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Review de CD - Sacos Plásticos - Titãs

É fato que muita gente desistiu dos Titãs ao longo dos últimos 12 anos, desde o lançamento do seu Acústico MTV, um dos álbuns mais superestimados do rock nacional. E após dois caça-níqueis ("Volume 2" e "As Dez Mais") deslocados da essência da banda, o jogo parecia perdido para o septeto. Mas, o grupo conseguiu a redenção com o excelente "A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana", para então conceber o mediano "Como Estão Vocês?". Quando muitos pensaram que era o fim, eis que em 2009, a banda faz suas apostas novamente, com o seu novo álbum: "Sacos Plásticos".

É normal que muitos fãs prefiram ignorar a formação atual da banda, desde que Marcelo Fromer morreu e Nando Reis deixou o grupo. E o fato do novo álbum ter sido produzido por Rick Bonadio (Fresno, CPM 22, etc...) ainda vai gerar todos os tipos de discriminação incabida que você puder imaginar. Mas, logo nos segundos iniciais da primeira música, "Amor por Dinheiro", temos uma agradável sensação nostálgica misturada ao sentimento de "novidade" na sonoridade da banda, graças ao retorno das famosas batidinhas eletrônicas e daquele estilo pop/rock oitentista típico dos seus primeiros álbuns. E para quem sempre curtiu o Titãs clássico, não há nada de ruim nisso, muito pelo contrário...

E falando em pop/rock oitentista com influências de new wave, synthpop e afins, temos mais faixas que usam o "velho" em favor do "novo": a ótima e irreverente "Sacos Plásticos", a boa e semi-rocker "Agora Eu Vou Sonhar", o agradável pop/reggae "Quanto Tempo" (alguém lembrou do primeiro álbum?), e as divertidas e dançantes "Problema" e "Múmias".

E pra não dizer que os Titãs não lembraram do bom e velho rock 'n' roll, também marcante em sua essência inicial, o novo álbum traz os petardos "A Estrada", "Deixa Eu Entrar" (com uma boa presença de Andreas Kisser na guitarra, ainda que muitos não irão notá-la), e a curiosa "Não Espere Perfeição", que fará muitos pensarem na faixa como uma referência à própria irregularidade dos Titãs nos últimos anos... o que não deixa de ser muito interessante!

Agora, os pontos fracos: a inevitável (será mesmo?) presença de baladas açucaradas como "Porque Eu Sei que É Amor", "Quem Vai Salvar Você do Mundo?", e até a acústica "Deixa eu Sangrar", que mal consegue trazer um diferencial interessante ao álbum. A faixa "Nem Mais uma Palavra" até lembra algo do primeiro álbum, mas soa um tanto sem graça e sem sal.

Já o single "Antes de Você" merece atenção especial, pois apesar de ser um mix de rock e balada bastante formulaico, consegue trazer uma boa capacidade de cativar até ouvintes mais exigentes. Ainda assim, tal faixa pode dividir opiniões e gerar mais discussões clichês e idiotas do tipo "Titãs virou emo?", o que funcionaria como uma boa oportunidade de mostrar a diversidade desse novo trabalho...

Com boas letras - ou pelo menos melhores do que muita coisa feita pela banda até em sua fase clássica - e referências a cada fase "titânica", "Sacos Plásticos" pode soar um tanto heterogêneo e sem rumo, mas é um trabalho digno de figurar na discografia dos Titãs, além de nos lembrar da capacidade criativa do (agora) quinteto. E talvez esse seja o momento ideal para aquela parcela de fãs mais ortodoxos enxergarem este novo álbum dos Titãs como um bom retorno da banda às suas atividades...

