Segundo a investigação liderada por Ken MacQuarrie, Jeremy Clarkson agrediu verbalmente e fisicamente o produtor assistente Oisin Tymon após descobrir que não havia comida quente no Simonstone Hall Hotel, em Yorkshire, onde estavam hospedados.
MacQuarrie escreveu em seu relatório que, durante a briga, Oisin Tymon foi agredido, o que resultou em inchaço e sangramento em seus lábios. A agressão durou em torno de 30 segundos, e foi interrompida pela intervenção de uma testemunha.
Além disso, os xingamentos verbais foram proferidos durante um período mais longo ainda, e continham palavrões e ameaças de demissão a Tymon, que não apresentou queixa formal, e Clarkson relatou o ocorrido aos diretores da BBC após a briga.
O diretor de televisão da BBC, Danny Cohen, sentiu que não havia escolha a não ser suspender Jeremy Clarkson durante a investigação. A decisão causou uma onda de apoio dos fãs de Top Gear ao apresentador, com mais de um milhão de pessoas assinando uma petição online para reintegrá-lo ao programa.
No entanto, como se trata de uma agressão consumada a um colega de profissão em ambiente de trabalho, apesar dos esforços de milhões de fãs ao redor do mundo para reverter a suspensão, Lord Hall, diretor geral da BBC, não teve outra saída a não ser demitir Jeremy Clarkson.
Até mesmo Piers Morgan, depois de dez anos sendo um desafeto de Jeremy Clarkson, cujo motivo foi também uma briga envolvendo ambos, prestou solidariedade ao britânico, e divulgou recentemente o que Jeremy disse a ele, em uma noitada regada a álcool e cigarros.
"Estou passando por um divórcio difícil, minha primeira ex-mulher apareceu do nada para me infernizar, estou fumando demais, bebendo demais, minhas costas doem, estou em todos os jornais com esse escândalo da 'N-word', estou em guerra com meus chefes da BBC e minha mãe acabou de morrer. Eu simplesmente não tenho mais energia para brigar com você", disse Clarkson e Morgan.
É evidente que Clarkson passava por um momento dificílimo em sua vida, e estava no limite de seu inferno pessoal, quando agrediu Oisin Tymon, seu colega de trabalho.
A "personificação" do humor britânico fez Jeremy Clarkson um apresentador famosíssimo no mundo inteiro. Juntamente com Richard Hammond e James May, transformou o Top Gear num programa não apenas sobre carros, mas também de entretenimento, que agrada pessoas de várias classes sociais. Inclusive, muitas mulheres que não possuem muito conhecimento sobre o universo automotivo passaram a assistir o programa junto com seus esposos, só pelo fato de ser divertido.
No entanto, o Top Gear vai além de ser um programa sobre entretenimento. O Top Gear é um programa sobre autoentusiasmo. Seu propósito é ir além da ficha técnica e características de um carro, é mostrar como pode divertir o fanático por carros que está ao volante. O apresentador precisa "falar a língua do autoentusiasta" para que uma reportagem tenha espaço num episódio do Top Gear.
Se você sair da "bolha" do Top Gear britânico, e vir alguns episódios da finada versão australiana, do "será que acabou?" Top Gear norte-americano, do bem-sucedido Top Gear Korea, e dar uma olhada nos primeiros episódios do Top Gear France, perceberá exatamente isto: o mesmo formato de programa, o mesmo estilo de reportagem, a mesma interação dos apresentadores com a plateia e os telespectadores.
Podemos estabelecer relação semelhante com alguns jornalistas automotivos bastante famosos pelos seus reviews, seja em programas de televisão ou vídeos na internet, como Chris Harris, Tiff Needell e Jethro Bovingdon, por exemplo. Seus estilos de reportagem são bastante parecidos: focam no entusiasmo que o carro desperta neles, a ponto de fazerem caretas de felicidade e demonstrarem êxtase na frente das câmeras. Isto é ou não é tão Top Gear? Não é à toa que estes jornalistas são tão reconhecidos por seu trabalho.
É claro que o humor escrachado do trio Jeremy Clarkson, Richard Hammond e James May contribuiu bastante para o Top Gear se tornar um sucesso mundial, mas muitas pessoas tomaram conhecimento do programa através das declarações polêmicas, piadas de gosto duvidoso e supostas injúrias raciais de Clarkson. Se algumas destas pessoas se tornaram espectadoras assíduas do Top Gear, isto já é outro assunto.
