Novas asas para o Arctic Monkeys

Quando um voo muda bruscamente de rota, nem sempre significa que o avião irá cair. No caso dos ingleses do Arctic Monkeys, banda sensação no britpop da geração iPod, novas asas, mais densas, levam a novos caminhos. Para os fãs, uma boa e uma má notícia. A ruim: Humbug, mais recente álbum do grupo, lançado em agosto, é bem menos enérgico e vibrante do que os anteriores Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, de 2006 e, até hoje, o disco de estreia mais rapidamente vendido no Reino Unido, e Favourite Worst Nightmare, de 2007. A boa é que Matt Helders, Jamie Cook, Alex Turner e Nick O’Malley, ao mudarem drasticamente a sonoridade habitual da banda, nunca soaram tão criativos.

Assim, certamente, a chiadeira será proporcional à adoração. A banda de indie rock, formada em 2002 e liderada por Alex Turner, fez um trabalho bem diferente do que estava acostumada. As músicas mais rápidas, pesadas e enérgicas foram trocadas por algo mais sombrio e denso. Parafraseando o slogan da Adidas, nem melhor, nem pior. Apenas diferente.

Embora haja algum eco dos trabalhos anteriores do Arctic Monkeys, muito pouca coisa em Humbug lembra canções como I Bet You Look Good On The Dancefloor, Ruby, Brianstorm ou Teddy Picker. A verdade é que o grupo perdeu a sua urgência e, em consequência, um pouco da graça. Por outro lado, apresentou um sinal de maturidade artística. Deixou de ser juvenil para explorar novas sonoridades. Parece ter sido uma tentativa de fazer um som mais adulto, como o do The Last Shadow Puppets, projeto paralelo de Alex Turner.

A gravação ocorreu entre o ano passado e o primeiro semestre deste, entre Nova York, Los Angeles e o deserto do Mojave, na Califórnia. Parte da densidade do novo disco poderia se explicar pela produção, que foi dividida entre Josh Homme, líder da banda-símbolo do stonner rock, Queens of The Stone Age, e James Ford, que já havia trabalhado nos dois primeiros álbuns da banda, além de The Age of The Understatement, a joia de estreia do The Last Shadow Puppets. Mas não foi bem assim.

DARK – Pode ser curioso, mas as faixas produzidas por James Ford acabam soando bem distantes dos trabalhos anteriores dos músicos ingleses. My Propeller, a música de abertura, por exemplo, tem uma sonoridade "dark" desconhecida, até então, no trabalho do grupo. Secret Door, que é uma das melhores do álbum, já apela mais para uma sonoridade meio spaghetti, de uma alegria meio boba, mas contagiante. A faixa parece ter saído diretamente do álbum The Age Of The Understatement. Já Cornerstone, provavelmente, é a balada mais melosa composta pelo quarteto até então.

Josh Homme ficou no oito ou oitenta. Em alguns momentos, parece que não quis arriscar, deixando as canções do Arctic Monkeys com cara de canções do... Arctic Monkeys. Crying Lightning, primeiro single de Humbug, e Pretty Visitors são os principais exemplos. Em compensação, quando Homme quis mudar algo, ele o fez com convicção. A maior prova é The Jeweller’s Hands, que chega a soar psicodélica.

Dangerous Animals, com destaque para a ótima bateria de Matt Helders, também tem os seus momentos de faceirice, assim como a menos inspirada Fire And The Thud. Na internet, é possível ler comentários do tipo que diz que o Arctic Monkeys está com "síndrome de Kings Of Leon", ao ter alterado a sua sonoridade habitual, exatamente no terceiro álbum. O KoL fez algo parecido em Only By The Night. Acertou e errou. Recebeu críticas e elogios rasgados. O que também deve acontecer neste caso.

Mas a verdade é que o Arctic Monkeys foi bem mais feliz nessa mudança. Humbug é, sim, mais denso, e também não cativa o ouvinte na primeira audição, como os dois anteriores. Pode ter faltado um pouco de energia, mas sobrou criatividade. E entre as duas, qual é a mais importante? Consuma das duas e seja feliz.

Gazeta do Sul

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