Músicas:
1. Amor por Dinheiro
2. Antes de Você
3. Sacos Plásticos
4. Porque Eu Sei que É Amor
5. A Estrada
6. Agora Eu Vou Sonhar
7. Quanto Tempo
8. Deixa eu Sangrar
9. Problema
10. Não Espere Perfeição
11. Quem Vai Salvar Você do Mundo?
12. Múmias
13. Deixa Eu Entrar
14. Nem Mais uma Palavra

Whiplash

Review de CD - Brasil A Fora - Paralamas do Sucesso

Um disco leve, muito leve. Essa é a melhor descrição para o novo disco dos Paralamas. O leve, no entanto, não é somente no instrumental, mas também no conceito. As músicas são curtas, a maioria com média de dois minutos e meio, giram em torno de guitarras que dão uma cadência descontraída ao disco que usa a brasilidade como temática principal. Um claro exemplo disso é o primeiro single "A Lhe Esperar", que acaba ditando o ritmo do álbum.

Após dois discos que traziam um som mais firme, os Paralamas bebem na fonte que consagrou a banda nos anos oitenta, com uma mistura de reggae, tempero latino e do interior do Brasil. E essa opção acaba sendo positiva para a nova obra da banda, que soa Paralamas e certamente consegue levar o fã a uma satisfação instantânea.

Com alguns minutos girando, o ouvinte certamente acaba prevendo o restante do álbum, mas "Brasil A Fora" reserva algumas curiosas surpresas, uma delas é a antes impossível de imaginar levada "The Doors" que rola em "Tempero Zen", órgão e guitarras sugerem um interlúdio com "Light My Fire". Outro fato também que merece destaque é a participação de Zé Ramalho na faixa "Mormaço" que faz um excelente casamento entre a letra e a interpretação da música.

Em alguns momentos os Paralamas ainda tentam dosar um certo peso ao álbum, porém esses momentos são resumidos na faixa título "Brasil Afora", que desfila guitarras estridentes e um refrão insistente, e em "Tão Bela", que mistura guitarras pesadas com uma cadência voltada para o Ska.

Em outros, soam doces como em músicas mais recentes, no caso da regravação da música de Fito Paez El Amor - "El Amor Depois Del Amor", que acaba acrescentando ao disco um momento de irresistível ternura.

A canção "Aposte em Mim", por sua vez, revela uma banda dona de si com melodia agradável e grudenta, chega a lembrar alguma coisa já feita pelo Weezer, e por estar entre as melhores músicas do álbum, tem tudo para virar hit.

Enfim, os Paralamas registram mais um belo disco em sua carreira, que não traz nada que desabone a sua qualidade, sem no entanto, trazer pretensões ousadas, nada que vá acrescentar muito à sua obra.

Whiplash

Review de CD - No Line On The Horizon - U2

A verdade é que qualquer um que espere que o artista ou banda volte à fase clássica terá que esperar sentado. A música evolui, os temas são outros e a própria necessidade do artista é diferente.

Em “No Line on The Horizon”, a banda está mais relaxada, porradas como “Vertigo” do álbum anterior não dão as caras no novo lançamento. Em compensação, discursos políticos, de guerra e de respeito ao planeta estão lá.

Quem se assustou com o primeiro single, a faixa meia-boca “Get on Your Boots”, uma mistura de Beatles com o próprio som do U2, mas que “sem dar liga”, vai se impressionar com a qualidade de músicas como a faixa título. “No Line on the Horizon”, uma bonita balada romântica, ao contrário do que se imagina tratar a música em um primeiro momento. Ou ainda no segundo single do álbum “Magnificent”, que remonta a atmosfera noventista do grupo, com direito à participação de Will.I.Am nos teclados.

Em “Moment of Surrender”, com seus longos sete minutos, temos outro momento agradabilíssimo, percebemos uma ode ao próprio U2, recheada de referências musicais da própria banda. Assim como em “Unknow Caller”, grande faixa que faz o ouvinte pensar em sua provável versão ao vivo, que também é temperada com o sabor dos anos 80, onde os antigos “Oôoôoo” estão de volta. Em tempo, a ode acontece inclusive ao próprio disco novo, no caso da música “Fez - Being Born” que cita a cidade onde parte do álbum foi gravado e auto-referencia o próprio álbum.

Em termos de faixas mais agitadas, temos “I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight”, um dos melhores momentos do álbum, que chega a lembrar o som feito no grande álbum “All That You Can Leave Behind”, um Rock de refrão empolgante e pegajoso, que leva o ouvinte a se perguntar o porquê do álbum não ter mais momentos como esse.

