possibilita a Jenson Button vencer seis das sete primeiras provas da temporada e a Rubens Barrichello subir ao ponto mais alto do pódio dos GPs da Europa, em Valência, e da Itália, em Monza, além de permitir ao piloto inglês administrar as últimas provas do calendário para conquistar, com uma prova de antecedência, o seu primeiro título na Fórmula 1, além de ajudar sua equipe a obter o título de construtores.

A equipe comandada por Ross Brawn venceu oito provas, conquistou quatro dobradinhas e obteve 15 pódios. Jenson Button cria mais uma estatística na Fórmula 1: é a primeira vez que dois ingleses conquistam títulos de pilotos de forma consecutiva.

Quase que de forma inevitável, o ano de 2009 da Fórmula 1 começava com controvérsias. A começar pela volta dos pneus slicks, pela estreia do Kinetic Energy Recovery System (KERS), que gerou muitos gastos, numa época de corte de custos, e não surtiu grande efeito. As mudanças e limitações na aerodinâmica, além da possibilidade de alterar o ângulo de ação da asa dianteira pelo piloto, foram criadas para tentar aumentar a quantidade de ultrapassagens. Em vão. A temporada foi morna com relação a este quesito.

A proibição dos períodos de testes ao longo da temporada foi imposta para diminuir ainda mais os custos operacionais das equipes. Isto fez com que Brawn GP, Toyota e Williams, fazendo uma interpretação inteligente do regulamento, tivessem a ideia de criar uma espécie de "difusor duplo", que incrementava o efeito aerodinâmico do ar que passa embaixo do veículo, obtendo maior downforce na parte traseira, aumentando a performance do veículo. Isto gerou protestos por parte das equipes BMW Sauber, Red Bull Racing e Renault, indeferidos pela FIA. As outras equipes tiveram que correr atrás de uma solução semelhante no decorrer da temporada, a maioria delas sem sucesso, pois os carros eram "mal nascidos".

A única equipe que conseguiu fazer frente à Brawn GP em algumas provas, principalmente, na segunda parte da temporada, foi a Red Bull Racing, que com seu RB5, bem projetado por Adrian Newey, tinha melhor performance em baixas temperaturas, o "calcanhar de Aquiles" do BGP 001. A equipe das latinhas de energético conseguiu seis vitórias, quatro dobradinhas e dezesseis pódios.

As maiores equipes da Fórmula 1 sofreram no início da temporada. O McLaren MP4-24 e o Ferrari F60 tinham pouco downforce. Situação semelhante viveu a Renault, com seu R29. A sorte da equipe é que contavam com Fernando Alonso, que "carregou o piano" com maestria, conquistando alguns pódios.

A BMW foi, sem sombra de dúvidas, a maior decepção da temporada. Depois de abandonar do desenvolvimento do BMW Sauber F1.08, impossibilitando a Robert Kubica disputar o título de 2008, e concentrando-se em produzir o F1.09, não criou um carro competitivo, disputando a rabeira do grid durante praticamente todo o campeonato, embora parecesse promissora na primeira prova, até que o piloto polonês envolveu-se em um acidente com Sebastian Vettel.

O "Liargate", assim chamado o fato ocorrido com Lewis Hamilton, que mentiu aos comissários da prova da Austrália, dizendo que Jarno Trulli não permitiu que o piloto inglês o ultrapassasse, depois que o piloto italiano saiu da pista, na penúltima curva do circuito, quando o grid estava correndo sob a intervenção do Safety Car, e o piloto inglês obter a posição do italiano, devolvendo a ultrapassagem em seguida. No entanto, conversas registradas pelo rádio confirmaram que Martin Whitmarsh disse para Lewis Hamilton manter sua posição. A história ocasionou a demissão do diretor esportivo da McLaren, Dave Ryan.

A temporada 2009 praticamente se resumiu em nove meses de discussões políticas, interrompidas por um final de semana de Grande Prêmio. Três "facções" se destacaram: a FIA, liderada por Max Mosley, a FOM, encabeçada por Bernie Ecclestone, e a FOTA, representando as equipes, liderada por Luca di Montezemolo. Depois de desavenças quanto às novas regras e à distribuição dos rendimentos de direitos comerciais, fizeram com que a Associação das Equipes tomasse uma medida drástica: desligar-se da Fórmula 1 e criar um campeonato paralelo em 2010. Acima de tudo, o que os diretores das equipes da Fórmula 1 queriam era que Max Mosley desistisse da candidatura à reeleição à presidência da FIA. Mosley desistiu, mas antes, com a ajuda de Bernie Ecclestone, resolveu o impasse entre a FOTA e a FIA.