No entanto, parece-me que várias destas pessoas só assistem o Top Gear para saber qual será a próxima declaração bombástica de Jeremy Clarkson que ganhará matérias (ou capas) de jornais, tabloides ou sites de fofocas. Até então, o departamento jurídico da BBC conseguia "segurar as pontas" para Jeremy Clarkson, mas uma agressão física a um colega de profissão em ambiente de trabalho é algo indefensável. Ou pior, este incidente poderá se tornar caso de polícia.
Então, se você é destes que jogaram toda a culpa no incidente em Oisin Tymon, saiba que nem Jeremy Clarkson chama a razão para si, tanto que ele mesmo reportou aos diretores da BBC o que aconteceu, e Oisin Tymon sequer prestou queixa. Além disso, Richard Hammond e James May dão a entender que preferem sair junto com Jeremy Clarkson do que renovarem seus contratos com a BBC. Ou seja, podem dar a entender também que estão coniventes com o que Jeremy fez ou que estão extremamente solidários com um cara que os chama de "baixinho" e "perdedor", e que o denominam um "idiota", mas, acima de tudo, são muitíssimo amigos.
Entretanto, além do Top Gear, Richard Hammond e James May trabalham em outras produções curtas da BBC, como "Hammond and Humphries", "Science of Stupid", "Wild Weather", "James May's Cars of the People", "James May's Man Lab" e "Things You Need To Know". Caso saiam da emissora, estarão abrindo mão disto também. Contudo, tudo é negociável.
Eu sempre tive a opinião de que o Top Gear é um programa sobre carros, não sobre apresentadores milionários que fazem piadas a respeito dos carros, ou eventualmente pessoas, colegas de profissão, diferentes culturas ou brincadeiras de gosto duvidoso. Eu sempre acreditei que os protagonistas do Top Gear são os carros, os apresentadores nunca deveriam roubar a cena.
O atual formato de Top Gear é uma criação de Jeremy Clarkson e Andy Wilman, seu amigo de adolescência, padrinho de casamento e colega no antigo formato do programa. Há alguns anos a dupla vendeu os direitos do formato do Top Gear à BBC. Embolsaram uma fortuna com isso, mas Clarkson e Wilman ainda detêm os direitos sobre a marca e o nome "Top Gear". Isto significa que eles podem criar um novo programa com o mesmo nome, mas não exatamente com o mesmo formato.
Os três apresentadores ajudaram a formar o "DNA" do Top Gear. No entanto, todos sabemos que eles não vão viver para sempre, e algum dia teriam que deixar o programa, seja por motivo pessoal ou de força maior. A BBC apenas antecipou o momento de um deles. Se compararmos este fato com a Teoria da Evolução de Charles Darwin, é como se Jeremy Clarkson transmitisse seu legado para o futuro apresentador que assumir o seu lugar. Isto, é claro, se isso realmente acontecer.
A BBC pode continuar a produzir o seu programa automotivo do mesmo jeito que é feito até hoje, no entanto, não poderá mais chamado "Top Gear". Ao mesmo tempo, se Richard Hammond e James May arriscarem um novo formato de programa com Jeremy Clarkson, mas com o consagrado nome que os fez famosos, correr-se-á o risco de a atração, do modo como for conduzida, não cair no gosto do público. Caso Jeremy Clarkson continue com seu estilo politicamente incorreto, vai precisar de um departamento jurídico tão bom quanto o que a BBC lhe disponibilizava.
Quem sabe, também, se Jeremy Clarkson, Richard Hammond e James May resolvam "jogar tudo para o ar" e partir para outras empreitadas, talvez darem uma aposentaria a si mesmos? Afinal de contas, os três são muito ricos, podem comprar os carros que quiserem, levar a vida que gostariam.
Se levarmos em conta tudo isto, o Top Gear pode continuar como está com outro nome, ou um novo programa surgirá com o nome Top Gear. Ou pior. Se o Top Gear deixar de existir como um todo, como sou fã, ficarei aborrecido, logo agora que a BBC resolveu investir forte em mídias sociais, a ponto de criar o canal oficial do Stig no YouTube, com voltas onboard e muito mais.
No entanto, sempre haverá opções na televisão ou internet para praticar o autoentusiasmo. É só uma questão de ponto de vista.
PRESS RELEASE
BBC Director-General's statement regarding Jeremy Clarkson
Date: 25.03.2015 Last updated: 25.03.2015 at 14.00
Category: BBC Two; Factual; Corporate
Tony Hall, the BBC Director-General, has today released the following statement regarding Jeremy Clarkson.