Outro grande momento é o discurso político de “Stand up Comedy”, que faz lembrar John Lennon com “Power to The People”, a letra tenta sacudir o povo em busca de um mundo melhor.

Entre “White Snow” e a faixa que encerra o álbum “Cedars of Lebanon”, duas músicas com temática voltada para guerra, que musicalmente deixam um pouco a desejar, está a angustiante canção “Breath”, que é um dos raros momentos mais roqueiros do disco, e poderia muito bem ter sido escolhida para encerrar o álbum, talvez aí o grande erro do álbum que acaba encerrando com a música que, apesar da letra, é menos expressiva do álbum.

O novo disco provou que o U2 é, mais do que nunca, a atual maior banda do planeta. A movimentação em torno do lançamento foi incrível, rádio, jornal, televisão, blogs, todos falando sobre o mesmo assunto. Só no Brasil, o disco foi lançado em três versões diferentes, coisa difícil aqui na terrinha, sem contar que no Brasil não foram lançadas as versões em vinil e os singles do disco, o que é comum lá fora, e acaba totalizando até agora, oito formatos diferentes para o ouvinte escolher e comprar.

E por incrível que possa parecer, o U2 já anunciou que lança outro álbum ainda esse ano. Desta vez a espera por um álbum inédito, que entre “How to Dismantle an Atomic Bomb” e o novo disco durou cinco anos, foi drasticamente reduzida. Vamos torcer que o U2 consiga manter o padrão de boas músicas, mas que acelere um pouco mais o ritmo.

Whiplash

Review de CD - 21 anos: Nós somos as Velhas Virgens - Velhas Virgens

Heh! São poucos os conjuntos que ultrapassam a marca das duas décadas de existência sem depender da tal ‘mídia’ para dar uma força... As Velhas Virgens estão comemorando com um registro ao vivo em CD e DVD, que foram entupidos com seus maiores sucessos. A bolachinha tem como nome “21 anos: Nós somos as Velhas Virgens” e mostra toda a zona que o carismático Paulão e Cia aprontam em seus shows.

“Nós somos a maior banda independente do Brasil!!!!...”. Essa é a frase cheia de orgulho berrada ao público de Ponta Grossa (PR). São 17 faixas que esbanjam aquele bom e pernicioso rock´n´roll, geralmente indo da malícia do blues à canalhice do punk rock, todo esbravejado – e praguejado – no velho português. Palavrões? É uma constante, ou então não seria um show das Velhas Virgens, certo?

E é claro que, entre os inúmeros hits da cena independente, nunca poderiam faltar pérolas como “Só pra te comer”, “Beijos de corpo” e a impagável “Abre essas pernas”, onde o povo implora para a pequena Lily deixar de frescura e dar de uma vez (e não é que ela deu?!?). Mas esse disco com certeza não teria todo esse impacto se não contasse com a impressionante reação da platéia, que está insana e sob total controle das provocações da banda. O público canta direto e em várias ocasiões rouba a cena mesmo.

Sem frescura alguma, completamente incorruptível em relação aos modismos e mantendo praticamente a mesma atitude esculhambada desde o início de sua carreira, “21 anos: Nós somos as Velhas Virgens” se mostra um ótimo registro para se conhecer a banda em toda sua glória potável. Os caras literalmente detonam com muito alto astral ao longo dos 70 minutos!

Agora, se os etílicos amantes do rock´n´roll dependerem das atuais apresentações do grupo, com suas insistentes ‘marchinhas de carnaval’ tão mal executadas (diabos, quero o dinheiro de meu ingresso de volta!!!)... Mas é de se supor que após o carnaval as velhotas percam a virgindade e recobrem a sanidade, voltando ao que realmente sabem tocar: Rock´n´Roll!