O Grande Prêmio da Inglaterra começou a pôr em xeque o título de Jenson Button. A dobradinha da Red Bull, com Sebastian Vettel conquistando a vitória, e Rubens Barrichello completando o pódio, fazendo-lhe o candidato ao título que sempre dizia que era desde que foi anunciado como piloto da Brawn GP. Mark Webber vence sua primeira prova, na Alemanha, Lewis Hamilton vence na Hungria, a primeira de um carro com KERS, Rubens Barrichello, em Valência, e Kimi Raikkonen, na Bélgica. No entanto, não ameaçavam Jenson Button na tabela de pontuação, pois não tiveram regularidade no início do campeonato. Logo, Jenson Button, nesse período, fez apenas o "feijão com arroz" e pontuou o máximo possível para que a luta pelo título não se tornasse um sacrilégio no final da temporada.

Apesar disso, a performance de Button na segunda metade da temporada era motivo de observações. Considerando que, nas primeiras sete provas, Jenson Button marcou 61 dos 95 pontos que foram necessários para conquistar o título, nas sete seguintes, marcou apenas 23. E, em vez dos pontos serem somados às dezenas, vinham em unidades: três, quatro, dois, dois, oito, quatro.

Para a Red Bull Racing, faltava a consistência necessária para fazer frente à Brawn GP. Depois da vitória de Lewis Hamilton em Cingapura, a luta pelo título se concentrou entre Jenson Button, Rubens Barrichello, Sebastian Vettel e Mark Webber. O australiano foi o primeiro a deixar a disputa, depois de não marcar pontos depois do GP da Hungria, apesar de vencer o GP do Brasil. Mas as esperanças do alemão duraram mais tempo, depois da vitória no Japão, apesar do controverso drive-through no GP de Cingapura.

Apesar de tudo, com Rubens Barrichello não podendo acompanhar o ritmo de Mark Webber no GP do Brasil, além da péssima classificação no grid por parte de Sebastian Vettel, a tarefa de Jenson Button de conquistar o título de forma antecipada ficou mais fácil, apesar de se classificar apenas em décimo-quarto no dilúvio que se tornou o treino de classificação, no sábado. Fazendo uma corrida digna de um campeão, Jenson Button terminou a prova em quinto, garantindo o seu primeiro título de Fórmula 1 na carreira.

Encerrando a temporada, na inauguração do Yas Marina Circuit, em Abu Dhabi, Sebastian Vettel liderou outra dobradinha da Red Bull Racing, graças a um problema de freios sofrido pelo pole position, Lewis Hamilton.

A temporada da Ferrari foi irregular e quase trágica, e a equipe foi destaque nos noticiários especializados no esporte a motor. Felipe Massa foi atingido na cabeça por uma mola que caiu da suspensão traseira do carro de Rubens Barrichello, e teve que abandonar a temporada 2009 da Fórmula 1 após os treinos de classificação do GP da Hungria. Recuperou-se e vai disputar a próxima temporada. Na ausência do brasileiro, tornou-se impossível dizer se o trabalho de Kimi Raikkonen foi bom, depois que Luca Badoer e Giancarlo Fisichella simplesmente decepcionaram, disputando as últimas posições do grid com o carro de Felipe Massa.

Inclusive o possível retorno de Michael Schumacher foi considerado, para substituir Felipe Massa, mas o heptacampeão foi incapaz de recuperar a forma física, após ter sofrido uma lesão no pescoço enquanto corria com uma motocicleta de competição.

A silly season também destacou o anúncio da retirada da equipe BMW da Fórmula 1, deixando a Sauber em maus lençois, depois de não se engajar no novo Pacto de Concórdia, criado às pressas, depois do caso FIA vs. FOTA.

Kimi Raikkonen obteve uma vitória para a Ferrari, em Spa, depois de derrotar a surpresa daquele final de semana, Giancarlo Fisichella, que obteve a pole position para a Force India. O finlandês teve que fazer uso do KERS para ultrapassar o italiano e manter-se à frente, já que os motores Mercedes-Benz, que equiparam os carros da Force India em 2009, mostravam-se confiáveis e eficientes em pistas de baixo downforce. O sustituto de Fisichella, Vitantonio Liuzzi, esteve a caminho de um pódio na Itália, atrás somente dos pilotos da Brawn GP, mas um cardã quebrado impediu o italiano de prosseguir na prova.

Ainda em Spa, outro escândalo envolvendo a equipe Renault foi revelado. Depois de uma troca de pneus no qual a roda esquerda direita não foi devidamente presa ao eixo, o espanhol foi para a pista assim mesmo, culminando no desprendimento da roda do carro, isso uma semana depois da morte de John Surtees, 19 anos, piloto da Fórmula 2, depois que uma roda se desprendeu de um carro acidentado e atingiu a cabeça do filho de Henry Surtees. A equipe foi suspensa por uma prova. Coincidentemente, o próximo GP seria o da Europa, em Valência, na Espanha. Depois da apelação da Renault, e com a FOM temendo um esvaziamento das arquibancadas, em virtude da ausência de Fernando Alonso, a equipe francesa foi multada em apenas cinquenta mil dólares.