It is with great regret that I have told Jeremy Clarkson today that the BBC will not be renewing his contract. It is not a decision I have taken lightly. I have done so only after a very careful consideration of the facts and after personally meeting both Jeremy and Oisin Tymon.
I am grateful to Ken MacQuarrie for the thorough way he has conducted an investigation of the incident on 4th March. Given the obvious and very genuine public interest in this I am publishing the findings of his report. I take no pleasure in doing so. I am only making them public so people can better understand the background. I know how popular the programme is and I also know that this decision will divide opinion. The main facts are not disputed by those involved.
I want to make three points.
First – The BBC is a broad church. Our strength in many ways lies in that diversity. We need distinctive and different voices but they cannot come at any price. Common to all at the BBC have to be standards of decency and respect. I cannot condone what has happened on this occasion. A member of staff – who is a completely innocent party – took himself to Accident and Emergency after a physical altercation accompanied by sustained and prolonged verbal abuse of an extreme nature. For me a line has been crossed. There cannot be one rule for one and one rule for another dictated by either rank, or public relations and commercial considerations.
Second – This has obviously been difficult for everyone involved but in particular for Oisin. I want to make clear that no blame attaches to him for this incident. He has behaved with huge integrity throughout. As a senior producer at the BBC he will continue to have an important role within the organisation in the future.
Third – Obviously none of us wanted to find ourselves in this position. This decision should in no way detract from the extraordinary contribution that Jeremy Clarkson has made to the BBC. I have always personally been a great fan of his work and Top Gear. Jeremy is a huge talent. He may be leaving the BBC but I am sure he will continue to entertain, challenge and amuse audiences for many years to come.
The BBC must now look to renew Top Gear for 2016. This will be a big challenge and there is no point in pretending otherwise. I have asked Kim Shillinglaw to look at how best we might take this forward over the coming months. I have also asked her to look at how we put out the last programmes in the current series.
Notes to Editors
A summary of the findings of Ken MacQuarrie's investigation is available to download here.
BBC Press Office
Investigation findings - Ken MacQuarrie
On 9 March 2015, Jeremy Clarkson reported to BBC management that he had been involved in a physical and verbal incident with Oisin Tymon, the producer of Top Gear, at the Simonstone Hall Hotel, North Yorkshire, whilst working on location. The incident had occurred on 4 March 2015 and Jeremy Clarkson was suspended on 10 March, pending investigation.
I was asked to undertake an investigation to establish the facts of what occurred. In conducting my investigation, in line with the BBC’s usual practice, I interviewed a number of witnesses and others connected with the incident. Accounts were agreed, based on my interviews, with each participant.
Having conducted these interviews and considered the evidence presented, I conclude the following: on 4 March 2015 Oisin Tymon was subject to an unprovoked physical and verbal attack by Jeremy Clarkson. During the physical attack Oisin Tymon was struck, resulting in swelling and bleeding to his lip. The verbal abuse was sustained over a longer period, both at the time of the physical attack and subsequently.
Specific facts I have found as part of my investigation are as follows:
- earlier on 4 March, studio recording of Top Gear had taken place in Surrey and the presenters had travelled that same evening to the location shoot in North Yorkshire;
- the incident occurred on a patio area of the Simonstone Hall Hotel, where Oisin Tymon was working on location for Top Gear;
- the physical attack lasted around 30 seconds and was halted by the intervention of a witness;
- it is the case that Oisin Tymon offered no retaliation;
- the verbal abuse was directed at Oisin Tymon on more than one occasion - both during the attack and subsequently inside the hotel - and contained the strongest expletives and threats to sack him. The abuse was at such volume as to be heard in the dining room, and the shouting was audible in a hotel bedroom;
- derogatory and abusive language, relating to Oisin Tymon and other members of the Top Gear team, continued to be used by Jeremy Clarkson inside the hotel, in the presence of others, for a sustained period of time;
- it is clear that Oisin Tymon was shocked and distressed by the incident, and believed that he had lost his job;
- following the attack, I understand that Oisin Tymon drove to a nearby A&E department for examination;
- over the subsequent days, Jeremy Clarkson made a number of attempts to apologise to Oisin Tymon by way of text, email and in person; and
- it is the case that Jeremy Clarkson reported the incident to BBC management.
It was not disputed by Jeremy Clarkson or any witness that Oisin Tymon was the victim of an unprovoked physical and verbal attack. It is also clear to me that Oisin Tymon is an important creative member of the Top Gear team who is well-valued and respected. He has suffered significant personal distress as a result of this incident, through no fault of his own.
Postar um comentário