Formação:
Paulão de Carvalho - voz e gaita
Lily - voz
Alexandre “Cavalo” Dias - guitarra
Caio Andrade - guitarra
Tuca Paiva - baixo
Simon Brow - bateria

Velhas Virgens – 21 anos: Nós somos as Velhas Virgens
(2008 / Gabaju Records – nacional)

01. Cubanajarra
02. Só pra te comer
03. Tudo o que a gente faz
04. Toda puta mora longe
05. Essa tal de Tequila
06. Seu garçon
07. Mulher do Diabo
08. Se Deus não quisesse
09. D.J.
10. Um homem lindo
11. Esse seu buraquinho
12. Dinheiro pra torrar
13. Abre essas pernas
14. Não vale nada
15. Pão com cerveja
16. A minhoca que acendia o rabo
17. Beijos de corpo

Whiplash

Review de CD - Forth - The Verve

O Verve está de volta e, diferentemente de seu último álbum de inéditas, Urban Hymns, lançado em 1997, a banda está mais elétrica, mais dançante, afastando o clima triste e sombrio que caracterizou a imagem da banda na segunda metade dos anos 90.

Um bom exemplo disso é a segunda faixa Love Is Noise, primeiro single do álbum, que arremessa o ouvinte da poltrona direto para o centro da sala, que fatalmente transforma-se em uma pista de dança. Com uma melodia interessante, letra e efeitos insistentes, conhecemos então a melhor música do álbum.

Como se quisesse apresentar ao ouvinte um cartão de visitas para a nova fase da banda, Love is a Noise faz parte de uma sequência onde temos também a bela faixa de abertura Sit and Wonder, e Rather Be que já está estourada nos programas de vídeo clipes na TV. Nessa última conseguimos sentir o gosto do velho The Verve, porém com adoçante ao invés de açúcar.

O álbum tem outros bons momentos para mostrar, como em I See Houses, que é recheada de todo os clichês do Rock inglês, e momentos entediantes e desnecessários como a chatíssima Numbness ou ainda em Noise Epics que nada mais é que uma sequência de barulhos conforme o próprio nome dá pista.

Forth, como diz o nome, o quarto disco da banda, não chega a decepcionar, mas acaba mostrando pouco para uma banda que não lançava um álbum há onze anos.

No fim a banda inglesa confirma o padrão de qualidade mediano que sempre esteve associado à mesma, mas mesmo assim, o álbum serve para provar que Richard Ashcroft funciona melhor como "The Verve" do que em suas aventuras em carreira solo.

Whiplash

Review de CD - Working On A Dream - Bruce Springsteen

O cantor norte-americano Bruce Springsteen nunca chamou tanta atenção por aqui, embora tenha emplacado inúmeros hits e seja bastante cultuado em sua terra natal. Na verdade, essa realidade nem chega a ser exatamente estranha ou injusta, visto que há uma maior facilidade de identificação por parte do público norte-americano, tanto com a sua ideologia quanto com o estilo de suas músicas.

Mas, deixando esses detalhes um pouco de lado, e levando em conta a qualidade de sua obra, é interessante notar que os álbuns de Bruce Springsteen gravados com a sua E Street Band (especialmente os inquestionáveis "Born to Run" e "Born in the U.S.A."), representam o que há de melhor em sua discografia. Isso é notável em "Working on a Dream" (2008), seu mais recente álbum. Mais uma vez, a produção ficou a cargo de Brendan O'Brien, que apostou em algo um pouco mais "carregado", mas sem esquecer as guitarras e violões típicos da maioria das canções de Springsteen.

E falando em E Street Band, pode-se esperar aqui um Bruce Springsteen voltado a uma sonoridade não muito desafiadora em termos de estilo e estruturas musicais, mas soando quase sempre interessante. Neste novo trabalho, o veterano roqueiro continua em boa forma, e despeja bons rocks como o "quase faroeste" "Outlaw Pete" e as energéticas "My Lucky Day" e "Surprise Surprise", além das suaves "Working On A Dream" e "Kingdom Of Days". Já "Queen Of The Supermarket", com uma temática tão "bobinha", soa um tanto pretensiosa demais em termos de produção.

Mais pontos altos do álbum se encontram na inspirada "What Love Can Do" (excelente!), na blueseira "Good Eye", e no gostoso rock melodioso "quase sessentista" "This Life". E como a vertente mais "lentinha" de Springsteen também não poderia ficar de fora, temos o razoável country "Tomorrow Never Knows" e a acústica "The Last Carnival". Já "Life Itself", soaria melhor como um rock, visto que suas marcações se mantêm ao longo da música, como um "teaser" para algo que nunca chega de fato...