Contudo, outro escândalo é revelado: Nelson Piquet Jr., auxiliado pelo pai, Nelson Piquet, denunciou a Renault, depois de ser demitido da equipe, em julho, por manipular o resultado do GP de Cingapura de 2008, quando, na décima-quarta volta, o filho do brasileiro tri-campeão da Fórmula 1 bateu deliberadamente na curva 17, provocando a entrada do Safety Car. Fernando Alonso, que largou em décimo-quinto, e com pouco combustível, foi beneficiado, enrando no pit antes dos outros pilotos e pulando na frente, para conquistar a vitória. Flavio Briatore, chefe da equipe francesa, foi banido do esporte a motor, ao passo que Pat Symonds foi suspenso por cinco anos.

A Toyota, depois da pífia performance na primeira metade da temporada, conquistou um segundo lugar, com Timo Glock, em Cingapura, resultado conquistado também por Jarno Trulli no Japão, conquistando a quinta posição no campeonato de construtores. A BMW, depois do segundo lugar de Robert Kubica no Brasil e do quinto lugar de Nick Heidfeld em Abu Dhabi, conquistou o sexto lugar na pontuação por equipes, ultrapassando a Williams por 1,5 ponto. A Renault, depois de tudo que sofreu dentro e fora das pistas, ficou apenas em oitavo, e seu melhor resultado foi o terceiro lugar de Fernando Alonso, ironicamente, em Cingapura. Force India e Scuderia Toro Rosso ocuparam as últimas posições no mundial de construtores.

Quando Timo Glock bateu no treino de classificação para o GP do Japão, ficou impossibilitado de disputar as duas últimas provas da temporada. Kamui Kobayashi, campeão da GP2 Asia de 2009, substituiu o piloto alemão, e, com uma performance excepcional, conquistou um nono e sexto lugares, para tornar-se o "Novato do Ano".

Com o encerramento da temporada, as debandadas começaram. A começar pela Bridgestone, que não fornecerá mais pneus para a Fórmula 1 depois do encerramento da temporada de 2010. Depois, a Toyota anuncia sua saída imediata da categoria, o que já era suspeito, depois de liberar Jarno Trulli e Timo Glock para procurar outras equipes, e não confirmar Kamui Kobayashi, a surpresa do final da temporada, como titular da equipe, além de não fechar contratos de fornecimento de motores com alguma equipe, como a Williams, sua cliente em 2009. Assim como Honda e BMW, culpou a crise econômica mundial pela decisão.

Isso, em teoria, poderá abrir o caminho de Peter Sauber, e seu novo parceiro, Qadbak, para se juntar às quatro novas equipes que estão prestes a definir o grid de 2010: Lotus, USF1, Manor e Campos Meta. Entretanto, a participação dessas equipes, escolhidas em um processo de licitação aberto pela FIA, na metade de 2009, pode estar ameaçada. A USF1 sequer possui uma maquete para testes em túnel de vento. Mike Gascoygne, projetista da nova Lotus, está sendo denunciado pela Force India por compartilhar um projeto de carro da equipe de Vijay Mallya com a futura estreante.

Depois da estupenda performance da Brawn GP, é provável que a Mercedes-Benz concentre seus esforços em fornecer motores para a equipe de Ross Brawn, terminando a longa parceria com a McLaren.

Mais especulações apontam para Kimi Raikkonen, que, depois de ser demitido pela Ferrari depois do encerramento da temporada 2009, tem de fazer uma escolha: tira um ano sabático ou procura outra equipe, possivelmente a equipe de Woking. Se correr na Fórmula 1 em 2010, perde quase 5 milhões de euros que são de seu direito da Ferrari, como especificado em contrato. Uma ida para o Rally também é uma opção, e sempre foi o sonho do finlandês.

Algumas duplas já foram definidas para 2010: Felipe Massa e Fernando Alonso na Ferrari, Sebastian Vettel e Mark Webber na Red Bull Racing, Nico Hulkenberg e Rubens Barrichello na Williams, Jaime Alguersuari e Sébastien Buemi na Scuderia Toro Rosso. Timo Glock e Robert Kubica podem formar a dupla da Renault, isso se a equipe francesa continuar em 2010, o que será decidido pela cúpula da empresa. Nico Rosberg pode assumir o cockpit de um dos carros da McLaren ou da Brawn GP. Outros, como Nick Heidfeld, ainda não sabem se correrão na Fórmula 1 em 2010. Bruno Senna foi confirmado como um dos pilotos da Campos Meta. Pedro de la Rosa pode ser seu companheiro na equipe.

Com base no que aconteceu em 2009, é seguro sugerir que, na nova era de Jean Todt, sucedendo Max Mosley na presidenência da FIA, após uma vitória esmagadora contra Ari Vatanen, e o reabastecimento ser proibido, em 2010, tudo pode acontecer, inclusive provas mais emocionantes.

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