E quanto às letras? Apesar de não ser exatamente um gênio (e no rock, quem precisa ser?), Springsteen continua com o pé firme "no seu lugar", contando histórias de pessoas comuns, além de apostar também em temáticas sobre sentimentos diversos. Como de costume, para os fãs, não há o que reclamar deste departamento.

Claro que, em uma discografia grande e marcada por clássicos, "Working On a Dream" não estará entre as obras mais impactantes de Bruce Springsteen. E o fato deste álbum ser inferior ao ótimo "Magic" (2007) também pode resultar em avaliações negativas, por parte de ouvintes e críticos mais chatos. Mas, considerando que o cantor não precisa provar mais nada para ninguém, vamos receber de "ouvidos abertos" mais um competente álbum na competente discografia do "The Boss"!

Músicas:
1. Outlaw Pete
2. My Lucky Day
3. Working on a Dream
4. Queen of the Supermarket
5. What Love Can Do
6. This Life
7. Good Eye
8. Tomorrow Never Knows
9. Life Itself
10. Kingdom of Days
11. Surprise, Surprise
12. The Last Carnival

Whiplash

Review de CD - Tonight: Franz Ferdinand - Franz Ferdinand

Algumas vezes, é interessante observar com atenção aquela famosa ânsia de bandas alternativas e/ou indies em geral, por um som que represente um "passo à frente" em relação aos seus trabalhos anteriores. Seria uma necessidade de agradar críticos? Seria uma necessidade de fugir de qualquer rótulo? Questões como essas vem à tona quando escutamos "Tonight", o mais novo álbum do Franz Ferdinand.

Considerando o cenário indie atual, que dispensa sem dó qualquer banda que já tenha passado de uns 5 anos de atividade, o Franz Ferdinand poderia muito bem se aposentar após seus dois primeiros álbuns: os ótimos "Franz Ferdinand" (2004) e "You Could Have It So Much Better" (2005). Mas, após dar uma sumida do foco da mídia, Alex Kapranos e sua trupe resolveram seguir a famosa regrinha de "ir além", e apostaram em algo bem diferente dessa vez.

Mas então, o que seria esse "algo bem diferente"? Em primeiro lugar, vamos citar apenas o que continua vivo e forte no som da banda: batidas bem dançantes, e letras com temáticas diversas, mas tratadas de uma forma (quase) sempre divertida. Porém, ao ouvir a primeira faixa, a grudenta "Ulysses", pode-se notar um direcionamento musical pouco voltado a guitarras. E dá-lhe teclados e sintetizadores ao longo de "Tonight"! Aquele famoso mix de indie rock "garageiro" com pós-punk parece ter sido deixado de lado dessa vez...

As faixas "Turn It Off", "No You Girls", "What She Came For", "Can't Stop Feeling", "Live Alone" e até semi-obscura "Twilight Omens", trazem uma produção bem "carregada", e claras influências de new wave, synthpop e electropop. E falando em exageros de produção, destaque especial para a interessante "Lucid Dreams", que termina com uma longa e hipnótica passagem instrumental eletrônica, digna de uma boa coletânea de trance...

Saindo um pouco (mas nem tanto) da área bastante eletrônica, temos a simpática "Send Him Away" (que chega a ser um tanto britpop), e a nervosa "Bite Hard", faixa mais "rocker", e também uma das melhores do álbum. E logo no final da track list, temos duas razoáveis baladas na sequência: a eletrônica "Dream Again" (que surge logo após a já citada "Lucid Dreams", quase como um complemento) e a acústica "Katherine Kiss Me".

E então, como fica aquela reflexão inicial? O fato é que o Franz Ferdinand trouxe boas músicas em "Tonight", mas não conseguiu superar seus dois primeiros álbuns. Temos aqui um caso de mudança que acabou não dando muito certo, mas que ainda pode ser corrigida no futuro (de preferência, com um retorno às raízes).

Por outro lado, se você é do tipo que simplesmente não aguentava mais ouvir aquele rock "sujo" e "garageiro" praticado anteriormente pelo quarteto, então vá em frente e aprecie "Tonight", sem medo de dançar!

Músicas:
1. Ulysses
2. Turn It On
3. No You Girls
4. Send Him Away
5. Twilight Omens
6. Bite Hard
7. What She Came For
8. Live Alone
9. Can't Stop Feeling
10. Lucid Dreams
11. Dream Again
12. Katherine Kiss Me

Whiplash

Review de CD - Phoenix - Asia

Quando foi anunciado o retorno da formação clássica do Asia, em 2006, todos já sabiam o que esperar. John Wetton (vocais, baixo), Steve Howe (guitarra e violão), Geoff Downes (teclados) e Carl Palmer (bateria) se reuniram com o firme propósito de reeditar os tempos de ouro da banda, fazendo shows, lançando DVDs, com a possibilidade de um novo CD com músicas inéditas no horizonte. Isso acabou por ocorrer recentemente com o lançamento de “Phoenix”, que saiu no Brasil em versão limitada graças à Hellion Records, selo que tem investido no rock clássico.

O Asia é uma daquelas bandas que o tempo ajudou a transmutar de descartáveis em relevantes. Se foram (na época de sua criação em 1981) uma decepção para a maioria dos antigos fãs de King Crimson, ELP e Yes (de onde seus integrantes eram oriundos) em virtude de seu som “comercial”, acabaram por outro lado se tornando ícones de uma nova geração de bandas AOR, abrindo novas perspectivas de mercado para os grupos de rock progressivo, que se viram em determinado momento num beco mercadológico aparentemente sem saída. Pouco tempo depois, o Yes veio a se reinventar e lançar discos como “90125” e “Big Generator”; os demais membros do ELP formaram o Emerson Lake & Powell; e Howe se juntou a Steve Hackett (ex-Genesis) no GTR. Todas essas bandas com propostas similares à do Asia.

Após dois bons discos, “Asia” (1982) e “Alpha” (1983), Howe deixou a banda e o barco desandou. Embora os principais compositores do grupo sempre tenham sido Wetton e Downes, Howe sempre foi o responsável pelo toque de classe, o que os diferenciava da “concorrência”. Com o tempo, os demais foram aos poucos se desinteressando também, culminando com as saídas de Palmer e de Wetton. Restou Downes, que na falta de alternativa melhor, foi tocando o grupo juntamente ao vocalista/baixista John Payne, substituto de Wetton. Somente em 2006, conforme mencionado acima, a formação original voltou a se reunir, não sem algumas confusões, que acabaram por gerar um “spin off”: o “Asia featuring John Payne”. Mas isso já é outra história...

Voltando ao Asia original, após a turnê 2006/2007 (que passou pelo Brasil) e o lançamento do bom CD/DVD “Fantasia: Live In Tokyo”, chegou o momento crucial para a sobrevivência da banda, o lançamento de um disco de estúdio. Wetton e Downes mais uma vez se juntaram para compor uma série de músicas no melhor estilo do grupo original. Tudo foi impecavelmente pensado de forma a trazer de volta o espírito inicial. Não há surpresas no disco, mas isso é tudo o que os antigos fãs do Asia desejavam. Uma bela ilustração de Roger Dean na capa, arranjos e timbres que muito lembram os do disco de estréia, alguns hits potenciais para as rádios rock, e alguns momentos capazes de satisfazer os fãs de um progressivo mais light.

Talvez o que disco mais careça sejam de um pouco mais de peso. As composições são boas, e as performances idem. A voz de Wetton está em melhor forma atualmente do que vinha se portando há alguns anos atrás, em virtude de seus conhecidos problemas de alcoolismo, e soa muito parecida com a de 25 anos atrás. Howe passa da guitarra para o violão com a mesma maestria de sempre, e como mencionado acima dá o toque de classe ao grupo. Palmer é mais contido no Asia do que no ELP e na sua banda solo, mas tem lá os seus momentos de brilho. Downes sempre foi o patinho feio da banda, o músico menos conhecido e menos festejado, mas é o responsável pelos climas proporcionados pelos seus sempre numerosos teclados. Seus timbres estão muito bem escolhidos nesse disco, sem soar por demais pasteurizados, e com alguns momentos de destaque. De qualquer forma, o Asia sempre se caracterizou mais por suas canções do que por momentos virtuosísticos, sendo essa a proposta do grupo.

O nível das composições é muito bom, e na realidade não há faixas fracas. A impressão que dá é que a química permaneceu intacta, e que os anos sem tocar juntos proporcionou a oportunidade ideal para que o talento de todos pudesse afluir. Dentre os destaques, posso citar as mais rápidas: “Never Again”, “Shadow of a Doubt” e “Alibis”, sendo que esta última inclui vários solos de guitarra e teclado, e ainda um final inusitado apresentando uma mudança de andamento, com ótimo trabalho de bateria, teclado e guitarra. “Wish I’d Know All Along” e “Over And Over” soam diferentes das demais, provavelmente por serem de autoria de Howe. A primeira apresenta bons vocais de Wetton e Howe, por vezes em contraponto, outras vezes em uníssono. A segunda inclui o característico trabalho de Howe no bandolim, algo que ele explora bem no Yes, além da steel guitar e sua sonoridade característica.

As longas suítes (cada uma com mais de 8 minutos de duração) são entretanto o ponto alto do disco. Sem soarem pretensiosas, alternam diferentes climas que dão ao disco a variedade necessária. “Sleeping Giant / No Way Back / Reprise” possui “intro” e “outro” instrumentais (respectivamente “Sleeping Giant” e “Reprise”), com a contagiante canção “No Way Back” no meio. “Parallel Worlds / Vortex / Déyà” é ainda melhor, lembrando os melhores momentos do Asia em seu primeiro disco. “Vortex” é mais um dos bons momentos instrumentais do disco, com ótimo trabalho de Palmer, que chega a solar em seu auge, preparando o terreno para “Déyà”, um momento mais calmo, com o violão e a guitarra de Howe reinando, bateria marcial e a tecladeira solene de Downes.

As indefectíveis baladas de Wetton não poderiam faltar, mas a verdade é que sua voz é perfeita para tal, e as sutilezas da guitarra de Howe sempre evitam que tudo caia para a pieguice exacerbada. Em “Heroine”, por exemplo, um solo de steel guitar caiu como uma luva. Já em “I Will Remember You” o cello tocado pelo convidado Hugh McDowell dá um toque especial de requinte. “Orchard of Mines” é a única faixa do disco não composta pelos próprios integrantes, e foi uma boa escolha, por se tratar de ótima música, com um grande trabalho de Wetton no vocal principal.

Fechando o disco, a emotiva “An Extraordinary Life” em duas versões. Trata-se de uma música especial para Wetton, que a compôs após ter sofrido uma séria operação no coração, no ano passado. Segundo ele, passou a encarar a vida de forma diferente, e passa um pouco desse sentimento nesta interpretação. Uma típica composição do Asia, e boa escolha para encerrar o disco de retorno da sua formação mais consagrada. A segunda versão da música incluída, na verdade um remix acústico (onde se sobressai a percussão de Palmer), é justamente a faixa bônus (que não faz parte de todas as versões do disco, mas foi incluída na brasileira).

Há ainda uma apresentação multimídia para ser assistida num PC, com um vídeo falando sobre o retorno do grupo, trechos de entrevistas e de shows, etc. Além disso, mais uma vez a Hellion caprichou na edição nacional, incluindo slipcase e o encarte de 20 páginas contendo letras e todas informações relevantes. Bola dentro.

Tracklist:
1. Never Again
2. Nothing's Forever
3. Heroine
4. Sleeping Giant / No Way Back / Reprise
5. Alibis
6. I Will Remember You
7. Shadow of a Doubt
8. Parallel Worlds / Vortex / Déyà
9. Wish I'd Known All Along
10. Orchard of Mines
11. Over And Over
12. An Extraordinary Life
13. An Extraordinary Life (bonus track, acoustic remix)

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